Vertigem Maria

Arde a brasa em rouca chama
Quente é o fogo em quem te ama
Frio desejo invade a trama
Quando à cama põe-se em coma

Noite a noite e nenhum dia
É o dia-a-dia desta senhora
Que vive em lua a toda hora
E só se cansa quando está fria

Perde a linha, esquece o rumo
Nem o fumo trouxe à tona
A tal saudade da sua memória

Vem sem dono, vai com tantos
Fica em prantos se algum chora
Porque relembra a sua história

Ação X Reação

Os chamados Revolucionários de Sofá já cresceram marcas, destruíram empresas, adaptaram leis, idealizaram projetos, cancelaram patrocínios, incentivaram novas políticas, prenderam criminosos e até eventos hipócritas foram ridicularizados com um simples clique. Tudo isso serve para ter certeza que ações via Face funcionam muito bem. O que não funciona é reclamar de quem as faz. Aliás, de mimimi este país tá cheio. E, nas barreiras contra os militantes, fazem parte não só os algozes, mas outras próprias vítimas que só sabem julgar... também sentadas num sofá. Aqui, vale a máxima: "se não sabe ajudar, não atrapalhe".

Genérico de Tarja Preta

O tempo é um genérico de tarja preta.

É uma cura sofrida. Ele deixa a dor latejar sem anestesia. Envolve o corpo e domina a mente, mas nada faz para aliviar. A aflição é um sintoma. Faz-nos perceber o erro em nosso organismo social. A memória é um hematoma e dói bastante quando a tocamos. As lágrimas são possíveis efeitos colaterais. Porém, sortudo é aquele a quem elas põem-se a cair, pois acalma a dor física enquanto a consciência promete explodir.

O tempo é o mesmo para todos. Mas cada um de nós reage diferente. Não há relógio que consiga, na parede ou no pulso, fazer o tempo ficar ao nosso lado. Ele nos odeia. Odeia nossa incapacidade de aprender imediatamente. Odeia a desorganização em que o submetemos no dia-a-dia. Odeia nossa vontade de controlá-lo e a pouca vergonha de acharmos que o temos sob controle. Assim, ele revida. Passa veloz quando queremos pará-lo e lento quando queremos passá-lo. Consome cada gota de nossa resistência e desafia nossa paciência.

Apesar de cruel, é um cavalheiro. Quando reconhece a superação, ele deixa a dor passar. Se aprendemos a causa e a consequência do fato, o tempo resolve nos curar. Antes disso, muitos lamentam, outros enlouquecem, alguns se enfurecem e uns tentam ignorar. Contudo, tudo só passa quando questionamos o que fizemos e decidimos o que fazer. Paciência é a única virtude esperada pelo tempo. Pra chegar nela, sofremos. Tentamos ignorar, nos enfurecemos, enlouquecemos e lamentamos. É um processo longo, chato e dolorido. Entretanto, ele só libera o futuro e descansa o presente quando compreendemos nosso passado.

O tempo é um remédio que só cura seus pacientes.

A um Fio do Fim

À fachada sigo em frente
Apertado ao nosso rumo
Sigo triste e tão ausente
Na calada me arrumo
Vou enfim, mas não ao fim
Despacho-me, então sumo
Protegido, mas descrente
Peço a mim ser diferente
Desapego do consumo
De um vício transparente
Que me afoga neste mundo
Onde mora a minha mente

Prefácio do Futuro

Sem força não devo perder meu intuito
Porque se há pouco quem me dera então se fosse muito
No vago eu vago e não sei se é pleno
O desejo que mata a minha boa vontade

Ela vem sempre antes me falando somente
Dessa triste dor de quem espera a saudade
Como um soco que avisa o que há pela frente
Mas nunca acalma o susto da realidade

Não conheço o desespero
Nem espero trazê-lo
A mim eu só confio em ter a certeza
Que estão por vir muitos bons momentos

Se não houver clareza
Me apego a terceiros
Que expliquem a proeza de meus sentimentos
E me indiquem o melhor fim destes tantos meios.

Esgoto-me

Laço o outro com discurso
Falo antes e escuto
Ouço claro e me atenho
Um percurso curto e culto

Curto a voz do inimigo
Ouço ideias já dispostas
Faço a mim um novo amigo
Quando expressa uma resposta

Já não aceito mais o surdo
Nem que esteja só ouvindo
Minha paciência tá sumindo
A quem preza pra ser mudo

Na intriga me acanho
Saio são de quem é vão
Quando falta opinião

No calor de meu deserto
Dou valor só ao esperto
Que respeita a discussão

Calado, estás errado

O silêncio dos que têm medo de estar errado dá mais volume aos gritos de quem anseia estar correto. No final das contas, quem se cala já errou - ao achar que o erro é o fim da solução, quando na verdade é a ferramenta dos espertos.

Culto Material

Quando o inverno chegar
E não mais eu lhe ver
Me desculpe tentar
Procurar por você

Mas difícil é esquecer
De quem pude amar
Se pra ti já não dá
Só me resta sofrer

Então me deixo levar
A mentir pra você
Lhe dizer que se vá
Ficarei bem sem lhe ter

Só espero lembrar
De não se arrepender
Pois quando o sol me cegar
E o inverno acabar
Estarei com você
Sem comigo estar
Perdido em querer
Contigo voltar