domingo, 15 de setembro de 2024

Esquizoide

Esquizoide dor aguda
Faz de mim sua Pompeia
Deixa história ou destrói-a
Me avassala ou põe-se muda
Tal vassala a fazer sala
Na senzala a que encarcera

A mim salva ou põe ressalva
Salvaguarda mal pusera
Cria a tiara da Malévola

Ao meu controle tira ou gera Vem a mim como já vinhas
Me ferindo sobre pérgola

Há de vinho quem me dera Faz-me presa ou põe-me fera
Torça ou fira, aquém me importa

Feroz bata-me à urtiga
Na horta cure-me em arruda Qual da tua foz se define em luta

Mal tão algoz ou sublime culpa?
Atropela a minha voz ou a atrela à garupa?
Paranoia a entortar esta minha fé absoluta

Vê se me esquece, para eu poder prosseguir em paz
Já que jamais conseguirei zerar o findo da minha conduta
Ao menos forneça-me a verdade sem que me importune
Pois absorto jaz eu morto à dor aguda que me pune.

Nova Era

 
Calmo vos declamo:
Ao ir me deixo nu um tanto
Pois há, meu eixo, de vir, no entanto
Virá a seguir daqui, portanto
Dado por ti o brio encanto
Tão cego via-me ali
Mal pude discernir
Sentir seu eu a me ouvir
Pra lhe despir hoje enfim
Ver-me ao menos bem maior
Contanto que com tanto amor
Sem julgar culpa a rigor
Nem feri-la por rancor
Desde o sol raiando cedo
Notei logo meu placebo
De todo modo, sou eu mesmo
Quem vos fala já sem medo

Laço Apertado

 
A gente até parece um só
Descalço em areia quente
Caço sombra em meio ao sol
Sua beleza à minha frente
Nosso amor como miragem
Viu uma ilha onde era atol
Na surpresa da paisagem
Tanto cerco em tal viagem
Que me perco do farol
Nos amarramos um ao outro
A sós ficamos tão melhor
O que há de nós ainda é pouco
Sem sua voz me sinto louco
E o coração bate mais forte
Ao deixar-me muito rouco
Nosso amor, eu acredito
Vai deixar nós tão mais fortes

Há Desdéns Plutão

 
No estourar de um martelo
Justo ele, tão singelo
Errara a cara do cavalo

Ao azar deste modelo
Entre galo e vassalo
Da justiça facciosa

Cordialmente sectária
Nua e crua, mas secreta
Faz o feio virar belo

Não repara quem fez zelo
Negligente como gelo
Ela bate o seu martelo
Tão injusto, mas singelo

Perdoai-vos

 
Ao giz algoz, ferir-me quis
Alto em nós há já um triz
Do mal tal diz secar raiz
Dar fim só ao que já fiz
Maus seriam pois aí erram
Por lá trazerem a foz sem fim
Simples seria sua fé em mim
Mostrar-lhe o galho não condiz
Livrar do atalho a que conduz
Fazer do erro a sua luz
No tronco seco a dor feroz
Em duplo sopro faz de nós
Agulha prega do problema
Fechadura torta gira
Esse prego num dilema

Queimosia

 
Dá-se a toda teimosia
Um fio de perseverança
Linha tênue entre agulha
Que labuta num pavio
Clareando sua andança

Brincadeira de criança
Que lá surta se não viu
Ser favorito na infância
Você teima porque queima
Como agulha no palheiro
Desfazendo-se em cheiro
Incendiando a fazenda?
Ou cê teima porque queima
O algoz do travesseiro
Dando giro num isqueiro
Com o gás dessa oferenda?
O que lhe queima lhe explode?
Ou lhe implode e faz seguir?

Em Gratidão

 
Liberto-me em ser
Ao abrir-me pra Você
Quando laço Sua paixão
Pudera eu viver
À eterna gratidão
Do Seu meu bem querer
Mas sofro por ceder
Descalço do meu chão
Me apego ao prazer
Da forte obsessão
Que livrai-me do querer
Ser-Lhe filho e escrivão
Ver meu inferno de ilusão
Faz-me só retroceder
O cuidado à construção
Ah, se fosse muito fácil
O poder de me manter
Sempre a salvo, com noção
Do difícil que é poder
Ter a chave da prisão
Ter Você no coração
Ter-Lhe sem ingratidão

À Rua Minto

  À rua não me esmoreço
Faço firme quem não sou
Mas que sim me reconheço
Noutra face que me dou
Me arranha a insegurança
Me detém a tanta dúvida
Me atenho na criança
Só brincando em sua dádiva
Nua completa me ofereço
Pois minha pele já restou
Sem a roupa que deixou
O meu corpo pelo avesso
Ninguém sabe onde estou
Porém todos dão apreço
Que talvez eu não mereço
Pois à rua a que me vou
Faz de mim um endereço
Deste meu tal recomeço
A que tanto me esforço

Por ser grato a teu feitiço

Que me põe logo a serviço
Pois foi isso que salvou
De viver naquele poço
E me deu este avanço
Na minha vida que mudou
O caminho que caminho
É só meu e vou sozinho
Porque meu ser acordou
Desse berço onde ninho

Mar Asmo

 
Que o marasmo me aponte
Esta ponte da minha via
Justo eu sem dor amarga
Fui querer a enseada

Do seu mar que jaz defronte
Da minha nobre empreitada

Tira a mim da sua frente
Ou terei que dar a largada
Da minha luta já tão quente
Que desfaz a sua alçada

Por Ti Oro

Pomodoro tão quebrado
Fez de mim um iludido
Contornou-se o que de fato
Resta em tempo ser saudável
Comodoro eu me faço
Dou a luz ao impossível
Que se perde em meu traço
Ao ceder pro inconcebível
Como adoro ter um tato
De julgar-me falecido
Ao querer ferir-me um cato
Sem sequer ter merecido
Corroboro o que entrelaço
Aos nós firmes do meu braço
Quando já eu me desgraço
Quando o fim for concebido
Credo, dai-me um abraço
Ilumina meu sensível
Coração a que infarto
Tão quebrado e sofrido
Por ardor a que me dão
Tão megero invisível

Esfinge

Esfinge do dilema
Aqui faço-lhe poema
A que estou por ter pecado
Ao fracasso da resposta

Finge ti que a mim tenha
Salva-me de ser abestado
Recupera o meu estado
Que em guerra se empenha

Meio humana e meio leoa
Sua forma já me doa
No prazer de ser chamado
Por aqui ter caminhado

Queime a mim de suas graças
Às desgraças em minhas costas
Pela dúvida ter errado
Na minha estúpida resposta

"Ele sempre, sempre corre,
Mas nunca sai do seu lugar"
Ela "o vento" espera
E eu, poxa, quem me dera
Não dizer à essa fera
Que o certo é o "pensar"

sábado, 3 de agosto de 2024

Acha Que Eu Não Sei?

Desço à rua só pra crescer
O que em mim foi renascer
Lei de um fim que desmontei
Sobre um reino sem um rei

A pele nua eu deixo ver
Cê acha o quê? Que eu não sei?
Sua mente crua tá tão na lua?
Tremo, fujo, escondo também
Mas a vontade de ser vai além
Do medo dum olhar de quem vê
Vaidade é, da idade, via ou vaia
Esse segundo, leigo sujo de maldade

Por isso eu desço a rua pra crescer
Numa exposição que não é sua
Então não se preocupe se estou bem
Porque a minha vontade de ser
Vai muito, mas muito mais, além
Do quão aquém era a verdade do meu viver

Lar de fora, faz da rua
Ora embora, ora agora
Hora afora vai-se embora.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Forra


Soa a Nau e entoa então
Aqui não venhas se impor medido
Sai da sua e vá-se em vão
Pagar-te arte ao ferir-me arbítrio

Tal delicada deliciosa
Maliciosa mal-educada
Cal ociosa me aliciava
Sua breja vil já me alvejava

Impugnante punho ferido
Punhal infante num bradar sofrido
Mal levara à cara sua párea praga
Cá sua infame tara enfim lhe apaga

Dê à nossa terra piedade
Não se enterre ao cair
Queima-te em pé
Deixe-te ao vento espalhar
Esse corpo unguento

Pra nunca alguém mais machucar
Pra verdade em fé prosseguir



quarta-feira, 17 de julho de 2024

Planejar Sem Ejar


Quão ao extremo nos opomos
Quando em cárcere privamos
Ao livrar-nos do que somos
Pra dos livros fazer planos

São verdades de um ensejo
Conceder-nos no que vejo
Não vir de vez como num beijo
Mas no ceder de um baculejo?

Ou são imagens de outrora
Vez do velho já de fora
Nos dizendo que, embora
Fosse o intuito um desejo
Só o plano faz a hora
Precisar por tão conserto

Mas se todos nos doamos
Terminamos já represos
Ao milagre não voamos
Em mil lacres do pé ileso

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Quadro Negro

Trago um poema em dor
Jamais dela ser bem-vinda
Tampouco peso outro fardo
Ora cálculo do estrago
Destas fartas recaídas

Dado o árduo que fora dado
A mim trabalho de ornar cor
Sobre um quadro já tingido
Num escurecido preto fechado
Sem tom branco permitido

Toco à tela com rancor
Pois por ela fui senhor
Em cada tom ali havido
Até o carvão ter afundado
Pro meu quadro ser esquecido
Apagando-me da dor

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Buraco Negro

Sumo tanto e assumo
Quase que dissolvo
Faço que não solvo
Caço e'inda salvo

Laço, como, assusto
Luto, mas não, salto
Tanto, mas tão alto
Pago mesmo, o custo

Gasto, pois desgasto
Sei que estou farto
Base que desgosto
Gosto quando parto

Mês que me arrumo
Desde que desabo
Fez em mim, um amarro
No mesmo cabo, em que fumo

Louça a que eu lavo
Beijo, a paz de quem me doo
Mago sei que não, galgo
Ouça o que vejo, e trago

Antes de falar, quem sou
Desses versos acabo
Dos outros, deixo guardado
Mas lembrem sempre, um fato
Onde houver rio, e mato

Nunca serei escaldado.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Não Me Leve Ao Mal

Há quem lidere e subestime
O poder que é tão sublime
De saber a hora certa
A frase correta
De se comunicar

Há quem diga que o ciúme
Se valida com quem sente
Sem saber que anteriormente
Dá-se luz ao que se teme
Faz-se jus ao que se entende
Pra depois estar presente
E poder se dialogar

Há quem diga que se sabe
Como se relacionar
Há quem faça até poema
E chegue até a publicar
Fingindo tanto quanto todos
Depois de ter tanto problema
Do aprendizado, crio um lema:

Não me arrependo de amar.

Ser Ou Não Sei

Dentre o quórum já citado, faço em coro a minha astúcia 
Firo a pira da pelúcia conhecida da infância 
Medicada dedilhada, por tão valha dor sedada 
Calha malha cá sarada, cura em si lá transformada

Vem demais tão transparente, torta sã capaz dormente 
Lista a luz de um quadro ausente
Soma em paz, devassa sente, gera em transe fácil lente

Sem girado o galho ofício, deixa à palha agulha em frente
À procura não descrente, mente e falha o artifício

Faz da usura a própria mente, goza impura a tal serpente 
Corta e fura como sempre, vaidade outrora a nós sofrida
Jaz à altura desmedida tão apropriadamente

Calor de agora a sós amiga, joia rara a quem penhora 
Nobre mágoa a lama afora, noz amarga apodrecida
Voz calada ensurdecida, busca a morte aonde mora
A nós deságua e sobra em vida

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Adormerecida

Odisseia dos errantes de uma velha maestria
Desce e falha a euforia sobre corte tão infante
Neste instante já distante dei por mim que o atingia
Nem por isso lhe cabia ser assim repugnante

Impiedosa letargia diadema a que pena
Tão danosa alergia coloria mais um tema
Saborosa cantoria incendeia-me em chama
A quem chamo de orgia sem agir na minha cama

Sabe lá se sua via havia via a que vivia
E se via adormecida suicida que vicia
Vivencia cá vazia sua cia aqui sozinha

Intrigante insuportável coro triste ensurdecido
Ouço e grito a mim mesmo pois pareço entorpecido
Calo a mente condizente com o viés do merecido

Seu estúpido insolente, dê juízo ao teu crivo.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Então Que Seja

Sobre a cor que nos estampa

Tampouco o ar que me renova
O que me muda ou me transforma
É a realidade da nova guia
Sou o mesmo de sempre, e não importa
Se há controvérsias do meu estilo
Sou um pouco aqui e um pouco ali
Eu me contorno a qualquer presença
Me faço igual ou diferente
Minha face é máscara de tanta gente
Mas mesmo assim não me comporto
Com o coração sou eu mesmo sempre
Para uns há luz, outros escuridão
Para poucos há raiva, outros paixão
Para muitos há névoa, outros viagens
Para todos há o mesmo, mesmo que pareça invenção
Não é a cor que me rotula
Tampouco a voz que me inova
O que me muda ou me transforma
São as amizades da minha vida

Senti o ar descer comigo
Salgara o fel do livre arbítrio
Quiçá o sol fosse infinito

terça-feira, 18 de junho de 2024

Sem Prendimentos

Se aqui estou acordado sem que doa o meu refúgio
Do prazer de um sono amado ante o gozo duma ideia
Significa que sou grato ao destino concedido
Pela arte tão presente a correr em nossa veia

Já não fujo àquele medo de sofrer pelo ocorrido
Ao sentir-me abatido por perder um tanto cedo
Um futuro planejado neste ensejo tão sofrido

Nem mesmo choro sem sentido o fracasso surpreendido
Por estar um tanto longe de um destino não esculpido
Previamente imaginado porém num alívio admitido
Sobre o que fora acordado e hoje vejo quão fui salvo

Larguei mão do brio nocivo se o processo eu mesmo faço
Dou cara a tapa a cada etapa com cara limpa sem desculpa
Muito agradeço ter logo errado pra cedo ver o revés da luta
Pois aqui pago a minha multa ao receber régua e compasso

Se acordo há um instante de um sonho consciente
Abro os olhos com vontade ao me ver tão transparente
Cada dia mais distante meu sintoma faz presente
Condenado a compreender, relutei em relevar
Porque a vida é sofrer: pra nascer tem que chorar.

sábado, 15 de junho de 2024

Para Nós

Num calabouço intangível
Jaz aflita em condição
Minha memória sem censura

Pois só ouve quem sussurra
Sem dar voz ao concebível
Deixa em mim o inexplicável

Faz meu mundo maleável
E eu que já de tão sensível
Deito fácil ao imaginável

Perco torto a minha noção
Vivo ausente à sensação
De conforto e confiança

Todo apego à coincidência
A ignorância ela semeia
Por cada análoga ideia
A que me ilude uma plateia 

Neste escárnio alegórico
Fardo fato que estou farto
Já cansei de, tão eufórico
Até quase ter um infarto

Nesta busca inalcançável
De uma paz tão razoável
Vivo como um invisível
Só minha falha é notável

Mas um dia há de vir
Curar-me do que for possível
E a minha voz será a única
Que irei ouvir de mim

terça-feira, 11 de junho de 2024

Tianmelus

Derradeira morte em vão

Que despeço-me então

Faço vil a sua ausência

Pela sua luminescência


Cai a noite e sigo em frente

Deixo este caminho e volto

Mas tampouco estou envolto

Já que sou tão diferente


Outra aurora diz-me outrora

Que afora foi-se embora

Deixou-me à hora tão confusa

Na raiz de outra vara


Mas, que pena, joguei fora

Quando vi tão firme tora

Tal como disse-me Cazuza

O tempo não para

terça-feira, 30 de abril de 2024

Penúltimo Ato

Ao cair por um tropeço
À depressão dei endereço
Desabei-me sob um hospício
Fiz do fim um grande apreço
Dispensei um recomeço
Só dei valor ao que tem preço

Que mereço, eu confesso
Essa dança reconheço
Não descanso, nem almoço
Tão somente me desfaço
Traço em mim um passo em falso
Ao escasso me ofereço

Mas se passa em sua cabeça
O que penso e o que passo?
É só isso que lhe peço
Antes de maçar o meu maço

Ao avanço me disperso
Já cansei-lhes meu disfarce
Minha face sempre sonsa
Tão sem graça já não desce

Mas se a mim cê reparasse
Num olhar me adentrasse
E a minha dor então sofresse
Meu agir reconhecesse
Na origem da ofensa
No assédio insistente
No meu câncer padecido
Na distância fluminense
No meu coração partido

Aí, sim, então somente

Cê veria meu sangue quente
Tão espesso e aderente
De emoções tão permanentes
Porém memórias displicentes 
Que, por escória, só as más
Eu me lembro infelizmente

Mas, como disse, tropecei
E se cê visse a enorme pedra
Entenderia essa minha queda
Um tombo em combo que te quebra

Pisei falso pois havia...

...Bom. Xô ver.
Por onde eu começo?

Uma dor que me seguia
Um amor que não me ouvia
Um dó que me impedia
Um nó que amarraria

Só isso que lhes peço

E esse nó, xô lhe contar porquanto

Agarrara, coçara, tensão que me cegava
Agarrava, coçava e você não observava
Agarrou, coçou, um nó que me enfrentava

Entretanto
Agarrei, cocei, estarei sempre lutando
Agarraras, coçaras. E você, me observando?
Agora agarrará, coçará, sem mercês me ajudando

O tal nó vai me enfrentar com vocês sequer estando
Logo rogo toda praga a esse amor
Esse dó e a minha dor
Entre tantos
Outros

Afinal será um assombro
Das noias que aqui vejo
Quando volto por ensejo
Permanência do meu tombo
Ou minha ânsia, meu desejo
Dos viés a que me cobro
Dos papéis a que pelejo
Desequilíbrio do meu ombro
Quem mexeu neste meu queijo?

Agora sem quem aponte o dedo
Mora em mim um grande medo
Ora, eu vim um tanto cedo
Embora andei com esse segredo
Há muito tempo em meu enredo

Quem irá me visitar?
Sou muito de conjecturar
À expectativa de quem dá
Ou de quem vem pra retirar

Sofrerei com sá distância?
Sem todas suas tolerâncias
Sem todas suas paciências
Sem todas suas consciências

De toda essa minha desgraça
De tudo que eu faço graça
Do mudo que eu sou em casa
Do surdo que me faz bocejo
Do surto em mim de um assobio

Quem lembrar vem dar-me um beijo
Ou um abraço ou o queijo
Também isso eu ensejo
Pois desde cedo que eu velejo
Nessas águas tão longínquas
Em que crio tantas ínguas
À distância do que almejo

Meu longevo ato final
Será sem um sequer lampejo
Ou nenhum saco de sal
Que até hoje eu fraquejo

Farão, sem ignorância, linha extensa?
Explorarão a minha infância?
Numas sãs ações sensatas consciências
Dumas áreas pátrias páreas em parar minha frequência?

Parei nos vários bares solitários e aleatórios do Rio
Que fui à toa e soei pária nest’outro império em que suamos
Pois vim de apenas outr’afluência bem acima do que somos

Serásse esse sanatório
Sarará o meu suplício?
Parará o que tem sido?
Curará esse meu vício?
Nadará em meu dilúvio?
Que não é nem tão difícil?
Talvez porque falar é fácil
Sem viver o meu Vesúvio
Enquanto cais dum precipício?

Será que esse ambulatório
Deixar-me-á sem o que faço?
Saberá o quanto eu calço?
Mudará a minha sina?
Refará meu triste laço?
Para eu poder parar e parar
Nas garras da minha menina?
A quem tanto me ensina
A conviver sem precisar
Desrespeitar o nosso espaço
Com ela sempre quero estar
Minha linda filha que, por acaso
Tanto odeia o meu abraço 

De qualquer maneira
Sei que estou à beira
Deste presídio

Pois essa pedra traiçoeira
Fez-me jus ao suicídio

Fugi da ribanceira
Que me foi tanto alívio
Só que segui indo à feira
Por pedir seu benefício
Num momento não propício
Fiz de mim um desperdício
Sem que a mim próprio eu queira

Vem desde adolescência
Meu sangue tão espesso
Por isso teço verso intenso
Pra fazer ordem e progresso
Ao inverso do que penso
Do que peco eu compenso
Por estar já muito imerso

Vou girando o terço tenso
O tornando uma espada
Como num conto de fada
Caço esse mostro imenso
Pra libertar a princesa amada
Festejar com minha família
Dar o monstro como presa
Para as garras da minha filha
E brindar com meus amigos
Que me ajudam com proeza
A me afastar desses perigos

Porém, a vocês eu lanço:
Não me esforço ou não alcanço?
Fosse a fossa um falso poço
Mesmo a força mais intensa
De um coço tão colosso
Não sairia nem com coça
Você mesmo sempre diz
Que não há ninguém que possa
Sair de toda essa joça
Sem fadar à diretriz
De amizades como a nossa

Mas saiba:
O que me deixou infeliz
Foi todo o mal
Que no bem se contradiz:
Se torcem, dão remorso
Põem berço, me contorço
Sem intenção, me lançam ao fosso
Por pouco, deixam-me a um triz
Antes fosse assim tão fácil
Na coerência e fala mansa
Com bom senso e paciência
Resolver a minha lambança
Minha bagunça na despensa

Não lhe peço condolência
Nem presença com veemência
Se em sua crença permanece
O nonsense da minha ausência
Em sua vil desconfiança

Pois nem tudo é o que parece
Mas fizeram da minha tosse
Um sinal de estar em posse
Sem sequer se ter prudência

Pra ter pulso e constância
Tal Virgulino no Cangaço
Na desgraça em iminência
Nessa ardência de percalços
Na vigência do que passo
Dos meus laços, me despeço
O que sou será lembrança

Camus fez estardalhaço
Em paz, jaz e já descansa
Sá versão que em mim morreu
Sobrou quem sou de preferência
Pro último ato ter relevância

Para que toda essa sofrência
Seja só passado meu

Que o futuro prometeu
Pra limar minha arrogância
Retirar minha inconstância
Restaurar-me cada membro

Vou reaver minha elegância
Fragrância que, nascida em julho
Com orgulho ainda lembro
Por guardar cada embrulho
Dos presentes que nos demos
Tão presentes quanto somos

Pois presentemente eu posso
Considerar-me um sujeito de sorte
Neste Norte em que deleito
Sem que em leito deite à morte

Sigo vivo e imperfeito
Num drama bem do gostinho que eu ajeito.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Bárbaros em Guerra

Neste clichê tão óbvio

Faço questão de expressar

Que me atiro pro seu mar

Seu olhar me deixa imóvel

Seu sorriso tão amável

Faz meu corpo fraquejar


A relação que me impõe

Pude enfim compreender

Só de ti recebo um tanto

Mesmo que eu deixe em poucos

Pois os outros são os outros

Depois de você


Nunca esqueça da certeza

Que à sua nobre realeza

Serei sempre um cavaleiro

Mato e morro em nossa Guerra

Pois você, ó minha alteza

Conquistou-me por inteiro


Libertou-me desta cela

Desde lá em fevereiro

Ao notar com mais clareza

Sua interna e externa

Maravilha de beleza

Que me deixa tão cabreiro

sábado, 23 de março de 2024

Mal digo quem sou agora

Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
Matei e joguei fora
A luz que em outrora
Fazia-me sentir bem

Maltrato com desdém
A vida que apavora
Ao fato de também
Ferir-me sem porém
Fugir sem ir embora

À noite eu perco a hora
Meu corpo em si ignora
Sinais que não intervêm 

O luto então demora
O surto me devora
Eu curto há mais de cem

E o amor, que ironia
De verdade só piora


Mas trato com desdém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém

Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora

Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem



A luz me ignora
O amor que jogo fora
Não mais em mim mora


Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém

Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora



E apago com desdém
A luz que jogo fora


Na dor que me devora
Despeço-me de outrora

fora, mora, chora, hora, apavora, demora, melhora, piora

bem, sem, intervém, além, cem, vem, porém, tem, amém, porém, ninguém, contém

Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor em mim devora
Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem


Mal digo quem sou agora

A mim já desconheço

Segui por um vil atalho

Irrompi no que já sou falho

Ensinar-me este caminho

Onde sempre andei sozinho

E hoje já não reconheço


Mal vem a dor que me devora

Derrete em mim toda essa lágrima

Cedo ao chão sem que a hora

Me desperte em solidão

Me derrube sobre a dádiva

De pensar que houve outrora

Uma emoção ainda ávida

A vibrar meu coração


Mal que vem talvez pro bem

Deixa em mim a sua proposta

Levanta o corpo e me encosta

Nesta parede que lhe intervém

Que alguma luz nos venha à mostra

Iluminar o meu alguém

Esclarecer a minha aposta

Desdizer o meu desdém

sexta-feira, 22 de março de 2024

Há Males Que Não Me Têm


Mal digo quem sou eu agora
Porque a mim eu desconheço
Muito queria a luz do atalho
Me dizer no que sou falho
Ensinar-me este caminho
Onde sempre andei sozinho
E hoje já não reconheço

Mal vem a dor que me devora
Derrete em mim toda essa lágrima
Cedo ao chão sem que a hora
Me desperte em solidão
Me derrube sobre a dádiva
De pensar que houve outrora
Uma emoção ainda ávida
A vibrar meu coração

Mal que vem talvez pro bem
Deixa em mim a sua proposta
Levanta o corpo e me encosta
Nesta parede que lhe intervém
Que alguma luz nos venha à mostra
Iluminar o meu alguém
Esclarecer a minha aposta
Desdizer o meu desdém

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ressurgir


O vento que nos guia
Quando cansa a calmaria
Se transforma em furacão

Não nos vê com empatia
Nem nos poupa a heresia
De controlar sua direção

Se eu soubesse que um dia
Neste ponto chegaria
De tão livre expressão

Mais verdades mostraria
Minha vaidade é fantasia
Na realidade, uma ilusão

E faz lembrar-me que houve um dia
Em que de mim não fiz questão
Em que fugi da intuição

O que restou é nostalgia
Nesta sobra, quem diria
Jaz à margem da alegria
Meu inteiro coração

Minha intensa obsessão

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Sucumbir


Se eu pudesse lhe dizia
Que hoje vivo em agonia
E levo a minha vida em vão

Se eu soubesse que um dia
Neste ponto eu chegaria
De tamanha obsessão

Mais amigos eu faria
Minha família eu curtiria
Com toda convicção

Com certeza estudaria
Novos cursos todo dia
Aprenderia cada lição

Muito mais cozinharia
Na minha casa pensaria
Em por mais decoração

De sair, não deixaria
Pra fugir, viajaria
Voltaria sem pressão

Se eu soubesse que um dia
O agora chegaria
Tentaria outra opção

Mas o vento que nos guia
Quando cansa a calmaria
Se transforma em furacão

Não nos vê com empatia
Nem nos poupa a heresia
De controlar sua direção

Se eu soubesse, poderia
Continuar minha fantasia
E seguir meu coração

Agora resta a nostalgia
Lembrar-me que um dia
De mim já fiz questão

Na época, herói seria
O mundo conquistaria
Mas tornei-me meu vilão
E deixei-me sucumbir

Ao saber, entenderia
Esta arte de sorrir
Cada vez que eu ouvir
O mundo dizer Não

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Reflexões


Faz tanto tempo e ainda é pouco
O que chorei me deixou rouco
Àquela vida de sufoco
Não me julgo ter sido louco

Será que há alguma forma
De receber de volta
O que você tirou de mim?

Será que há alguma luz
Pra toda essa escuridão
A que me escondo aqui?

Se o que passou, passou
Por que há tanto pra sentir?
Se o que feriu, cicatrizou
O que está doendo em mim?
Se o destino nos separou
O que há para me unir?
Se já não sou mais tão feliz onde estou
O que fazer para seguir?

Peço a todos, sem qualquer distinção
Que me guiem pra fora dessa escuridão
Que me abracem pra reverter a maldição
Que não me deixem com o que ficou em vão

Já não consigo separar
Se há realidade, ou se ela não há
Se ao que fui, vou retornar
Ou se o que foi vai me eternizar
Pra sempre, sem lar

O que será?

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Pra Vocês


Levo em mim o que de mim sobrou
Resta em mim o que de mim prestou
Pesa em mim o que você deixou
Volto a mim como quem eu sou

Quando olho pra trás
E vejo vocês
Percebo que estou
Num colchão de retalhos

Quando penso demais
Me vejo xadrez
Lembrar, sempre irei
De cada aniversário

Meu primeiro amor
A quem tanto errei
Foi quem me deixou
De maneira tão Prudente

Minha primeira conexão
Que tanto admirei
Foi quem Aliciei
A seguir um caminho diferente

Minha primeira união
A quem me identifiquei
Construiu quem me tornei
Como a raiz de um Carvalho

Minha primeira calmaria
A quem fingi não amar
Mal sabe o quanto a amei
E nunca Iria me perdoar

Minha primeira certeza
A quem não vi com clareza
O espinho da rosa espetar
A quem confundi sua tristeza
Sem saber como lidar
O que éramos, onde Tá?

Deixei e recebi um tanto
Como a lei natural dos encontros
Então carrego este colchão
E amo cada retalho

Sei que fui falho
Mas dei o meu melhor
Por isso guardo este colchão
Cheio de vida, mágoa e amor

Ah, se vocês soubessem
Como eu passaria a noite contando
Todas as nossas histórias

Ah, se eu mesmo pudesse
Mostrá-las cada memória
Que guardei com dedicatória

A verdade é que estou morrendo
E elas morrerão comigo
Porque sei que pra vocês
Sou esquecido

Mas espero que um dia
Minhas palavras virem fantasia
E nossas memórias sejam a prova
Do quanto amei em demasia

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Luto em Paz


De imperfeito o meu pretérito
Cabe numa poesia
Há de contar sem nostalgia
A circunstância desse mérito

Com denso teor de angústia
Faço verdade a cada verso
Num acúmulo em que imerso
Um passado de alegoria

A história que lhe conto
Vem de um santo indigesto
Vem de um canto sem manifesto
Vem da memória que em mim desconto

Tantos foram os caminhos
Que de longe planejamos
Mas por fora caminhamos

Tantas luzes acendemos
Tantas sombras escondemos
Tanto nos distanciamos

Sem que a dor da despedida
Valha mais que o nosso alívio
Já mergulho num dilúvio
Minha lamúria expedida

Sinto o mal ser tão apenas
Uma ruim recordação
Que de mim foi tão pequena
Quem de nós tem a razão?

Sinto a luz chegar tão plena
Esclarecer a escuridão
Desvendar o que houve em cena
Iluminar um drama em vão

Quem de nós tem mesmo a culpa
Se ela em si é uma ilusão?
A verdade é que houve luta
No que era pra ser paixão

E hoje vivemos em luto
Após essa conclusão.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Vera Cruz


Sua calmaria que me acolhe
E ao fim de tarde assisto em pé
Vai muito além dessa maré
Além do céu que nos engole

Se me deito em suas águas
Que mesmo rasas aprofundam
Os sentimentos me inundam
E sobrepõem o que estiver

Cada dia sua vista muda
E feito folha de arruda
Me remedia a dor profunda
Sem nem cobrar da minha fé

Queria eu só mais um banho
Que me acolha em sua maré
Que me engula com seu sol
E me leve pra onde quiser

Queria mais um banho só
Nesse lugar que sei de cor
Cada caminho e cada canto

Faria jus à calmaria
Que me acolhe e anestesia
O ardor desse meu pranto

Com sua vista em demasia
Me renovo aos seus encantos
Com sua leve correnteza
Dispo a minha natureza

Pois sua beleza é poesia
E na leveza que me guia
Ó Baía de Todos os Santos
Faz de mim uma fortaleza

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Seu Zelo à minha Sina

No seu zelo há euforia
De cuidar em demasia
Sobre quem lhe faltaria
Como genuíno gesto

Sem que a sua companhia
Me trouxesse alguma via
Eu já não mais queria
Ser contigo tão honesto

Fosse o luto impotente
Desistiria de resistir
À textura do seu laço
Nem sequer um outro passo

Fosse a sorte em mim ausente
Estaríamos tão distantes
Sem sua cor entorpecente
Nossa morte e tão somente
Minha dor predominante

A sina da gente
Seja como for
Virá adiante

Pois, amor
Por você
Eu tudo faço

Novas Histórias

Ante o momento que lhe vi
O escuro me fez crer
Mal algum cairia em mim
Pudesse eu me conhecer

Sem o amargo do sabor
Sobrou a vida pra dizer
Que não há como me iludir
Se a ilusão mal algum for

Caminhe sobre os ventos
Veleje em pensamentos
E lembrará daqui

Tantos foram os momentos
Que calçados pisamos
A areia sem sentir

Se pudéssemos ao menos
Nos despir do que vivemos
Alcançaríamos tantos mundos
De Saturno a Vênus

Sobrevoaríamos o universo
Inverteríamos nosso verso
O Sol iluminaríamos
Se pudéssemos ao menos

Esquecer de onde viemos
E enganar nossas memórias
Com as novas histórias
Que juntos escreveremos

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Minha Madrugada

A manhã que começa
Pra quem não dormiu
É o fim do sereno
Que acorda o vazio

Digo isso porque vivo
Ao silêncio da madruga
Como um copo sem água
Que se preenche de ideia

E o barulho do dia-a-dia
À rotina da euforia
Cria a confusão
Que encandeia a minha fuga
E destrói minha epopeia

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Peito Vazio

Em mim me resta a fome
O saciar de todo homem
Como um amor

Enfim, eu já não sou
Tanto quanto antes
Como um Beija-flor

Se prego, dia após dia
A ti, uma euforia
Dou-lhe a mentira
Como quem já surtou

Se rego o plantio
De um jardim senil
Estou à deriva
Como quem se esquiva

Ponho tudo a perder
Porque já me perdi
Se hoje vou sofrer
É porque já estou no fim

Não venha me dizer
Se eu me arrependi
De matar a fome outrora
Com tudo o que já comi

Pois posso lhe garantir
Assim como a fome
O que eu como agora
Amanhã volto a pedir

Um amor que me desperte
A vontade de sentir

Pretérito Imperfeito

Tão meio termo, mas tão comum, mas tão normal. Sua mediocridade, motivo de orgulho. Seu medo do extremo, de tão extremo, um medo de si mesmo. Numa imagem padrão, dessas de porta-retrato, o seu espelho. E no espelho, nenhum retrato sequer da sua imagem padrão. Míseras palavras, ínfimos momentos. Muitos nãos para tão poucos sins. Tudo dos outros em vão, tampouco de si. Olhos acesos à multidão, apagados no despir. Imitação do caráter de outrem. Sem atitude, como um ninguém. Petrificado aos olhares da Medusa socionormativa. Tantos limites no agir, que - à escassez da sua persona em demasia - um único verbo presente no seu texto (tal qual ele mesmo, um pretérito imperfeito): inexistia.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dinheiro Não Lhe Faz Feliz

Você está buscando um meio, não um objetivo.

Sim.

Você tem grandes chances de estar desesperado andando por um caminho infinito sem ter uma ideia exata do que alcançar. Você está confundindo uma meta com uma ferramenta. Seu objetivo, na verdade, não passa de um meio. Cada hora do seu dia, cada dia da sua semana, você sai em busca da ferramenta. Mas nunca em busca da meta. É por isso que, toda vez que você tem a ferramenta em mãos, fica na dúvida do que fazer com ela. Você a procurou sem antes saber como ou no que usá-la. A sua vida inteira pode acabar se baseando no meio e não nos seus objetivos. Você pode se tornar mais uma daquelas pessoas frustradas que, em poucos momentos da vida (como uma sexta-feira ou um filme emocionante) consegue uma faísca de felicidade. Tudo isso simplesmente porque você está objetivando um meio, em vez de usar um meio para atingir seu objetivo.

Essa confusão está se tornando cada vez mais normal em todos nós. Se você for uma dessas pessoas que objetiva ganhar dinheiro acima de tudo, se encaixa perfeitamente nessa crise. O dinheiro não é um objetivo. É um meio. É o meio do século de se atingir vários objetivos. Quando objetivamos ganhar dinheiro estamos seguindo um caminho sem fim. Ter grana, por si só, não garante momentos de felicidade. Na verdade, ninguém sabe definir "felicidade". Mas todos a reconhecemos quando sentimos. A felicidade vem do cumprimento de nossos desejos. Para consegui-las, usamos diversos meios que facilitam o caminho até ela. Uma pessoa que adora tocar num luau, antes de mais nada, precisa de um instrumento ou coisa parecida - um violão talvez. Mas ter um violão sem tocá-lo não servirá de nada à sua felicidade. Assim como ter dinheiro sem usá-lo será igualmente inútil.

Inclusive, há outras formas de se conseguir o que quer além de dinheiro. Se você gosta de música e ganhou um violão de seu tio, vai deixar de ser feliz porque ele não foi comprado? Pois é. Além disso, ter um violão e não tocá-lo não lhe fará feliz. Tudo o que nós buscamos são momentos, não coisas. Nós não queremos dinheiro, nem queremos objetos. O que nós realmente queremos é usufruir dos momentos que passamos com isso, aquilo, ele ou ela. A Era do Capital nos transmite essa falsa sensação de que o dinheiro ou os ganhos materiais são nossas metas. Só que não. O problema é que, nesta era, essas ferramentas são muito úteis para conseguirmos recriar os momentos que nos fazem felizes. Mesmo assim, não podemos confundir o circuito com a linha de chegada, se não estaremos correndo eternamente em círculos.

Tenhamos isso em mente. Busquemos construir objetivos, determinar desejos, todos relacionados a momentos - para só depois pensarmos nos possíveis meios que facilitarão atingi-los. Se você acha que uma pessoa rica "não deveria reclamar da vida boa que tem" ou não entende quando vê um pobre feliz da vida, é porque ainda não compreendeu o quanto o dinheiro não é determinante de felicidade, mas sim os momentos que passamos com aquilo que gostamos. Espero muito que nossa geração consiga refletir mais sobre isso.

Portanto, de hoje em diante, desejarei a todos "Felicidades!" - pois o resto (dinheiro, amor...) são apenas meios de atingi-las. Você escolhe.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vertigem Maria

Arde a brasa em rouca chama
Quente é o fogo em quem te ama
Frio desejo invade a trama
Quando à cama põe-se em coma

Noite a noite e nenhum dia
É o dia-a-dia desta senhora
Que vive em lua a toda hora
E só se cansa quando está fria

Perde a linha, esquece o rumo
Nem o fumo trouxe à tona
A tal saudade da sua memória

Vem sem dono, vai com tantos
Fica em prantos se algum chora
Porque relembra a sua história

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ação X Reação

Os chamados Revolucionários de Sofá já cresceram marcas, destruíram empresas, adaptaram leis, idealizaram projetos, cancelaram patrocínios, incentivaram novas políticas, prenderam criminosos e até eventos hipócritas foram ridicularizados com um simples clique. Tudo isso serve para ter certeza que ações via Face funcionam muito bem. O que não funciona é reclamar de quem as faz. Aliás, de mimimi este país tá cheio. E, nas barreiras contra os militantes, fazem parte não só os algozes, mas outras próprias vítimas que só sabem julgar... também sentadas num sofá. Aqui, vale a máxima: "se não sabe ajudar, não atrapalhe".

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Genérico de Tarja Preta

O tempo é um genérico de tarja preta.

É uma cura sofrida. Ele deixa a dor latejar sem anestesia. Envolve o corpo e domina a mente, mas nada faz para aliviar. A aflição é um sintoma. Faz-nos perceber o erro em nosso organismo social. A memória é um hematoma e dói bastante quando a tocamos. As lágrimas são possíveis efeitos colaterais. Porém, sortudo é aquele a quem elas põem-se a cair, pois acalma a dor física enquanto a consciência promete explodir.

O tempo é o mesmo para todos. Mas cada um de nós reage diferente. Não há relógio que consiga, na parede ou no pulso, fazer o tempo ficar ao nosso lado. Ele nos odeia. Odeia nossa incapacidade de aprender imediatamente. Odeia a desorganização em que o submetemos no dia-a-dia. Odeia nossa vontade de controlá-lo e a pouca vergonha de acharmos que o temos sob controle. Assim, ele revida. Passa veloz quando queremos pará-lo e lento quando queremos passá-lo. Consome cada gota de nossa resistência e desafia nossa paciência.

Apesar de cruel, é um cavalheiro. Quando reconhece a superação, ele deixa a dor passar. Se aprendemos a causa e a consequência do fato, o tempo resolve nos curar. Antes disso, muitos lamentam, outros enlouquecem, alguns se enfurecem e uns tentam ignorar. Contudo, tudo só passa quando questionamos o que fizemos e decidimos o que fazer. Paciência é a única virtude esperada pelo tempo. Pra chegar nela, sofremos. Tentamos ignorar, nos enfurecemos, enlouquecemos e lamentamos. É um processo longo, chato e dolorido. Entretanto, ele só libera o futuro e descansa o presente quando compreendemos nosso passado.

O tempo é um remédio que só cura seus pacientes.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A um Fio do Fim

À fachada sigo em frente
Apertado ao nosso rumo
Sigo triste e tão ausente
Na calada me arrumo
Vou enfim, mas não ao fim
Despacho-me, então sumo
Protegido, mas descrente
Peço a mim ser diferente
Desapego do consumo
De um vício transparente
Que me afoga neste mundo
Onde mora a minha mente

terça-feira, 27 de março de 2012

Prefácio do Futuro

Sem força não devo perder meu intuito
Porque se há pouco quem me dera então se fosse muito
No vago eu vago e não sei se é pleno
O desejo que mata a minha boa vontade

Ela vem sempre antes me falando somente
Dessa triste dor de quem espera a saudade
Como um soco que avisa o que há pela frente
Mas nunca acalma o susto da realidade

Não conheço o desespero
Nem espero trazê-lo
A mim eu só confio em ter a certeza
Que estão por vir muitos bons momentos

Se não houver clareza
Me apego a terceiros
Que expliquem a proeza de meus sentimentos
E me indiquem o melhor fim destes tantos meios.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Esgoto-me

Laço o outro com discurso
Falo antes e escuto
Ouço claro e me atenho
Um percurso curto e culto

Curto a voz do inimigo
Ouço ideias já dispostas
Faço a mim um novo amigo
Quando expressa uma resposta

Já não aceito mais o surdo
Nem que esteja só ouvindo
Minha paciência tá sumindo
A quem preza pra ser mudo

Na intriga me acanho
Saio são de quem é vão
Quando falta opinião

No calor de meu deserto
Dou valor só ao esperto
Que respeita a discussão

quarta-feira, 7 de março de 2012

Calado, estás errado

O silêncio dos que têm medo de estar errado dá mais volume aos gritos de quem anseia estar correto. No final das contas, quem se cala já errou - ao achar que o erro é o fim da solução, quando na verdade é a ferramenta dos espertos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Culto Material

Quando o inverno chegar
E não mais eu lhe ver
Me desculpe tentar
Procurar por você

Mas difícil é esquecer
De quem pude amar
Se pra ti já não dá
Só me resta sofrer

Então me deixo levar
A mentir pra você
Lhe dizer que se vá
Ficarei bem sem lhe ter

Só espero lembrar
De não se arrepender
Pois quando o sol me cegar
E o inverno acabar
Estarei com você
Sem comigo estar
Perdido em querer
Contigo voltar

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Prólogo

Dor nostálgica por um mundo imaginário. Amor por algo que criei a mim. Ódio do arrependimento pelo caminho escolhido. Saudade de tempos nunca sequer conhecidos. Lembranças forjadas de um sonho acordado. Um mundo inteiro diferente daqui, transmite uma dor sem causa nem fim, chamada Memórias da Outra Dimensão. Uma crônica prestes a ser escrita, baseada em fatos (quem me dera fossem) reais.

Escondido noutra vida, numa dimensão perdida, sofro a dor de uma saudade sem ligação com a verdade do passado ou do presente, mas de um mundo diferente que tornou-se indiferente pelo caminho não passado, desviado à tangente. É uma dor que não se explica, não se cura, nem se esvai, é uma paixão perdida, literalmente - esquecida por mim mesmo, desviada pelo meio, mas que ainda move meu consciente, me deixando louco, me faz chorar, por um mundo que nunca cheguei a conhecer, só imaginar.

Nostalgia pelo Caminho Nunca Passado

Por vezes pensamos
Em momentos distantes
Nunca alcançados
Caminhos diferentes desviados
Por outra direção

E o máximo que podemos imaginar
Já nos faz sentir fortemente
Uma dor que chega sem bater
Batendo muito em nosso peito
Mostrando que houve outro jeito

É um momento estranho
Nos desaproxima da verdade
Ou, na verdade, nos afasta
É um sentimento profundo
Que mistura arrependimento e nostalgia
Por uma vida para sempre desconhecida
Que só vive em nossa cabeça
E um dia pôde ser vivida

Nesse momento ficamos tristes por nada
Ou talvez fosse por tudo
E o nada em que vivemos o resume enfim
A tudo o que adoraríamos viver
Mas tomamos outra direção
A qual viemos conhecer

Queria poder saber a verdade
Se o que vivo é real ou é saudade
De um presente alternado
Num passado desviado

Queria ter me conhecido
Na mudança, no perigo
Com esses outros amigos
Com esse outro amor
Com essa outra vida
Diferente da minha cor
Escolhida

E se fosse tudo diferente?
E se a gente fosse apenas estranhos?
E se os estranhos fossem a gente?
E se eu mudei pra pior, pra melhor ou fui indiferente?

E se aquela pessoa a quem almejo é uma farsa?
E se a pessoa a quem vejo é minha verdadeira alma?
E se o mundo em que vivo fosse insignificante
Diante de uma outra vida emocionante?

Nunca irei saber
Mas posso sentir
A dor que me faz pensar
É o amor que eu fiz sumir
A saudade sem causa
É a causa do que sofri
Por não ter escolhido o caminho
Ao qual seria muito feliz

Mas não podemos ficar sempre pensando nisso
Nem fortalecendo esse sentimento
Porque é uma dor inútil
Criada pelo tempo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Minha Jornada (música)

Mais uma vez
Entre versos diversos
Fez sua voz ao infinito
Pra alcançar o reverso
Do que já havia sido escrito

Mais outra vez
Deixou de esperar
Perdeu-se em desenhar
Ganhando a vida inteira num segundo
(Calou o mundo)

Se a procura é longa
E o destino é comum
O prazer de si
É a jornada e não o fim

É a jornada e não o fim (x4)


Mais uma vez
Entre versos diversos
Fez sua voz ao infinito
Pra alcançar o reverso
Do que já havia sido escrito


Mais outra vez
Deixou de esperar
Perdeu-se em desenhar
Ganhando a vida inteira num segundo
(Calou o mundo)


Se a procura é longa
E o destino é comum
Faça-me pensar
Faça-me agir

Pois é a jornada que eu quero seguir (x4)

É a jornada que me faz sorrir
É a jornada que me faz rir
É a jornada que me faz ir

Até onde só poucos conseguem viver
Num imenso prazer de glória
Na história
Mais uma vez.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Heroico Quebrado

Pra ti sou parte sua
Pratico a nossa vida
Então vê se não parte
Outra paixão perdida
Antes que essa ferida
Meu coração infarte

Errado Ego Regado

O galo galgou ao lago alagado e largou o largo gole de ego da guéla que havia guelado do gogó do gago por gula.

E assim se pôs a si acertado
Pois agora, enfim, estava curado
Da triste escória de não ser notado
Depois de roubar o certo do errado

Muitos de nós somos como o galo. Vivemos puxando ideias tortas, porque esquecemos de endireitar a nossa vista do horizonte. E assim continuamos: para sempre desalinhados.

Tentemos então
Antes de aceitar uma visão
Conferir se os olhos estão fechados ou não

Até que a verdade
Seja, por unanimidade
A linha correta da nossa razão

A via direta à realidade.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Daqui Pra Frente

No meu caminho se encontra
Eterna sede da lembrança
Dos passos já fincados
No desgaste da esperança

Passara há tempo e não me lembro
Nem me ponho a tentar
Lembrar do piso já andado
Ou do medo enfrentado

Se a angústia me devora
Para que voltar a ela
Quando o caminho já marchado
Vai embora e nem me espera

Sigo à frente, sem cuidado
Indiferente do futuro
Pois não há muro que tão duro
Nunca ceda ao meu recado

Se o passado fosse quente
Não estaria atrás da gente
E é assim que dou um passo
Só olhando à minha frente
Para não perder meu espaço
Ou tornar-me um indigente
Sem saber que é diferente
O farto do escasso.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ledo Início

Quando  estamos longe
Fico  bem diferente
Com  uma vontade de ter
Você  comigo

Me  desmancho em prazer
Sinto  a leveza entre a gente
Muito  suave por ser
Feliz  contigo

Quero  me perder em seu olhar
Lhe  dizer que almejo
Ver  nosso futuro
Agora

Vem  esquentar meu inverno
Me  tirar do inferno
Levar  minha dor
Embora

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cada arte: uma arte.

É injusto comparar a abrangência expressiva do texto e do quadrinho. São duas linguagens com formatos bem diferentes, principalmente pela concepção. Criar uma cena em palavras é muito mais fácil do que criá-la em quadrinhos. Escreva "chuva" e tem-se a tempestade. Mas todo quadrinista sabe a dificuldade de conceber as várias gotas d'água. Um parágrafo que levou cinco minutos para ser criado pode descrever uma cena que demorou uma hora para estar num quadrinho. A profundidade expressiva, porém, é algo bem singular entre as duas artes. A leitura, a sensação e o enquadramento são aspectos específicos a cada um - além, óbvio, do formato.

Compará-los é o mesmo de comparar o sabor da maçã e do arroz. São alimentos diferentes. Cada um possui tipos diferentes. Cada tipo pode estar bom ou ruim e, acima de tudo, cada pessoa que os comem pode ter um paladar diferente. Enquanto o texto promove uma arquitetura de informação adequada à interpretação concreta de fatos e maior imaginação visual, o quadrinho realiza o contrário. A linguagem cartunista contém a interpretação concreta visual e maior imaginação de fatos. Isso significa, portanto, que apesar dos quadrinhos possuírem menor facilidade na leitura objetiva, eles possuem facilidade maior na leitura subjetiva. São duas formas de expressão diferentes, então não há como comparar a expressividade das duas linguagens. Agora, por exemplo, me expresso em palavras para ser interpretado de forma concreta e objetiva acerca do fato. Mas se quisesse fazê-los pensar por si mesmos esta situação, faria por quadrinhos. É uma questão de escolher a ferramenta certa para concluir seu objetivo com eficiência.

Isso inclui todas as onze artes. Paremos de compará-las, pois seremos automaticamente equivocados na mesma intensidade de comparar arrozes e maçãs. Podemos preferir uma a outra, mas nunca dizer que uma delas é simplesmente melhor ou pior. A Música não substitui a Dança, que não substitui a Pintura, que não substitui a Escultura, que não substitui o Teatro, que não substitui a Literatura, que não substitui o Cinema, que não substitui a Fotografia, que não substitui o Quadrinho, que não substitui os Jogos interativos, que não substitui a Computação Gráfica. Nenhuma arte substitui a funcionalidade da outra. São expressões diferentes, linguagens diferentes.

Então, a quem clama pela "cultura indagável" do livro, entenda o valor cultural do quadrinho tanto quanto as milhares de letras do texto. A quem esbanja a "expressão indiscutível" das pinturas, perceba, tanto quanto, a expressividade de uma arte montada no computador. A quem adora engrandecer a "belíssima e incomparável" peça de teatro, saiba que um filminho no cinema pode ser tão especial quanto. Valorizar antigas manifestações culturais (o famoso "retrô) é algo muito difundido atualmente. Contudo, não sejamos chatos, arrogantes e equivocados. Cada arte é uma Arte. Compreendê-las faz parte.

Cuspi essa ideia após este post formá-la em minha cabeça.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Arte é um Fardo

Dou a cara a beijo
Recebo tapa que não almejo
Continuo firme no desejo
Sacio a sede da opinião

Me rasgam a pele que ofereço
Batem minha cabeça ao chão
Bem quando estou disposto a usá-la
Para aprender com a discussão

De perto, uso a mão
Mas vêem apenas garras
Ao longe, pareço às farras
Daqui, é educação

Expresso aquilo que me apego
Pra criar um deserto no coração
Jogar fora minhas alegorias
Esvaziando o peito de emoção

Uns acham que arte serve pra emocionar
Serve não
A arte é um fruto puro da emoção
Serve mesmo para esfriar o calor da criação
Tirar essa agonia, essa aflição
De dentro do peito de quem se expressa
A arte tem uma relação inversa
Quanto mais permanece no artista
Mais é perversa

Por isso tento tirá-la daqui
Deixá-la livre, enfim
Sentir o frio refrescante
Após me expressar

O resto guardo para me resguardar
Pois a guarda dos opostos a mim
É maior do bem que tento passar
Bem maior.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Açúcar Cristal, Refinado, Mascavo...

Vêem-se como donos da verdade
Disfarçados de humildade
Julgam tudo o que acontece
Mas não tecem nada que julgam

Dizem controlar a própria mente
Sem nem chegar à coerência
Acham que são pura inocência
Enquanto repassam falsos valores

Para eles, nada importa
É só isso, só aquilo, só somente
Dão um passo pra trás
E suas ideias pra frente

Acham que, distante, sairão ilesos
Por não pensar como a gente
Suas ideias buscam o equilíbrio
Sob fontes desequilibradas

Se baseiam no "calma, tem que dosar"
Mas só têm tipos de açúcar pra colocar
Ao sal, são indiferentes
Seguem o comum por conveniência
E ainda acham que têm controle de sua inconsciência

Pobres jovens telespectadores.
Enquanto 300 lutam por todos nós,
A mídia joga cuspe nos combatentes
E os náufragos do sofá engolem contentes.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pare, Pense e Não Pare (Música)


Quem tem medo de sofrer
Vira o rosto e fecha a cara
Sai de baixo e sobe o vidro
Corre mais se ele nos pára

Não há dúvida em dizer
Que há uma inversa noção do saber
É incômodo um preto no chão
Mas tá de boa jogar bomba na prisão

Os maus costumes quem sou eu pra entender
Me dizem isso e aquilo, às vezes opostos
Mas os opostos se atraem, e nos ensinam
Que Deus nos ama e nos bota pra sofrer

Parece que tudo tá em crise de vontade
A existência das morais desconhecem a verdade
E essa realidade de ilusões despercebida
Só nos deixa sob uma alternativa:
Atividade

E a cidade nos impõe uma série de exclusões
Pra nós é muito, é pouco, um punhado de saguões
Quem nos dera ter um pouco de poder
Pra ver todo esse cárcere nas janelas dos aviões

Pare e pense, mas não pare por aí
Por que quem pensa, desenvolve
A arma branca do agir:
Conhecimento (Educação!)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sejamos Nós

Aos fracos serei franco:
Estou no mesmo barco.
E nesse estouro que a mim arco
Digo sim ao que é novo
Ponho fim no que estou farto.

Se a vida é um saco
É porque fiz ela de plástico
Sejamos mais de nós de fato
Do que viver a sós

Pois o castigo do iludido
É estar pra sempre arrependido
Enquanto pensa mas não faz
E faz o que não pensa
Daí por essa diferença
Vive eternamente sofrido

Por si mesmo,
Incompreendido.

sábado, 17 de setembro de 2011

Vazio de Mim

Estou incerto dos meus fatos
Não conheço a mim direito
Capaz de ver-me a raíz
Do que sofro infeliz

Estive morto por um tempo
Não conheço a mim mesmo
De um lamento, me desprezo
De alegria, menosprezo
De saudade, me acanho
De verdade, me disperso
De amor, me desconexo
De mim mesmo, estou perplexo

Sou quem sou ou quem eu era?
Nem sequer sei a resposta
Não estou com a vida exposta
Mas já sofro por outrem
Sem saber do que convém
Sem perder já sou ninguém
E se ganhei não vi de quem

Tento lutar mas não consigo
Desconhecer-me é um perigo
Já não mais sei se estou ferido
Ou se procuro por abrigo
O que me importa está esquecido
O que me aquece foi perdido
O que me esfria, proliferou
Estou com frio, sem cobertor

O diferente interessante
Hoje é só um estranho
Falo cego, prego e calo
O que eu era antes
Em mim tornou-se raro

Tudo é simples, burro e chato
Tudo é pouco, muito ou caro
Eu costumava ver a frente
Hoje escondo-me na lente
Suja e distorcida
De um universo sorridente
À mim, decadente

Quem eu era me fazia feliz
Me fazia feliz pelo que eu era
Hoje travo-me uma guerra
Entre mim e a mim
Minha sanidade eu perdi

Estou longe do que sou
Preso a um corpo desorientado
Estou certo de que há algo errado
Mas estou errando por algo já consertado
Tranquei-me em outro por um desagrado
Sou menos de mim, e me degrado
Sobre meu corpo, sou condenado
Não encontro a chave, encarcerado
Pelejo a ver quem sou de fato

Salvo eu era, indeciso e curioso
Hoje, sujo e furioso
Prego mal aos meus próximos
E o bem ao meu novo osso
Que, de cálcio, está escasso
E nem por isso eu o almoço
Porque meu corpo fala mais baixo

Quero apenas um caminho
Um atalho, uma saída
Que me leve, ou não, sozinho
Por uma alternativa
De voltar a ser quem era
E não sofrer por ser mim mesmo
Assim, de agora, insatisfeito
Quero viver direito

Ninguém é só perfeito
Nem também é só defeito
Mesmo assim rotulo e queixo
Sou mais voz que coração
Vivo em plena escuridão
Sem saber qual é o eixo
De toda essa lamentação
E o rancor deste meu peito
Consome em mim a minha razão
Faz de quem sou um resmungão
Me empobrece a paixão
Que antes vivia sem desleixo

Mal digo quem sou eu agora
Porque a mim eu desconheço
Queria muito a luz do atalho
Me dizer no que eu falho
Me mostrar o meu caminho
Que pra sempre andei sozinho
Sem preocupar-me com o vazio.