Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
Matei e joguei fora
A luz que em outrora
Fazia-me sentir bem
Maltrato com desdém
A vida que apavora
Ao fato de também
Ferir-me sem porém
Fugir sem ir embora
À noite eu perco a hora
Meu corpo em si ignora
Sinais que não intervêm
O luto então demora
O surto me devora
Eu curto há mais de cem
E o amor, que ironia
De verdade só piora
Mas trato com desdém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém
Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora
Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem
A luz me ignora
O amor que jogo fora
Não mais em mim mora
Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém
Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora
E apago com desdém
A luz que jogo fora
Na dor que me devora
Despeço-me de outrora
fora, mora, chora, hora, apavora, demora, melhora, piora
bem, sem, intervém, além, cem, vem, porém, tem, amém, porém, ninguém, contém
Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor em mim devora
Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem
Mal digo quem sou agora
A mim já desconheço
Segui por um vil atalho
Irrompi no que já sou falho
Ensinar-me este caminho
Onde sempre andei sozinho
E hoje já não reconheço
Mal vem a dor que me devora
Derrete em mim toda essa lágrima
Cedo ao chão sem que a hora
Me desperte em solidão
Me derrube sobre a dádiva
De pensar que houve outrora
Uma emoção ainda ávida
A vibrar meu coração
Mal que vem talvez pro bem
Deixa em mim a sua proposta
Levanta o corpo e me encosta
Nesta parede que lhe intervém
Que alguma luz nos venha à mostra
Iluminar o meu alguém
Esclarecer a minha aposta
Desdizer o meu desdém