Heroico Quebrado

Pra ti sou parte sua
Pratico a nossa vida
Então vê se não parte
Outra paixão perdida
Antes que essa ferida
Meu coração infarte

Errado Ego Regado

O galo galgou ao lago alagado e largou o largo gole de ego da guéla que havia guelado do gogó do gago por gula.

E assim se pôs a si acertado
Pois agora, enfim, estava curado
Da triste escória de não ser notado
Depois de roubar o certo do errado

Muitos de nós somos como o galo. Vivemos puxando ideias tortas, porque esquecemos de endireitar a nossa vista do horizonte. E assim continuamos: para sempre desalinhados.

Tentemos então
Antes de aceitar uma visão
Conferir se os olhos estão fechados ou não

Até que a verdade
Seja, por unanimidade
A linha correta da nossa razão

A via direta à realidade.

Daqui Pra Frente

No meu caminho se encontra
Eterna sede da lembrança
Dos passos já fincados
No desgaste da esperança

Passara há tempo e não me lembro
Nem me ponho a tentar
Lembrar do piso já andado
Ou do medo enfrentado

Se a angústia me devora
Para que voltar a ela
Quando o caminho já marchado
Vai embora e nem me espera

Sigo à frente, sem cuidado
Indiferente do futuro
Pois não há muro que tão duro
Nunca ceda ao meu recado

Se o passado fosse quente
Não estaria atrás da gente
E é assim que dou um passo
Só olhando à minha frente
Para não perder meu espaço
Ou tornar-me um indigente
Sem saber que é diferente
O farto do escasso.

Ledo Início

Quando  estamos longe
Fico  bem diferente
Com  uma vontade de ter
Você  comigo

Me  desmancho em prazer
Sinto  a leveza entre a gente
Muito  suave por ser
Feliz  contigo

Quero  me perder em seu olhar
Lhe  dizer que almejo
Ver  nosso futuro
Agora

Vem  esquentar meu inverno
Me  tirar do inferno
Levar  minha dor
Embora

Cada arte: uma arte.

É injusto comparar a abrangência expressiva do texto e do quadrinho. São duas linguagens com formatos bem diferentes, principalmente pela concepção. Criar uma cena em palavras é muito mais fácil do que criá-la em quadrinhos. Escreva "chuva" e tem-se a tempestade. Mas todo quadrinista sabe a dificuldade de conceber as várias gotas d'água. Um parágrafo que levou cinco minutos para ser criado pode descrever uma cena que demorou uma hora para estar num quadrinho. A profundidade expressiva, porém, é algo bem singular entre as duas artes. A leitura, a sensação e o enquadramento são aspectos específicos a cada um - além, óbvio, do formato.

Compará-los é o mesmo de comparar o sabor da maçã e do arroz. São alimentos diferentes. Cada um possui tipos diferentes. Cada tipo pode estar bom ou ruim e, acima de tudo, cada pessoa que os comem pode ter um paladar diferente. Enquanto o texto promove uma arquitetura de informação adequada à interpretação concreta de fatos e maior imaginação visual, o quadrinho realiza o contrário. A linguagem cartunista contém a interpretação concreta visual e maior imaginação de fatos. Isso significa, portanto, que apesar dos quadrinhos possuírem menor facilidade na leitura objetiva, eles possuem facilidade maior na leitura subjetiva. São duas formas de expressão diferentes, então não há como comparar a expressividade das duas linguagens. Agora, por exemplo, me expresso em palavras para ser interpretado de forma concreta e objetiva acerca do fato. Mas se quisesse fazê-los pensar por si mesmos esta situação, faria por quadrinhos. É uma questão de escolher a ferramenta certa para concluir seu objetivo com eficiência.

Isso inclui todas as onze artes. Paremos de compará-las, pois seremos automaticamente equivocados na mesma intensidade de comparar arrozes e maçãs. Podemos preferir uma a outra, mas nunca dizer que uma delas é simplesmente melhor ou pior. A Música não substitui a Dança, que não substitui a Pintura, que não substitui a Escultura, que não substitui o Teatro, que não substitui a Literatura, que não substitui o Cinema, que não substitui a Fotografia, que não substitui o Quadrinho, que não substitui os Jogos interativos, que não substitui a Computação Gráfica. Nenhuma arte substitui a funcionalidade da outra. São expressões diferentes, linguagens diferentes.

Então, a quem clama pela "cultura indagável" do livro, entenda o valor cultural do quadrinho tanto quanto as milhares de letras do texto. A quem esbanja a "expressão indiscutível" das pinturas, perceba, tanto quanto, a expressividade de uma arte montada no computador. A quem adora engrandecer a "belíssima e incomparável" peça de teatro, saiba que um filminho no cinema pode ser tão especial quanto. Valorizar antigas manifestações culturais (o famoso "retrô) é algo muito difundido atualmente. Contudo, não sejamos chatos, arrogantes e equivocados. Cada arte é uma Arte. Compreendê-las faz parte.

Cuspi essa ideia após este post formá-la em minha cabeça.

A Arte é um Fardo

Dou a cara a beijo
Recebo tapa que não almejo
Continuo firme no desejo
Sacio a sede da opinião

Me rasgam a pele que ofereço
Batem minha cabeça ao chão
Bem quando estou disposto a usá-la
Para aprender com a discussão

De perto, uso a mão
Mas vêem apenas garras
Ao longe, pareço às farras
Daqui, é educação

Expresso aquilo que me apego
Pra criar um deserto no coração
Jogar fora minhas alegorias
Esvaziando o peito de emoção

Uns acham que arte serve pra emocionar
Serve não
A arte é um fruto puro da emoção
Serve mesmo para esfriar o calor da criação
Tirar essa agonia, essa aflição
De dentro do peito de quem se expressa
A arte tem uma relação inversa
Quanto mais permanece no artista
Mais é perversa

Por isso tento tirá-la daqui
Deixá-la livre, enfim
Sentir o frio refrescante
Após me expressar

O resto guardo para me resguardar
Pois a guarda dos opostos a mim
É maior do bem que tento passar
Bem maior.

Açúcar Cristal, Refinado, Mascavo...

Vêem-se como donos da verdade
Disfarçados de humildade
Julgam tudo o que acontece
Mas não tecem nada que julgam

Dizem controlar a própria mente
Sem nem chegar à coerência
Acham que são pura inocência
Enquanto repassam falsos valores

Para eles, nada importa
É só isso, só aquilo, só somente
Dão um passo pra trás
E suas ideias pra frente

Acham que, distante, sairão ilesos
Por não pensar como a gente
Suas ideias buscam o equilíbrio
Sob fontes desequilibradas

Se baseiam no "calma, tem que dosar"
Mas só têm tipos de açúcar pra colocar
Ao sal, são indiferentes
Seguem o comum por conveniência
E ainda acham que têm controle de sua inconsciência

Pobres jovens telespectadores.
Enquanto 300 lutam por todos nós,
A mídia joga cuspe nos combatentes
E os náufragos do sofá engolem contentes.

Sejamos Nós

Aos fracos serei franco:
Estou no mesmo barco.
E nesse estouro que a mim arco
Digo sim ao que é novo
Ponho fim no que estou farto.

Se a vida é um saco
É porque fiz ela de plástico
Sejamos mais de nós de fato
Do que viver a sós

Pois o castigo do iludido
É estar pra sempre arrependido
Enquanto pensa mas não faz
E faz o que não pensa
Daí por essa diferença
Vive eternamente sofrido

Por si mesmo,
Incompreendido.

Ao Vento de um Lamento

Seja a verdade inconclusa
Seja diferente
Daquilo que se acusa
Ou daquilo que se tente

Não haverá por si a dúvida
Nem se houver algum vidente
Capaz de ver-lhe indiferente
De uma nova branda fúria

Quem mais dirá da gente
Senão a própria estória
Contada em glória
Contada à frente

Quem mais verá o dia
Nascer demente

Ninguém mais terá agonia
De crer-se imponente
Diante da mais louca euforia
Dum sol estridente

Salve a dúvida da alegria
Ou culpe a dor do indigente
Romances morrem sem amor
Tragédias vivem sem rancor

E ninguém se importa com a gente

Poderia ser diferente?

Um Limite à Criatividade

Pior que estar Cego, Surdo e Mudo, é resistir à visão da realidade, deixar de ouvir o que outros têm a dizer e esquecer de compartilhar aquilo que lhe dá prazer. Aí sim, tenha certeza, a sua pequena grandeza nada mais é do que pura ilusão - banhada no ego da própria compaixão. Contudo, não se preocupe. A humildade está aí para curar sua doença mental. Faça mais do que a cabeça lhe diz e, enfim, estará livre de sua prisão medíocre, entre o medo e a falta de vergonha. Se estou errado, continue a deixar de ouvir e boa noite. Se não, disponha.

Salvador, a terra do acarajé caro.

Em Salvador tudo é mais caro.
Aqui a inflação chegou e decidiu ficar. Parece que encontrou sombra e água fresca. Buzão, litrão, fogão num preço que só paga quem não tem opção. E a galera nem se rebela. Se tá caro, fazer o quê? Aqui o caro é sinônimo de chique e não de prazer. Mas quando você cai fora, meu amigo, percebe que esta cidade não faz sentido. Lá fora é tudo barato, fácil, e a mulher do caixa não cospe no chão. Eu vou-me embora, porque cansei da inflação. Meu bolso não é grande nem pequeno, mas a calça é justa. E essa injustiça de preços abusivos vai continuar para sempre, nesta cidade pouco exigente. E digo mais uma vez, minha gente: posso parecer pobre, pão-duro ou indecente - ao menos não sou ignorante, hipócrita e indolente. Se querem pagar caro, vão na frente. Eu fico aqui mesmo, detrás - e não me lenho! Pois o que feliz me faz não é ter tudo que gosto, e sim gostar de tudo que tenho.

Devaneios de Um Segundo

Pra mim chega.
Não é possível que toda esta maresia engula a minha vontade de crescer. Ninguém me dirá o que preciso para me tornar quem eu quero e posso ser. Se há frutos escondidos nesta árvore de decepção, que eu os encontre e me delicie sob um sabor de motivação. Não houve em sequer algum momento sinal de euforia neste desprezo que me amargura por pura melancolia. Se me entendo, talvez, por gente inocente, sedenta de mudanças, quem dirá quando eu me tornar alguém com quem não me importe a lembrança. Aquilo que sou se estende agora naquilo que penso viver. Mas vivo ainda pobre do que almejo conhecer. Procuro outra luz que ilumine a minha visão, sobre o caminho por qual eu ando sem que me ocorra a indecisão. O importuno que me agrada não se encontra mais em mim. Talvez eu julgue cedo demais o que parece ser o fim. Quem me dera, sinceramente, estar à frente da realidade e conformar-se de repente com a minha sensibilidade em intuir aquilo que me corresponde à precisão: onde estou não há mais frutos que me satisfaçam a digestão. E se houver ali tampouco algo que forneça claridade, me jogo em cima e sonho alto, pois estou à margem da insanidade. Quero, de vez, encontrar a mim bem como sou, sem que o fim me cumprimente, mas que enfim a minha mente esteja sana e consciente do que vier daqui pra frente. Pois meu indiferente coração pede triste por um motivo que me levante da escuridão.
Pede um caminho transparente.

Eu tenho um coração

Eu tenho um coração
Despedaçado entre grãos
Que já voaram ou se lançaram
Sob toda a multidão

Eu tenho um coração
Que nem parece de verdade
Deixado à promiscuidade
Se enfraquece por vaidade

Eu tenho um coração
Que não bombeia o meu sangue
Apenas espera que se estanque
Esta minha sede de paixão

Eu tenho um coração
Divido entre mil grãos
Perdidos sob o ar

Que se espalhou à sociedade
Sem me deixar a emoção
De amar

Quem me dera o coração
Voltar ao meu controle
Dizer-me que sou livre
Para você encontrar
E pra sempre lhe mostrar
Que não há sequer um alguém
Mais forte que detém
O meu amor a se fechar

Por você e mais ninguém.

Criação (Música)

Pode ser a luz ineficaz
Para iluminar o seu dever
Por um momento
Porém nunca será demais
Esse tempo

Por isso jamais
Se conforme em lamento
Pois a ideia virá
Com o vento
E iluminará todo o seu sofrimento
Em paz

A ideia, quem faz realmente
É o nosso pensamento inconsciente.

Humanos Líquidos

A ideia de que o ser humano adulto, por sua idade, concretiza a própria personalidade a partir do molde juvenil é incorreta, burra mentira. O homem é uma peça líquida que desenvolve sua ideologia a cada momento, mesmo que haja conceitos presos eles sempre estarão susceptíveis à mudança - que na maioria das vezes é inconsciente.

O que faz a infância se tornar o principal momento de educação do ser humano é simplesmente a vasta ignorância. Quando sabemos pouco sobre algo sempre estaremos vulneráveis às primeiras ideias oferecidas sobre este algo. Isto é facilmente compreendido quando tomamos como exemplo um cabra do sertão ignorante do contexto urbano que acaba por se assemelhar a uma criança quando frequenta a capital, vulnerável a qualquer explicação simples do que ainda não sabe.

A obviedade desta conclusão se fará clara a medida que abrirmos nossos olhares para os ajustes que fazemos conosco quando acontecem determinadas ocasiões, capazes de moldar o nosso estilo de vida. Mas não se preocupe se pouco perceber tais mudanças, pois, como disse anteriormente, muitas vezes elas são inconscientes e, infelizmente ou não, temos controle apenas de nossos atos, mas não de nosso psiquê.

A Nostalgia me fascina

A nostalgia me fascina. Não que seja importante ou necessária, mas por ser tão carregada de emoções, sejam elas boas, ruins ou vagas. E digo vago porque, tenho certeza, existem emoções vagas. Para mim, quando uma emoção não parece ser boa nem ruim, ela é simplesmente eloquente: expressiva pela natureza de despertar em nós uma sensação diferente do comum, sem trazer felicidade ou tristeza, mas simplesmente um sentimento estranho - como a descoberta de uma resposta para aquela antiga pergunta que já veio a nos perturbar e, hoje, sua resposta apenas traduz um momento de "olha, era isso!".

Nostalgia é isso, e um pouco mais. Não é somente aquela boa ou má lembrança, mas também aquela memória vaga de uma peça de quebra-cabeça que lhe faltava. Li alguns textos e alguns falam sobre a sensação nostálgica ser perigosa. Para tal acredito que sim, quando medida sob experiências extremas, como uma perda grandiosa a qual ocasionou um chato sentimento de vazio. Porém, quando medida sob experiências mornas e interessantes, a nostalgia se torna construtiva, nos desenvolve e nos prepara para o que vier pela frente. Até porque, com quebras-cabeça montados podemos definir melhor o que somos, por que viemos e para onde vamos. Através da nostalgia trazemos fontes esquecidas para preencherem o vazio de nosso presente dúbio e completá-lo com informações deixadas em nosso inconsciente.

Memorizar é viver, pois vivemos pelas lembranças. Por mais difícil que possamos compreender, o futuro não existe. Há, em nossas vidas, somente o passado e o presente. O futuro se caracteriza apenas como um plano imaginário. Já o passado se traduz como um fato, uma situação concretizada, este sim é digno de conhecimento, pois como diz o ditado: o futuro a deus pertence (apesar de não acreditá-lo, e, talvez, por isso mesmo acreditar na expressão). E o ponto em que temos a chance de transformar nosso imaginário em concretização é justamente o presente.

Porém, ao contrário do que muitos pensam, o presente não é um espaço de tempo, e sim um ponto único, sem comprimento. Neste momento em que vou escrevendo as palavras, por exemplo, estou automaticamente levando o ponto do presente a criar uma linha de passado, e ela é contínua (como Cazuza diz: o tempo não pára). Da mesma forma, você que está lendo move o seu ponto presente criando uma linha de pretérito. A questão é que nosso cérebro é incapacitado para guardar sob o consciente toda a extensão desta linha concretizada do passado e, por isso, pega apenas "pedaços" da corda para implantá-lo em nossa consciência. O resto da corda fica embolado, dentro de nossa cabeça, apenas esperando o momento de ser finalmente resgatado para mumificar os nossos atos - e é aí que entra a nostalgia.

A nostalgia, portanto, é um ótimo meio psíquico que temos para laçar cordas esquecidas a fim de amarrar o atual consciente e poder puxar para si a verdade de nosso futuro. É assim que vamos completando o quebra-cabeça e, pouco a pouco, definindo uma imagem a qual nos dirá a resposta de nossa dúvida. Devemos sim pensar no futuro, planejá-lo. Contudo, para planejar o que vem pela frente é preciso compreender o que houve no passado. Antes da expiração sempre haverá a inspiração. E as melhores expirações vêm de um repertório bem inspirado.

O que vos digo, enfim, é base do processo criativo. É a explicação do porque os criativos são, em sua maioria, emotivos: justamente porque são aqueles que buscam inspiração para transformá-la em ideia. São quem busca perguntas antes mesmo de procurar respostas. São simplesmente nostálgicos, porque (uns nem sabem) transformam fios embolados, cheios de nós, em linhas - a partir de laços de memória unidos com os laços do presente. São quem carrega o fardo de lembrar do que não mais existe para dar luz a um novo mundo, seja de si próprio ou de todos outros. São, em sua maioria, diferentes da maioria, pois para eles os hábitos da massa são apenas consequências - o bolo da sociedade é feito de ingredientes, e eles são tais ingredientes. São quem move a humanidade a novas ideias, novos caminhos, novas ideologias.

E é por isso, meus amigos, que a nostalgia me fascina.

Dois Somos Um (Dois)

Arde o peito quando um desejo
Vem ao seu leito entregar-se à paixão
Tal como uma esfera de luz se libera
Novamente ao seu corpo explodindo emoção

A leveza de um livre e límpido beijo
Mostra-se quente por dentro da gente
Quando conhecemos a nossa união
Verdadeira posse do fruto paixão

A certeza de um futuro não precisa ser lida
Pois conforme o destino seguiremos então
Livres em conjunto na fé de estar junto
Sem corda, só ritmo de prazer e gratidão

O apego é forte, mas não combate à posse
O melhor se faz com nossa asa aberta
Hoje lhe pego, lhe vejo e desejo
Um contínuo laço com paz em oferta

Não existe união baseada em diferença
Acaba adquirindo a indiferença incerta
Daí a tristeza corrói falsos sentimentos
Destrói todo o apego do relacionamento

Mas a relação que se faz à base do igual
Será ideal pelo fato da semelhança
Que nos calça de amor, liberdade e esperança
Justo por partilhamos boas lembranças

Sou muito feliz por lhe ter afinal
Igual como eu, só existe você
Que o nosso prazer seja imortal
Porque sempre me encanto ao lhe reconhecer

Preste a Saber (Música)

Há um tempo você me pediu
Para entrar na luta
Como se houvesse fim
E o fim dissesse a mim
Que venci

Fecho os olhos pra esquecer
Se à minha frente está você
Quem diria sucumbir
Neste chão frio

Abro a mente pra entender
Se é a gente então pra quê
Dizer que estive aqui
À margem do rio

Preste a saber
Se a dúvida lhe envolver
Estou por si
Como está por mim

Preste a saber
Se a dúvida lhe faz crer
Já resolvi
Lhe explicar o porquê
Não estou aqui

Enquanto muitos olham para cima
Eu só olho pra você.

Sangue Frio

Queria ter sangue frio
Para dizer-me que sou forte
Salgar a morte com desprezo
Enriquecendo sem perdão

Queria ter sangue frio
Para esquecer qualquer desejo
Não chorar com qualquer corte
Selar a dor pela razão

Queria ter sangue frio
Pra não arder o meu lamento
Ao simplório sentimento
de mágoa, pena ou solidão

Queria ter sangue frio
Pra congelar minha emoção
E concentrar-me no vazio
De uma história sem paixão

Queria ter sangue frio
Porque o quente me destrói
Me amargura de rancor
Me enfraquece de amor

Me despedaça o coração.

Não Permita

Dê-me pouco pra viver
Ou viva sempre sem saber
O que me resta a dizer
Não cabe a mim lhe responder
Mas tente ao menos compreender
Se o infinito vai trazer
O imortal do seu prazer
Ao se fundir quando me ver
Ou separar o que há pra ser
Sem me zelar e me perder
O que ficar não vai morrer
Mas não terá como fazer
Continuar o nosso amor
Que se destrói pelo rancor
Ao construir a nova dor
Que me separa de você

Ao saturar a nossa cor
Com o neutro do mal querer.

Que Seja

Que seja mais forte
O que for leal
Que seja verdade
O óbvio afinal

Que seja uma parte
Pra sempre
Que seja agora
Inocente

Que seja muito
Por tão pouco

Que seja a gente
Simplesmente

De novo.