Reflexão Instantânea

Eu sigo ouvindo vozes
Mas não sei de onde vêm
Eu caminho passos lentos
Para aguentar meu peso além

Esperei um minuto de minha vida
Atravessando a dor da lembrança
Parado ao vento, sem esperança
Parado no tempo, desde criança

Escrevi diversas palavras sem nexo
Desenhei na areia para sumirem
Recriei em terra o azul do mar anil

Depois escrevi na pedra para fincar
E ao reler me senti perplexo
Com tal maturidade infantil

Eu tive a certeza de um futuro
Como se conhecesse o tudo além do muro
Eu nunca me liguei de verdade ao agora

Eu criei uma destreza em sussurro
Como se assobiasse o tudo como um mudo
Eu nunca me peguei olhando as horas

Hoje me pego sensível ao redor do mundo
Mesmo no melhor dos sentimentos eu choro agudo

Eu choro agudo.

Culpa e Suicídio

Quando ele chegou no topo
Escreveu seu nome num casco
Salientando sua história de vida
E então desceu o penhasco

Desceu tão rápido e forte
Como se estivesse caindo
Desceu tão veloz o monte
Enquanto seu pensamento ia sumindo

Caiu numa estrada ao longe
Percebeu no braço um corte
Rasgou em si a própria memória
Tatuou no rasgo a imagem da sorte

Mesmo tendo esperanças
Ele parou ao meio da estrada
Pedindo morte

Vindo um caminhão, abriu os braços
Tal estrutura que não era seu porte
Levou um trombo e ficou em pedaços

Justamente por suas lembranças
Ele parou no meio da estrada
Pedindo que o nada
Venha lhe buscar

Foi-se mais um indivíduo ao além
O que aconteceu ninguém sabe
Mas foi numa noite calada
Que ele aprendeu a matar

Matou a si mesmo e virou assassino
Do próprio amar

Viveu a si mesmo e tornou-se egoísta
Com seu familiar

Ninguém merece, no suicídio, manter a culpa
De um outro alguém
A quem, com desdém
Jogou-se pro ar

Terráqueos

Há tipos de pessoas da qual, não se espante,
São quem a verdade constrói sob gélido frio
E não espera alimentar aquele, certeza,
Que está (pura avareza) tão distante
Do vazio

Estas pessoas procuram moeda no ar
Se enrijecem ao sentir na rua
Que passaram rente a uma criança nua
E esqueceram (?) de olhar

Tais pessoas preferem não argumentar
Com indivíduos baixa renda
Pois sentem a dor de uma encomenda
Sem correio a colocar

Mas nem por isso saem andando
Param à frente e olham por cima
Levantam o papo e erguem a crina
Para mostrar um ângulo diferente
De demente

São estas pessoas que preferem não dizer o nome
Fingem haver uma solidariedade interna
Mas então depois de visitarem a 'guerra'
Logo o prazer da humildade some

São donos de terra
Que amam o que come
São o lado contrário da serra
E o lado errado da fome

Violão (música)

A história do Universo está vazia
Em um desconexo
A alma jovem se complica
Nas noites de sexo

A lua morna
Se esquenta
E orienta
Quem namora

Tudo o que avançou
É magia
Da pureza
Da ciência

Tudo se transformou
Na folia
Da tristeza
E da clemência

A vida tão esperta
Tão nua e tão deserta
Cria sombras que calam o infinito
Do sol mais bonito

O desejo de quem apaga as velas de aniversário
É algo secreto
E o olho de quem vive mais um ano à frente
Se fecha e espera ser atendido

O beijo que eu roubei dela
Foi falsário e discreto
E o molho que dá sabor à minha mente
Seca a minha cabeça quente
No inferno

Geração

Os minutos tão lentos passam
Como se o o tempo parasse
A velocidade se torna um disfarce
Dos segundos que se laçam

Nada é tão veloz quanto o pensamento
Nem tão lento

Os enamorados vivem como um só
Prendem-se um ao outro
Como se prende um nó
Mas nem sequer passa um mês
E esquecem de vez
O sentido do casamento

Os jovens alados vivem como
Se nunca fossem morrer
Fincam-se num conceito ilusionário
É como se esquecer de quem és
Olhando ao espelho o próprio disfarce
Sem um sentido passado que o realce

Os velhos casados vivem como
Se estivessem à espera da morte
Fingem esquecer da sorte e do prazer
De deliciar-se com mais um ano de velejo
Fingem não ter mais forças para sonhar
Mas se surpreendem com o último beijo

Ninguém se prepara para amar
Mas vivem a espera do desejo
De encontrar alguém para se prender

Ninguém sabe ao certo o que é estar
Ao lado e tão perto do seu bem querer
Mas tão longe e deserto do próprio conhecer

Não Me Deixe Aqui (música)

Os meus sonhos desaparecem
Na ilusão do falso verdadeiro
Querendo encontrar um destino
Que me ame por inteiro

A minha alma envelhece
E meu coração continua quebrado
Teria eu mais outro possível amor
Que termine errado?

A lua se desfaz na escuridão
E eu a procuro numa imensidão
As sombras se tornam luzes
E a luz se esvai sob o chão

Me segure agora
Não me deixe cair
O vai e vém da nossa crise vai nos atingir

Não me importa a hora
Não me deixe sozinho aqui
Fique comigo até a lua sucumbir

O prazer se torna algo invisível
Como uma utopia da realidade
Eu ainda espero encontrar um você
Que entenda o meu bem-querer

Me segure agora
Não me deixe cair
O vai e vém da nossa crise vai nos atingir

Não me importa a hora
Não me deixe sozinho aqui
Fique comigo até a lua sucumbir

Eu ainda espero transformar a utopia
Numa verdade em que eu possa ver
Sem sofrer