Duas e Meia do Amanhã

Hoje eu tive um sonho
Muito fácil de entender
Que não me deixou dormir

Não sei bem se era sonho
Na verdade, quero dizer
Não sei nem se eu sorri

Ou a fantasia me fez crer
Que, no meu sonho, eu vivi
Tão mais feliz ao conhecer
Tão mais sincero ao me iludir

E acordei sobre o vazio
Não entendendo a amplidão
De tanto amor, por que sozinho
Me sinto agora ao meu colchão?

Já foi mais fácil viver a mim
Sem quem firmar elo união
Mas com esse sonho, redescobri
Que o meu desejo é um coração
Capaz de ouvir e me sentir
Sem intuito de me possuir
Mas possuindo minha paixão

Eu acordei e não entendi
Se sorri ou lacrimejei
Porque, de fato, eu mesmo sei
O quanto espero por ser feliz
Com um alguém que eu sempre quis
Mas nunca ao menos encontrei

Agora volto a dormir
Sem medo do que irei sonhar
Pois a emoção que me faz rir, também me faz chorar

E, não que chegue a incomodar,
Mas é tão chato esperar aqui
Por um coração capaz de ouvir, me possuir
Me apaixonar

Expresso Amigo

Se é difícil de pensar
Atue às horas em que for feliz
Quando é difícil de agir
Pense naquilo que você sempre quis

Porque é mais fácil refutar
A própria vida quando ela não diz
Os caminhos que lhe fazem procurar
Por um atalho inexistente aqui

Se o poder do seu instinto
Saber olhar sem se perder
Lhe fará tudo conhecer
Desde uma nota a consoante

Se o almejo da luxúria
Fazer do pobre uma lamúria
Já não és rico de entender
O quanto o nada é bastante

Se falta luz para você
Não culpe a lâmpada queimada
Que continua sempre acesa
Mesmo aparente apagada

Pois fora a própria ansiedade
Sua que ligou com intensidade
A luz tão forte da verdade
Tornando cegos os seus olhos
E surda a sua capacidade
De intuir

Já não demora a possibilidade
De arcar com os erros da sua idade
De olhar pra frente sem ansiedade
Deixando pra trás a sua estante
Cheia de fotos de farsantes
Que irá ruir

Se for mais fácil pra mudar
Prepare tudo antes de olhar as horas
Para não agir sem demora
Para entender o que o aflora
E saber crer no que lhe salva
De todo perigo que, lá fora
Parece doce mas lhe salga
Ou de tão vil já lhe devora
Sem tempo para reagir

Se perde o fruto da saudade
Esquece as mágoas que permutam
Entre a tristeza que lhe dão
E a certeza que lhe roubam

Se ganha o fruto da amizade
Floresce as mãos que lhe ajudam
Bem carregadas de paixão
Capaz de amarem a quem lhe encantam

Com muita dó e piedade.

Braço Amigo

A vontade que me agarra
Muitas vezes é de praxe
Saber de amores e desastres
Dos meus grandes amigos

Queria sentir, à amizade
O que aflige meus corações
Para ajudá-los a todo momento

Falo em plural, pois é verdade
Meu peito bate várias canções
Tanto amor quanto sofrimento

Quero estar sempre por perto
Quero pode viver contigo
Se eu não sei quando estou certo
Só saberei num braço amigo

Não pense nunca em esquecer
Todo o bem que já vivemos
Se for difícil entender
Basta ver
Que nós crescemos.

Flecha Sem Direção

Quero uma ocupação
Que me faça esquecer
Do cotidiano resquício
Quero um coração
Que bata mais forte
E não sofra o explícito
Momento de afastar-se do vício
Momento de arraigar-se à sorte

Sinto estar repleto sem o completo
Sinto-me dizer que sinto me dizer
Sinto olhar à frente e esquecer
Porque já não sinto mais prazer

Penso estar ao norte quando o sul vem atrás de mim
Confunde-me o caminho que já desisti
A ordem entre o querer e precisar desequilibrei
Já me perdi

Queria um coração forte para me fazer seguir
Queria não arcar com a fragilidade do sentir
Podia deixar de lado o que já sofri
Mas a flecha insiste em me ferir

Se eu soubesse onde estão os atalhos
Para chegar mais rápido ao longe
Não escolheria o mesmo rumo de sempre

Se eu esquecesse os retalhos
Para não embelezar o monte
Escolheria um rumo diferente

Queria um sinal
Que me aponte você
Queria descobrir
Onde lhe conhecer

Estão me atingindo com flechas, sem ponta nem direção
Queria ao menos um rumo para encontrar seu coração.