Luto em Paz


De imperfeito o meu pretérito
Cabe numa poesia
Há de contar sem nostalgia
A circunstância desse mérito

Com denso teor de angústia
Faço verdade a cada verso
Num acúmulo em que imerso
Um passado de alegoria

A história que lhe conto
Vem de um santo indigesto
Vem de um canto sem manifesto
Vem da memória que em mim desconto

Tantos foram os caminhos
Que de longe planejamos
Mas por fora caminhamos

Tantas luzes acendemos
Tantas sombras escondemos
Tanto nos distanciamos

Sem que a dor da despedida
Valha mais que o nosso alívio
Já mergulho num dilúvio
Minha lamúria expedida

Sinto o mal ser tão apenas
Uma ruim recordação
Que de mim foi tão pequena
Quem de nós tem a razão?

Sinto a luz chegar tão plena
Esclarecer a escuridão
Desvendar o que houve em cena
Iluminar um drama em vão

Quem de nós tem mesmo a culpa
Se ela em si é uma ilusão?
A verdade é que houve luta
No que era pra ser paixão

E hoje vivemos em luto
Após essa conclusão.