Razões

Ninguém pede nascimento
Mas todos temem a morte
E a busca de conhecimento
Não é definida pela sorte

As antigas verdades
Hoje não passam de piadas
E o que agora são realidades
Amanhã serão fachadas

Todo mundo esquece
Daqueles famosos que conquistaram o mundo
Mas ninguém deixa de se lembrar
(Não dá pra esquecer) De quem conquistou nossos corações

A cabeça inteira apodrece
Quando perde-se a voz e fica mudo
Pois todos querem se expressar
E viver... sem mesmo conhecer as razões

Simples Emoção

Se você procurar
Sabe onde estou
Estou do seu lado
Estou...

Se me encontrar
Sabe o que fazer
Estou do seu lado
Pode ver...

Se se apaixonar
Sabe quem amar
Estou do seu lado
Pode acreditar...

Se me abandonar
Sabe o resultado
Pode ter certeza
Ainda estarei do seu lado.


Porque só existe proeza
Em quem, de fato
Esquece o murmúrio da tristeza
Para viver o abstrato

A vulgar beleza
Se torna efêmera
Quando se conhece a verdadeira flor

É com leveza
Que se queima
O calor ardente do amor

Vozes

Elas sussuram aos meus ouvidos
E eu ouço
Escuto sonidos
Me faço de escondido
Me encontram em qualquer lugar

Vozes me indicam
Minha verdade, somente minha
Vozes me indicam
Meu caminho, somente Meu

São as vozes da saudade
O destino não aconteceu
São vozes da sanidade
De um caminho que se perdeu

Eu procuro um esconderijo
Mas as vozes me encontram
Eu tento me afundar em idéias
Mas as vozes me sussuram lamentos
Como um conjunto de sofrimento
Sofrimentos.

Eu procuro um campo rijo
E as vozes me encontram
Eu tento me esconder no lado mais escuro
Mas elas me jogam no muro
Sussuram
Sussuram...

E eu me mantenho ao escudo
Porque sou surdo
E não consigo chorar

Eu me mantenho de luto
Porque nesse mundo
Aprendi a matar

Eu me enterro na cova
Porque meu futuro
Merece apagar
Minhas memórias sofridas
Minhas idéias iludidas
Minha paz ardida
Minha vida

Meu ar.

Escuro

Os sonhos
São como miragens
De saudades ou de futuros

Os sonhos
Nos dão asas
Nos fazem voar

Os sonhos
Nos dizem o que queremos ouvir
E o que queremos falar

Os sonhos
Nos dizem onde devemos seguir
E como devemos andar

Os sonhos
Não nos colocam para dormir
São nós que nos colocamos a sonhar

E sonhamos sempre uma irrealidade
Tão utópica quanto real
Tão mentira quanto verdade

Os sonhos nos fazem fugir
Do conhecimento
Nos levam aonde o vento
Poderá nos carregar
Os sonhos não podem mentir
Pois não há ressentimento
E nem uma verdade para mudar
É apenas a mistura dos acontecimentos
Da vida que devemos seguir
À vida que queremos levar
E é muito melhor se iludir
Com uma mentira pra sonhar
Do que esperar sempre o fim
Com medo da sorte que nunca virá

Bravo

Os minutos da verdade se apoiam ao desconhecido
Tantos milhares mortos, esquecidos
Os bravos nunca cortejaram a alma mais nobre
Caçoavam da sorte de uma vida efêmera
Diante da ilusão em que viviam, pensavam errado
Não sabiam da própria ingenuidade,
Caçoavam da liberdade
Não conheciam a tão distante realidade
Que se aproximava, passo a passo
Deixando marcas, que desapareciam sozinhas

Os bravos sempre nadavam no mar
Parados.
Os bravos só sabiam amar
Armados.
Os bravos diziam seus nomes
Vanglorizavam suas iras
Mas se perdiam na fome
De suas próprias mentiras

Os bravos não sabiam que o infinito
Está na ponta cega de uma arma
Os bravos pensavam que o sol iria se pôr normalmente
Depois de uma carnificina de sangue quente

Os bravos colocavam acima de seus peitos
A coragem
Os bravos riam irônicos de seus defeitos
À margem
Do preconceito
Sem o mínimo direito de jamais
Proclamar
Paz

De Volta

Quem diria
Que as flores novamente desabrochariam
Ao meu leito

Quem diria
Que a vida novamente se fortaleceria
Em meu peito

Quem diria
Que o céu novamente se abriria
Tão perfeito

Quem diria
Que eu encontraria alguém como você
Com teu jeito

Dia pós dia
Percebo a alegria de viver feliz
Noite pós noite
Uma nova harmonia
Como sempre quis

Sigo agora a minha via
Crente de tudo que fiz
Risco com meu giz
O quadro negro de sua valia

Cego-me à ilusão de teu sonho
Mas não perco a visão
Surdo-me à ilusão de tua voz
Mas é forte minha audição
Calo-me no doce de teus lábios
E vivo novamente a sensação...
De um amor completo
Sem desconfiança
Com esperança que dê certo
Sem complicação
E o deserto se torne floresta
De fauna e flora
Vou viver minha vida agora
Não com o que me resta
Mas sim com quem realmente presta

Ainda vivo, sei andar
Ainda leve, sei pesar
Na sua consciência

Ainda me esquivo do teu olhar
Porquê tenho medo do apaixonar
Tanta inocência

Ainda há o que saber
Ainda há a quem gostar, realmente
Mas contigo quero viver
Contigo quero aprender, novamente
A amar.

Eu.

Eu sou aquele que você nunca entenderia
Nem de primeira, nem de segunda-feira
Eu sou aquele que ri de tudo, mas calado
Eu sou aquele que chora lágrimas secas

Eu sou tudo o que você não imaginaria
Eu não tenho rótulos nem pré-conceitos
Eu vivo mundos de poesias
Eu sou o mais errado dos direitos

Eu sou o inventor da profecia
Eu sou o criador de minhas crenças
Eu amo pessoas sem valia
Sou curador de falsas doenças

Eu crio ilusões inesquecíveis
Eu tenho comigo doces iras
Eu falo mentiras sob verdades
Eu crio verdadeiras mentiras

Eu pareço um monte de merda cagada
E pode ter certeza, sou isso sim
Mas se tu saber quem sou
Verás que és igual a mim

Rede Bobo

Áspera forma cortante de triste objeto
Que calcula imagens, caixa eletrônica
Define o real numa irrealidade irônica
Transformando crianças em subjetos

Corroe em nus programas faces de beleza
Determinadas unicamente pelo inventor
Não o que investasse o mundo nem o temor
Mas aquele que destrói a própria natureza

Olhos abertos, mentes fechadas
Cubículo de luz, gente manipulada
Sonhos perdidos em fés transformadas
Galegos mulatos conscientes então
Sempre unidos em sarcástica comunhão
Que triste objeto... é a televisão

Mas errado estás, quem pensa ao certo
Que tevê é concreto, intensa manipulação...
estois a dizer que és serene o deserto
Pois quem se deixa manipular é a população

Mesmo que mesmo.

Tudo está distinto
Num dia sou pó, no outro sou mar
Não sei onde ir, nem como andar
Mas sei quem seguir, e quem agradar
Pois tenho paixões a quem sempre amar
São amigos ilusões, são deuses do ar
São unidos, canções, que me fazem vibrar

Mesmo assim estou pó
Pois não tenho as bases
Meus problemas me fazem
Estar sempre tão só

Mas nem que a lua desabe
Na arcada da emoção
Posso estar frio, quem sabe...
Mesmo assim, estou são

Livre de mágoas
Livre da escuridão
Preso nas águas
Preso à paixão

Livre de tudo
Um mar solidão
Tão só quanto em luto
Tão sim quanto não

Rédeas

Rédeas sem mãos pra guiar
É um alazão sem poder andar
E corre solto pelo ar, pelo mar
Onde não há quem segurar

Rédeas de mãos humanas irão matar
Guiarão até a morte chegar
Guiarão bêbados contra o desejar
E desejarão a mais do que possa lhes dar

Rédeas de mãos ignorantes podem levar
Até o céu a voar, ou inferno a queimar
Farão das guias algo incalculável
Descerão do alazão para chorar
Lágrimas que ardem no chão
No chão do mar

Rédeas guiadas pelos conscientes
Matarão ainda mais gente
Cederão lugar para outras mentes
Aniquilarão o mundo inteligente
Transformarão num mundo diferente
Sem humanos pra guiar
Sem cavalos pra correr
Sem ignorantes a chorar
Sem vida pra viver

E mesmo se tal dia chegar
Não estarei aqui para ver
Pois já desci do alazão pra chorar
E percebi que não preciso dele pra correr
Usarei minhas pernas pra andar
E as rédeas serão você
Assim o céu não me comerá
Nem o inferno irá me arder
Meu próprio caminho irei guiar
E o infinito conhecer

Govreino

Figura explícita, alma implícita
Célebre cálice, divina côrte
Espadas longas, cavalos reais
Mortais cavaleiros, damas fatais

E o timbre da voz não cala o espanto
Corre-se o manto desse teatro fantasia
É de intensa harmonia a vil dor, o encanto
Que em desgraça se transforma em terrível agonia

Não se percebe as sombras do castelo glorioso
Que de estrutura pondera num sol tão formoso
E à noite se reserva para as artes do bondoso
Rei que clama a morte impiedosa de teu excluso

E não há justiça nem em pró do tribunal
Que tão se iguala aqui no século atual
Não há talvez primores em arte pela vida
Apenas a dor no peito, não de amor, de ferida

O sol escurece ainda mais cada dia
A alma endurece o coração da alegria
Os prantos emudecem o pano de sangria
A vida apodrece em intensa euforia

Já não há além do mais vida após morte
Resta-se agora enfrentar o castelo com espada
Enchendo-lhe de raiva e um orgulho em faixada
Pois agora a glória se resume na sorte

Não há mais castelos, nem cavalos reais
Apenas mistérios, desvios de capitais
São tantos valérios, senados federais
Que já não há mais a paz, apenas cartaz
Mostrando a face dos célebres reis
Tão vis falácias, ridículas leis
A fé se transformou em comércio legal
Esse é o castelo... do século atual

Possibilidade

Rezo-me ao mar onde prego-lhe canções
Vendo-lhe minha alma como vendo as emoções
Cedo-me à ti então arcado estas prisões
Onde corre-se em mim o doce mel de suas paixões

Mesmo em árdua dor contínua percorro são este caminho
Fosse leve o frio que me abate quando eu estou sozinho
Ao qual me gusto de sabor o calor quente de seu ninho
Seduzir-me-á tão macio delírio de teu corpo quanto o vinho

Queimo-me em brasas sob imagens raras de sua beleza
Não há, pois sei, na natureza, tão leve canora ilusão
A raça que me impôe um forte instinto tal como um cão

Me rege, domina, és tão fina e bela a sua pureza
Tal que me castiga o destino de não poder resistir
À tua flecha, certeza, de que o meu coração irá ferir

Será que estou podendo novamente sentir
O poder da paixão que luta presa a mim?
Ou será que preciso buscar outra má proeza
Que defina em mim a fragilidade da minha defesa?

Horas

Eu aprendi com o tempo
Que o vento leva tudo
Num dia podes falar
No outro estarás mudo

É o tempo que vai e não volta
Não dorme, não cheira, não sente
Quem sente o tempo presente
Perde o futuro, empobrece a mente

Tem horas que não paramos de pensar
Noutras, pensamos que paramos
O tempo não muda, nem mesmo onde estamos
Mas na vida não há como parar

Tem horas que damos de cara ao muro
Tem horas que esquecemos o futuro
Tem horas que o mundo fica absurdo
Tem horas que ficamos: cego, surdo e mudo
Tem horas que esquecemos do mundo

Tem horas que preferimos estar horas atrasado
Só para não ter
Que uma outra amar

Tem horas que esquecemos de olhar as horas
Só pra fazer
O tempo parar

Tem horas que decidimos trocar de relógio
Só pra poder
Algo mudar

Tem horas que o corpo adoece
Mas a mente continua a viver
É quando o tempo dá um tempo
Para lembrar de você
E o passado se torna vento
Que vai e volta sem querer
Vai chegando sem constrangimento
Para te fazer entender
Que o futuro é afirmamento
Do presente que estás a moer
Que o mal do sofrimento
É frágil: dá pra esquecer
Mas para isso, requer um tempo
Tão paciente quanto você
Se puder plantar conhecimento
Muita oportunidade: irá colher

Quanto menos quiser
Mais o tempo é lento
Quanto mais se quer
Bem veloz passa o vento

Ninguém sabe qual é
O segredo do tempo
Mas só basta ter fé
E fortalecimento
Para enfrentar o que der
Sem triste lamento

Pois à vida eu não me sento
Faço tudo o que puder
Os problemas enfrento
Sem medo do que vier

Não me deixo abater por tristes tormentos
Eu faço da vida
O que ela quiser

Não me deixo sofrer por vis pensamentos
Eu curo a ferida
E fico de pé.