Vozes mudas

É triste ouvir na rádio
As verdades das mentiras
Sentindo à pele o vão das iras
Confortando-se ao sofá

Seria hipócrita o idealista
Que, de costas, proclama
E, de frente, reclama
Para a tela de um computador?

Seria ideal uma hipocrisia
Que, de costas, cria capital
E, de frente, declama um ideal
À posse da rosa vermelha incolor?

É triste acreditar no jornal
E seguir a voz de um genial
Somente copiar as cordas vocais
Destruir pensamentos originais

Ninguém dirá que há violência
Se vossa excelência emissora
Não proclamar com insistência
O carrasco da masmorra

Há preguiça em todos
Para ativar a voz escondida
Que já se faz de muda
Na paixão ferida
Da orelha surda
De tanto ouvir na vida
A mentira de notícias absurdas
E a verdade de notícias suspendidas

O povo grita da dor de ouvido
O povo grita da dor de ouvido
O povo grita
A dor de ouvido aumenta
A cada grito
Mas o povo grita
A dor aumenta
O povo grita
E nem ao menos tenta
Calar a boca
Desligar a tevê
Esperar conhecer
Para depois agir
E então planejar
Um objetivo a seguir
Sem precisar idealizar
Mas sim garantir
A mudança que irá
Fazer a dor sumir
E o ouvido sarar

Para poder SE ouvir.