Jantar

Noite. Sentaram todos à terra molhada pós-chuva: Homens fortes, fracos, jovens, velhos, muito jovens, muito velhos; Mulheres fortes, fracas, jovens [...].
O Ancião Pajé iniciava o assunto. Primeiramente falava da fé em Tupã, como a lua em que os raios incidem uma iluminação ciano-escuro sob a Taba. Em segundo, falava sobre as árvores que doavam frutos em troca de carinho, cuidados, amor. Por terceiro, dizia dos animais - desde os menores inocentes aos maiores ferozes -, o quanto eram preciosos para a sobrevivência humana.
Então iniciava o assunto: Memórias. O índio ao lado falava de teu passado íntimo ou público, como quisesse. Ia de pessoa em pessoa. Ninguém ousava não falar, nem mesmo queriam. Pois a arte da comunicação e memorização de fatos era presente na vida indígena como o lazer mais benéfico e satisfatório a todos.
Enquanto isso. A anta jazia morta e queimada, despedaçada entre todos. Refeição que promove a resistência e saúde do povo. Água em potes de argila eram engolidas sem pausa, com as duas mãos. Satisfeitos tanto coporalmente quanto mentalmente, iam às suas ocas, cada família, desfrutarem-se de um longo sono nas esteiras de palha. O sol parecia só acordar quando todos acordavam, e não o contrário. Enquanto a lua protegia a alma de todos que dormiam vulneráveis. Era Tupã, contente de ser amada e venerada por seus filhos.
Concedeu uma chuva leve. Para conforta-los e irrigar suas vidas.