Cada arte: uma arte.

É injusto comparar a abrangência expressiva do texto e do quadrinho. São duas linguagens com formatos bem diferentes, principalmente pela concepção. Criar uma cena em palavras é muito mais fácil do que criá-la em quadrinhos. Escreva "chuva" e tem-se a tempestade. Mas todo quadrinista sabe a dificuldade de conceber as várias gotas d'água. Um parágrafo que levou cinco minutos para ser criado pode descrever uma cena que demorou uma hora para estar num quadrinho. A profundidade expressiva, porém, é algo bem singular entre as duas artes. A leitura, a sensação e o enquadramento são aspectos específicos a cada um - além, óbvio, do formato.

Compará-los é o mesmo de comparar o sabor da maçã e do arroz. São alimentos diferentes. Cada um possui tipos diferentes. Cada tipo pode estar bom ou ruim e, acima de tudo, cada pessoa que os comem pode ter um paladar diferente. Enquanto o texto promove uma arquitetura de informação adequada à interpretação concreta de fatos e maior imaginação visual, o quadrinho realiza o contrário. A linguagem cartunista contém a interpretação concreta visual e maior imaginação de fatos. Isso significa, portanto, que apesar dos quadrinhos possuírem menor facilidade na leitura objetiva, eles possuem facilidade maior na leitura subjetiva. São duas formas de expressão diferentes, então não há como comparar a expressividade das duas linguagens. Agora, por exemplo, me expresso em palavras para ser interpretado de forma concreta e objetiva acerca do fato. Mas se quisesse fazê-los pensar por si mesmos esta situação, faria por quadrinhos. É uma questão de escolher a ferramenta certa para concluir seu objetivo com eficiência.

Isso inclui todas as onze artes. Paremos de compará-las, pois seremos automaticamente equivocados na mesma intensidade de comparar arrozes e maçãs. Podemos preferir uma a outra, mas nunca dizer que uma delas é simplesmente melhor ou pior. A Música não substitui a Dança, que não substitui a Pintura, que não substitui a Escultura, que não substitui o Teatro, que não substitui a Literatura, que não substitui o Cinema, que não substitui a Fotografia, que não substitui o Quadrinho, que não substitui os Jogos interativos, que não substitui a Computação Gráfica. Nenhuma arte substitui a funcionalidade da outra. São expressões diferentes, linguagens diferentes.

Então, a quem clama pela "cultura indagável" do livro, entenda o valor cultural do quadrinho tanto quanto as milhares de letras do texto. A quem esbanja a "expressão indiscutível" das pinturas, perceba, tanto quanto, a expressividade de uma arte montada no computador. A quem adora engrandecer a "belíssima e incomparável" peça de teatro, saiba que um filminho no cinema pode ser tão especial quanto. Valorizar antigas manifestações culturais (o famoso "retrô) é algo muito difundido atualmente. Contudo, não sejamos chatos, arrogantes e equivocados. Cada arte é uma Arte. Compreendê-las faz parte.

Cuspi essa ideia após este post formá-la em minha cabeça.