sábado, 23 de março de 2024

Mal digo quem sou agora

Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
Matei e joguei fora
A luz que em outrora
Fazia-me sentir bem

Maltrato com desdém
A vida que apavora
Ao fato de também
Ferir-me sem porém
Fugir sem ir embora

À noite eu perco a hora
Meu corpo em si ignora
Sinais que não intervêm 

O luto então demora
O surto me devora
Eu curto há mais de cem

E o amor, que ironia
De verdade só piora


Mas trato com desdém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém

Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora

Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem



A luz me ignora
O amor que jogo fora
Não mais em mim mora


Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor que em mim mora
Destrato com desdém

Fui muito mais além
Isso que me apavora
Me faz perder a hora
E o tempo jogar fora



E apago com desdém
A luz que jogo fora


Na dor que me devora
Despeço-me de outrora

fora, mora, chora, hora, apavora, demora, melhora, piora

bem, sem, intervém, além, cem, vem, porém, tem, amém, porém, ninguém, contém

Mal sei quem sou agora
Criei-me como alguém
A dor em mim devora
Foi muito mais além
Do medo que apavora
Da luz que vivo sem


Mal digo quem sou agora

A mim já desconheço

Segui por um vil atalho

Irrompi no que já sou falho

Ensinar-me este caminho

Onde sempre andei sozinho

E hoje já não reconheço


Mal vem a dor que me devora

Derrete em mim toda essa lágrima

Cedo ao chão sem que a hora

Me desperte em solidão

Me derrube sobre a dádiva

De pensar que houve outrora

Uma emoção ainda ávida

A vibrar meu coração


Mal que vem talvez pro bem

Deixa em mim a sua proposta

Levanta o corpo e me encosta

Nesta parede que lhe intervém

Que alguma luz nos venha à mostra

Iluminar o meu alguém

Esclarecer a minha aposta

Desdizer o meu desdém