Use o Cinto

Não há brilho mais no céu
Se de tudo já me perdi
Em um minuto que não vi
Aquilo próximo a mim

Não há mais o que viver
E já me pego a mentir
Que não pensei, mas sei que sim
Antes mesmo de sofrer

Acidentei-me e caí
Levei comigo o bem querer
Que a todo o tempo eu colhi
E hoje sei que destruí

Insegurança, só por isso
Relaxei e desmenti
Ri, gargalhei, muito bebi
Sem perceber meu sacrifício

Parei, sentei e fui sair
Voltar a quem quis mais de mim
Que um saco podre na estrada

Chorei, chorei, daí senti
Mas não posso me redimir
Agora sou uma vida passada

Vivo sempre ao seu lado
Ouvindo fraco a sua voz
Não mais casal, mesmo que sós
Este é o meu triste e longo fardo
Que guardarei sempre a mim

Eu sinto muito, muito mesmo
Sei que não era a hora do fim
Criei em ti a dor da mágoa

Me desespero, me desprezo
Sei que falhei quando morri
Ao misturar álcool e estrada

Eu me ignoro, mas lhe desejo
Espero mais uma chance, na esperança
De outra vida sem que eu me esqueça
De um simples cinto de segurança

Não mais eu choro, mas lacrimejo
Perdi você e as crianças
Hoje lhe olho e lhe almejo
Digo "te amo" mesmo calado
Tento um beijo, Sinto o seu cheiro
Mesmo sem você nunca mais ter usado
A nossa fragrância.

Perdi meu amor, por ignorância.

Deleite do Mesmo

Nunca se sabe como arde
Um simples sonho perdido
Do recriar de uma arte
Ao vazio do não lido

No que transparece leveza
Pesa a mais em natureza
Que um mundo imenso
Carregado de sangue tenso

E se desaparece a fortaleza
Vê-se a mim com clareza
Dói em si a tua surpresa
De me olhar à aparência

Descobre então um vil desgaste
De ideias nobres agora pobres
De pedaços ouro que viraram cobre
Sem nenhuma possibilidade de resgate

Descobre aqui a minha parte perdida
Escondida pela pele
No que ela a transfere
Amargo sabor de uma alma sofrida
Cheia de teias

E no mais triste encanto, ela morre
Sem esperanças de voltar a uma vida
Tal qual lhes fora desiludida
Pelo vermelho sangue que já não mais corre
Em minhas veias.

Semiologia

A visão de uma realidade
Posta à prática da verdade
Comum se encontra entre indivíduos

Relacionada ao signo
Trazem consigo
O significado de leitores assíduos

Destes que compõem o real
Ao próprio método usual
De si

Destes que recriam o natural
Tendo como base
O aqui

São eles que dissertam seus testamentos
Desenvolvem conceitos do vento
Para abranger a dor de um furacão

São os mesmos que só por dizer já lamento
Fazem parte do afirmamento
De um significado atrelado à ilusão

E de seus próprios ancestrais
Julgam o ritmo do conhecimento
Não pelos signos astrais
Mas sim pelos signos amostrais
Do que têm como entendimento
Eficaz.

Formigas Gigantes

Ínfimas de percepção, elas escondem
O grau de um gigantismo colossal
Aos olhos comuns do pobre homem
Escurecem a luz de uma força descomunal

Recebidas sem dor nem pena
São esmagadas sob pena de morte
Acusadas de simplesmente viver
Perto da humanidade

Às comidas todas fazem cena
Levam felizardas sobras da sorte
Armadas para simplesmente viver
Perto da tempestade

Diferente de outros animais
Que comem sem pensar
E morrem sem comer
Após o inverno começar

Com o passar dos anos evoluem
Tomam forma e tamanho
Equivalente ao raciocinar

Gigantes, destroem o mundo
Pisam o pé forte e fundo
Nos pequenos humanos indefesos
Criando uma verdadeira lambança
Desta vez, os homens, não sairão ilesos
Desta vingança.

O Negócio

Qualé da boa, diga aí irmão
Levante esta sua marra de negão
Qual é o negóxio?

Qualé de mermo, sabichão
Mostre sua cara e me fale então
Qual é o negóxio?

O negóxio, o negóxio...
Num sei o que é não.

Tá com medo, seu fudido?
Se perdeu desiludido?
Fale logo qual é o negóxio
Senão vai tomar uma porrêta!

Ok ok, não quero treta.
Sabe qual é o negóxio?

É CUMÊ CÚ E BUXÊTA!

O Dia de Amanhã

Seria preciso
Um dia sequer no tempo
Vinte e quatro horas de lamento
Para me entender

Um dia consigo
Perder a face no vento
Sentir brisa num sopro lento
Para conhecer
A mim

Resgato o lírico
Mas o Eu já não tento
Supero um sofrimento
Mas volto a saber
Que perdi

Se um novo dia surgir
Quem dirá o que virá a mim?
Quem virá e o que dirá de mim?

Se o amanhã falir
Não suportarei meu passado
Triste caminharei sobre o fim
Esperando que o chão volte a pisar em mim

Se o amanhã sucumbir
Não enfrentarei outros passos
Triste cortarei os laços
Para esquecer que nasci.

Invasões Intergaláticas

Enquanto o verde for composto
De composto químico industrial
A natureza sempre sofrerá
Frente à humanidade irracional

Carentes do próprio contexto
Esquecem de seus eixos
E continuam a devastar

Doentes do próprio ego
Prevalece o desejo
De matar

E quando menos esperarem
Virá de bem longe a voar
Uma estranha máquina à margem
Do pior ambiente de cada lugar

A Terra finalmente conhecerá
Personagens de uma galáxia distante
E gritarão, sem titubear: Avante!
Com suas armas apontarão para o ar
Distribuirão células de gás hilariante
Farão os homens rirem de si mesmo
Como sempre riram, até nunca mais parar
E o sarcasmo adulterado nesta arma
Rasgarão das faces uma careta
Transformarão em pó toda alma
Humana no planeta.

Só então, ao voltar
Esta tribo intergalática entenderá
Que depois dos homens usarem demais
A fauna e flora ambientais
O mundo estará livre finalmente
Da pior das pragas nascentes:
O ser humano.

JR

Os anos preenchem uma grande questão
A questão se há no mundo algo tão forte
Capaz de moer uma amizade sem corte
Como a nossa que sara pela compreensão

Sem medo nem dor, juntos estaremos
Como sempre vivemos distantes ou não
Pois a força que temos em nossa união
Sela o amor dos momentos bons que passamos

Não há, tenho certeza, acontecimento
Que promova algum discernimento entre nós
Desde o inicio reconheci o ideal da nossa foz:
Recomeça no ciclo do próprio nascimento

Há vinte anos, nesta data, você nasceu
Cresceu e, aos treze, conheceu a mim
Desde esse dia percebo o quanto cresceu
E por estar ao seu lado, me desenvolvi

Sem sequer uma permuta, jogo-lhe o
Desejo de muito querer que você fique
Para sempre dentro do meu coração

E já que falamos em aniversário,
No meu, comprar presente: evite
Pois já sou grato de lhe ter como um irmão.