Daqui Pra Frente

No meu caminho se encontra
Eterna sede da lembrança
Dos passos já fincados
No desgaste da esperança

Passara há tempo e não me lembro
Nem me ponho a tentar
Lembrar do piso já andado
Ou do medo enfrentado

Se a angústia me devora
Para que voltar a ela
Quando o caminho já marchado
Vai embora e nem me espera

Sigo à frente, sem cuidado
Indiferente do futuro
Pois não há muro que tão duro
Nunca ceda ao meu recado

Se o passado fosse quente
Não estaria atrás da gente
E é assim que dou um passo
Só olhando à minha frente
Para não perder meu espaço
Ou tornar-me um indigente
Sem saber que é diferente
O farto do escasso.

Ledo Início

Quando  estamos longe
Fico  bem diferente
Com  uma vontade de ter
Você  comigo

Me  desmancho em prazer
Sinto  a leveza entre a gente
Muito  suave por ser
Feliz  contigo

Quero  me perder em seu olhar
Lhe  dizer que almejo
Ver  nosso futuro
Agora

Vem  esquentar meu inverno
Me  tirar do inferno
Levar  minha dor
Embora

Cada arte: uma arte.

É injusto comparar a abrangência expressiva do texto e do quadrinho. São duas linguagens com formatos bem diferentes, principalmente pela concepção. Criar uma cena em palavras é muito mais fácil do que criá-la em quadrinhos. Escreva "chuva" e tem-se a tempestade. Mas todo quadrinista sabe a dificuldade de conceber as várias gotas d'água. Um parágrafo que levou cinco minutos para ser criado pode descrever uma cena que demorou uma hora para estar num quadrinho. A profundidade expressiva, porém, é algo bem singular entre as duas artes. A leitura, a sensação e o enquadramento são aspectos específicos a cada um - além, óbvio, do formato.

Compará-los é o mesmo de comparar o sabor da maçã e do arroz. São alimentos diferentes. Cada um possui tipos diferentes. Cada tipo pode estar bom ou ruim e, acima de tudo, cada pessoa que os comem pode ter um paladar diferente. Enquanto o texto promove uma arquitetura de informação adequada à interpretação concreta de fatos e maior imaginação visual, o quadrinho realiza o contrário. A linguagem cartunista contém a interpretação concreta visual e maior imaginação de fatos. Isso significa, portanto, que apesar dos quadrinhos possuírem menor facilidade na leitura objetiva, eles possuem facilidade maior na leitura subjetiva. São duas formas de expressão diferentes, então não há como comparar a expressividade das duas linguagens. Agora, por exemplo, me expresso em palavras para ser interpretado de forma concreta e objetiva acerca do fato. Mas se quisesse fazê-los pensar por si mesmos esta situação, faria por quadrinhos. É uma questão de escolher a ferramenta certa para concluir seu objetivo com eficiência.

Isso inclui todas as onze artes. Paremos de compará-las, pois seremos automaticamente equivocados na mesma intensidade de comparar arrozes e maçãs. Podemos preferir uma a outra, mas nunca dizer que uma delas é simplesmente melhor ou pior. A Música não substitui a Dança, que não substitui a Pintura, que não substitui a Escultura, que não substitui o Teatro, que não substitui a Literatura, que não substitui o Cinema, que não substitui a Fotografia, que não substitui o Quadrinho, que não substitui os Jogos interativos, que não substitui a Computação Gráfica. Nenhuma arte substitui a funcionalidade da outra. São expressões diferentes, linguagens diferentes.

Então, a quem clama pela "cultura indagável" do livro, entenda o valor cultural do quadrinho tanto quanto as milhares de letras do texto. A quem esbanja a "expressão indiscutível" das pinturas, perceba, tanto quanto, a expressividade de uma arte montada no computador. A quem adora engrandecer a "belíssima e incomparável" peça de teatro, saiba que um filminho no cinema pode ser tão especial quanto. Valorizar antigas manifestações culturais (o famoso "retrô) é algo muito difundido atualmente. Contudo, não sejamos chatos, arrogantes e equivocados. Cada arte é uma Arte. Compreendê-las faz parte.

Cuspi essa ideia após este post formá-la em minha cabeça.

A Arte é um Fardo

Dou a cara a beijo
Recebo tapa que não almejo
Continuo firme no desejo
Sacio a sede da opinião

Me rasgam a pele que ofereço
Batem minha cabeça ao chão
Bem quando estou disposto a usá-la
Para aprender com a discussão

De perto, uso a mão
Mas vêem apenas garras
Ao longe, pareço às farras
Daqui, é educação

Expresso aquilo que me apego
Pra criar um deserto no coração
Jogar fora minhas alegorias
Esvaziando o peito de emoção

Uns acham que arte serve pra emocionar
Serve não
A arte é um fruto puro da emoção
Serve mesmo para esfriar o calor da criação
Tirar essa agonia, essa aflição
De dentro do peito de quem se expressa
A arte tem uma relação inversa
Quanto mais permanece no artista
Mais é perversa

Por isso tento tirá-la daqui
Deixá-la livre, enfim
Sentir o frio refrescante
Após me expressar

O resto guardo para me resguardar
Pois a guarda dos opostos a mim
É maior do bem que tento passar
Bem maior.

Açúcar Cristal, Refinado, Mascavo...

Vêem-se como donos da verdade
Disfarçados de humildade
Julgam tudo o que acontece
Mas não tecem nada que julgam

Dizem controlar a própria mente
Sem nem chegar à coerência
Acham que são pura inocência
Enquanto repassam falsos valores

Para eles, nada importa
É só isso, só aquilo, só somente
Dão um passo pra trás
E suas ideias pra frente

Acham que, distante, sairão ilesos
Por não pensar como a gente
Suas ideias buscam o equilíbrio
Sob fontes desequilibradas

Se baseiam no "calma, tem que dosar"
Mas só têm tipos de açúcar pra colocar
Ao sal, são indiferentes
Seguem o comum por conveniência
E ainda acham que têm controle de sua inconsciência

Pobres jovens telespectadores.
Enquanto 300 lutam por todos nós,
A mídia joga cuspe nos combatentes
E os náufragos do sofá engolem contentes.