Bárbaros em Guerra

Neste clichê tão óbvio

Faço questão de expressar

Que me atiro pro seu mar

Seu olhar me deixa imóvel

Seu sorriso tão amável

Faz meu corpo fraquejar


A relação que me impõe

Pude enfim compreender

Só de ti recebo um tanto

Mesmo que eu deixe em poucos

Pois os outros são os outros

Depois de você


Nunca esqueça da certeza

Que à sua nobre realeza

Serei sempre um cavaleiro

Mato e morro em nossa Guerra

Pois você, ó minha alteza

Conquistou-me por inteiro


Libertou-me desta cela

Desde lá em fevereiro

Ao notar com mais clareza

Sua interna e externa

Maravilha de beleza

Que me deixa tão cabreiro

Há Males Que Não Me Têm


Mal digo quem sou eu agora
Porque a mim eu desconheço
Muito queria a luz do atalho
Me dizer no que sou falho
Ensinar-me este caminho
Onde sempre andei sozinho
E hoje já não reconheço

Mal vem a dor que me devora
Derrete em mim toda essa lágrima
Cedo ao chão sem que a hora
Me desperte em solidão
Me derrube sobre a dádiva
De pensar que houve outrora
Uma emoção ainda ávida
A vibrar meu coração

Mal que vem talvez pro bem
Deixa em mim a sua proposta
Levanta o corpo e me encosta
Nesta parede que lhe intervém
Que alguma luz nos venha à mostra
Iluminar o meu alguém
Esclarecer a minha aposta
Desdizer o meu desdém

Ressurgir


O vento que nos guia
Quando cansa a calmaria
Se transforma em furacão

Não nos vê com empatia
Nem nos poupa a heresia
De controlar sua direção

Se eu soubesse que um dia
Neste ponto chegaria
De tão livre expressão

Mais verdades mostraria
Minha vaidade é fantasia
Na realidade, uma ilusão

E faz lembrar-me que houve um dia
Em que de mim não fiz questão
Em que fugi da intuição

O que restou é nostalgia
Nesta sobra, quem diria
Jaz à margem da alegria
Meu inteiro coração

Minha intensa obsessão

Sucumbir

Se eu pudesse lhe dizia
Que hoje vivo em agonia
E levo a minha vida em vão

Se eu soubesse que um dia
Neste ponto eu chegaria
De tamanha obsessão

Mais amigos eu faria
Minha família eu curtiria
Com toda convicção

Com certeza estudaria
Novos cursos todo dia
Aprenderia cada lição

Muito mais cozinharia
Na minha casa pensaria
Em por mais decoração

De sair, não deixaria
Pra fugir, viajaria
Voltaria sem pressão

Se eu soubesse que um dia
O agora chegaria
Tentaria outra opção

Mas o vento que nos guia
Quando cansa a calmaria
Se transforma em furacão

Não nos vê com empatia
Nem nos poupa a heresia
De controlar sua direção

Se eu soubesse, poderia
Continuar minha fantasia
E seguir meu coração

Agora resta a nostalgia
Lembrar-me que um dia
De mim já fiz questão

Na época, herói seria
O mundo conquistaria
Mas tornei-me meu vilão
E deixei-me sucumbir

Ao saber, entenderia
Esta arte de sorrir
Cada vez que eu ouvir
O mundo dizer Não

Pra Vocês


Levo em mim o que de mim sobrou
Resta em mim o que de mim prestou
Pesa em mim o que você deixou
Volto a mim como quem eu sou

Quando olho pra trás
E vejo vocês
Percebo que estou
Num colchão de retalhos

Quando penso demais
Me vejo xadrez
Lembrar, sempre irei
De cada aniversário

Meu primeiro amor
A quem tanto errei
Foi quem me deixou
De maneira tão Prudente

Minha primeira conexão
Que tanto admirei
Foi quem Aliciei
A seguir um caminho diferente

Minha primeira união
A quem me identifiquei
Construiu quem me tornei
Como a raiz de um Carvalho

Minha primeira calmaria
A quem fingi não amar
Mal sabe o quanto a amei
E nunca Iria me perdoar

Minha primeira certeza
A quem não vi com clareza
O espinho da rosa espetar
A quem confundi sua tristeza
Sem saber como lidar
O que éramos, onde Tá?

Deixei e recebi um tanto
Como a lei natural dos encontros
Então carrego este colchão
E amo cada retalho

Sei que fui falho
Mas dei o meu melhor
Por isso guardo este colchão
Cheio de vida, mágoa e amor

Ah, se vocês soubessem
Como eu passaria a noite contando
Todas as nossas histórias

Ah, se eu mesmo pudesse
Mostrá-las cada memória
Que guardei com dedicatória

A verdade é que estou morrendo
E elas morrerão comigo
Porque sei que pra vocês
Sou esquecido

Mas espero que um dia
Minhas palavras virem fantasia
E nossas memórias sejam a prova
Do quanto amei em demasia

Luto em Paz


De imperfeito o meu pretérito
Cabe numa poesia
Há de contar sem nostalgia
A circunstância desse mérito

Com denso teor de angústia
Faço verdade a cada verso
Num acúmulo em que imerso
Um passado de alegoria

A história que lhe conto
Vem de um santo indigesto
Vem de um canto sem manifesto
Vem da memória que em mim desconto

Tantos foram os caminhos
Que de longe planejamos
Mas por fora caminhamos

Tantas luzes acendemos
Tantas sombras escondemos
Tanto nos distanciamos

Sem que a dor da despedida
Valha mais que o nosso alívio
Já mergulho num dilúvio
Minha lamúria expedida

Sinto o mal ser tão apenas
Uma ruim recordação
Que de mim foi tão pequena
Quem de nós tem a razão?

Sinto a luz chegar tão plena
Esclarecer a escuridão
Desvendar o que houve em cena
Iluminar um drama em vão

Quem de nós tem mesmo a culpa
Se ela em si é uma ilusão?
A verdade é que houve luta
No que era pra ser paixão

E hoje vivemos em luto
Após essa conclusão.