quarta-feira, 16 de julho de 2025

Só Você que eu Namoro

Vem a mim, pura pressão

Que se desfaz à ventania

Faz de si nobre ilusão

Cria em mim a poesia


Cai em mim

Cai em mim doce paixão

Chora quando não queria

Conhecer a sensação

De sofrer por estar sozinha


Quando em águas

Quando em águas eu me livro

Me desaguo em teu sorriso

Me apego ao teu seio

Sou melhor a ti por isso


Faz da minha

Faz da minha livre história

Sua melhor malandragem

Que só vejo de passagem

Ao cegar-me por tua glória


Caio besta

Caio besta em seu colo

Só você que eu namoro

Já estando desatento

Me despeço ao teu alento


Quem diria

Quem diria o movimento

Ser tão longe de onde moro

Quem dirá se eu lhe aguento

Pois num olhar eu logo choro

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Terminar


Devora-me seu olhar
Só por dor de se afastar
Sol se põe, diz sem pudor,
Pra que a lua vá brilhar

Mas, à sua sofridão,
Também sofro de antemão,
Pra sem cor me apegar
Ao incolor da sua razão

Pudera seu amor
Ser por mim e mais ninguém.
Quem dera seu desdém
Cedo vire um porém,

Para a lua então brilhar
No céu com o sol também.
E enfim o nosso orar
Ter fim com um Amém

sábado, 3 de maio de 2025

Nosso Combustível


Peço a Fernando Pessoa me deixar escrever sobre o que é compreensível. Talvez também pra você.


Bem… Viver não é preciso.


Porém morrer é possível. Você não é invencível. Então para de ser uma pessoa invisível e crer num sonho infalível. Jamais agir sem temer, ou só temer sem agir, sei que é imprevisível, mas eu digo a você:


Vá por mim. Se arrepender é plausível. Difícil é sofrer. Deprimir é terrível, mas amar irresistível. Confiar dá prazer. Inadmissível negar. Por isso, seja sensível. O melhor que você faz é buscar sua paz nas poucas coisas reais, onde o incrível está. 


E digo mais: navegar é preciso. Então corra atrás de comandar o dirigível.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Passe (ajustado)


Nem tudo é sobre nós.
Também é sobre laços.
Saudades que me doem
Convêm do embaraço.

Meus laços me destroem.
Em nós eu me desgraço. 

Deus que nos perdoe
Deixar que um sonho soe
Pros outros: meu fracasso.

Problema, já não ligo.
Fosse bom, já tinha sido.
Se vão for, foi merecido

Sofrer sem ter vivido,
Morrer sem dar um passo.

domingo, 27 de abril de 2025

A Destemida IA

 

À IA, faço arte.

Me doo e expresso. 

Regresso eu soo,

Mas digo-lhe o inverso:

Seu prompt é o léxico

De um ser reconvexo.


Então não descarte

O meu próprio verso.

Pois somos, em parte,

Donos do contexto,

Leais à verdade.

Reais no pretexto.


Nossa criatividade

Endossa o que peço.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Levantas-te


Na vida, se há mágoa
Por ser ressentida
Por que cargas d’agua 
Tu sofres, querida?

Se fostes mais árdua
Estarias perdida
Terias já largo-a
Em tese, morrida

Pois preze-te, amiga
Cá calo-me e, contida
Tu me falas sofrida
Ter se arrependida

Por ti deves ser erguida
No abalo da caída
Sem uma mala que te pese 
Em cada dor a que se lida

Peito Vazio (2)


Só me resta a fome
De, como todo homem
Ter um belo amor

Enfim, eu já não sou
Tanto quanto antes
Igual um Beija-flor

Se prego todo dia
Tal qual minha euforia
Eu dou-lhe a mentira
Como quem já lhe surtou

Se rego o plantio
De um jardim senil
Meu peito suspira
Como quem eu mesmo sou

Ponho tudo a perder
Porque já me perdi
Se hoje perco a sofrer
É porque me feri

Então não venha dizer
Se eu me arrependi
De matar fome outrora
Com tudo o que eu vi

Pois posso garantir
Assim como a fome
O que eu como agora
Depois volto a pedir

Um amor que em mim desperte
A vontade de sentir

sábado, 12 de abril de 2025

Amanhecer


Ego à luz da voga 
Alego-me afogado
Nego estar largado
Ao lago nado imerso

Navego cá disperso
Vago-me sem lado
Divago desconexo
No poema que lhes trago

Um eu bem mais complexo
Isto é, se for possível
Confunde o imprevisível
Em afago já alagado 
Há de mim em cada verso

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Paz Sem Luz


Paz de outrora em vida
Faz de si esquecida
E à sombra jaz retida
Ai de mim que a siga

Paz da aurora erguida
Mas sem ter dormida
Vai a mim ser tida
Como arrependida

Paz com luz se lida
À sombra me assombra
Afaga-me em luma
Toda a dor sofrida

Desta minha lombra
Árdua incompreendida

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

João Carão


João Carão, em sua casa
Usava tudo do mais sujo
Seu bule mesmo era um nojo
Sua triste cozinha um entojo 

João lavava só a alma
Deixava o resto aos mosquitos
Sua aparência, tão esquisita
Pedia arrego mesmo tão calma

João Carão limpava a si
Com fé e foco pros seus projetos
Que acumulava sobre dejetos
Em companhia dos bichos ali

João fazia tudo a rigor, mas
Deixava rastros por onde passava
Vivia sempre fazendo mais
Do que o rancor que ignorava

João Carão, vá se arrumar
Pediam todos a todo dia
Sem que ele ouvisse, pôs-se a cantar
Abafando o bafo com melodia

Mas quem sabia quem era João
Só conhecia a sua nojeira 
Os seus projetos ficavam à beira
De somente sua suja prateleira

João tinha muito para contar
Muito para dizer
Pouco pra reclamar
De tudo, como foi ser

João Carão foi se banhar
Apenas no mar de suas ideias
Enquanto o corpo a defumar
Ia afastando suas plateias 

Quem sabe um dia, talvez João
Faça de si mais higiênico
Faça sua casa um lar mais cênico
Supere a ordem da podridão
Com o organizar de um ser autêntico
E assim poder lavar suas mãos
De quem lhe julga patogênico.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Todos Um Dia


Quem se descobre
Antes nuvem, hoje chove

Quem se encobre
Antes vinha, hoje daninha

Quem se cobra
Antes sobra, hoje falta

Quem se salva
Antes vive, hoje morre
Pois não há

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Arte em Cárcere


Dou a cara a tapa
Face já tão fraca
De tanto se doar
Nunca sobre capa
Sempre como está

Sou igual à prata
Nobre colocado
Nunca campeão
Não acomodado
Mas sem ambição

A arte, o meu fardo
Faz-me prisioneiro
Torna-me herdeiro
Da livre expressão
Num ser desajustado

Pois sim, eu bem queria
Contudo e todavia
Manter a tradição

Pois sei, o que me guia
Com tudo em toda via
Mantém meu pé no chão

Sou arte em poesia
Só ela anestesia
Meu pobre coração

Sou parte fantasia
Que em torta ironia
Detém-me na prisão

Porém dessa magia
Endosso a heresia
Daqui não saio não

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Penúltimo Ato (Resumo)

Ao cair por um tropeço
À depressão dei endereço
Fiz do fim um grande apreço
Dispensei um recomeço
Dei valor só ao que tem preço

Que mereço, eu confesso
Essa dança reconheço
Tão somente me desfaço
Traço em mim um passo em falso
Ao escasso me ofereço

Mas se passa em sua cabeça
O que penso e o que passo?
É só isso que lhe peço

Ao avanço me disperso
Já cansei-lhes meu disfarce
Minha face sempre sonsa
Tão sem graça já não desce

Mas se a mim cê reparasse
Num olhar tu me adentrasse
E a minha dor então sofresse
Meu agir reconhecesse

Na origem da ofensa
No assédio insistente
No meu câncer padecido
Na distância fluminense
No meu coração partido

Aí, sim, então somente
Cê veria meu sangue quente
Tão espesso e aderente
De emoções tão permanentes
Em memórias displicentes
Que, por escória, só as más
Eu me lembro infelizmente

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Escada


Pra cada degrau, uma pausa
Pra cada subida, uma vista
Pra cada tropeço, a caída
Pra um recomeço, a volta
Pra cada saída, um artista
Pra ser compreendida: a causa
A mão de cada um ninguém solta

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Cá Estou


Cá estou novamente
Já me sinto mais forte
Já não sento esperando
A minha vida passar

Cá estou claramente
Não mais sinto o recorte
Não me vejo pensando
Num destino a falhar

Cá estou tão somente
No aguardo suporte
Do meu ser reformando
Com razão pra lutar

Cá restou minha mente
Tive, foi, muita sorte
De lhes ver me ajudando
E a minha dor vir curar

Cá estou paciente
Mais atento ao norte
Mas bem lento vou dando
Cada passo devagar

Cá estou persistente
Para que então possa
Parar de viver sofrendo
E poder, a mim, eu voltar

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Acertos


Distantes estamos
Do par que já fomos
Tal mar e oceano
Sagrados profanos

Diz tanto o que somos
Tão grandes desejos
Tudo que alcançamos
Lampejos insanos

Tão bom acertarmos
As pontas dos canos
Por onde os enganos
Passaram a ser-nos
Um mal que enraizamos

Tão bom retirarmos
A culpa de dentro
Tão sem fundamento
Mas que nós criamos

Passaram-se anos
Só agora nós vamos
Cuidar de si mesmos
Como nunca fizemos

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Elô


Faz-se tão tônica
Guarda em si outra
Duas em uma
Doa-se em suma

Chuva de espada
Em chão de fofura
Nuvem chei d'água
Ou seca ou alaga

Faz-se tão sônica
Guarda-se em guia
Que torna-se icônica
A sua correria

Como um avião
Pousa e decola
A sua razão
No que lhe assola

Já o que avassala
Tal fera devassa
Ela devora
De antemão

Por isso, abre sala
Que digo-lhe a graça
Dessa senhora:
Eloísa Leão

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Desejo


Desejo que eu ame
A todos que encontrar
No que ainda me resta
De vida a trocar

Desejo a cada nome
Do qual ouvir falar
Tudo que em mim presta
Poder compartilhar

Desejo como homem
À palavra confiar
Minha fala tão honesta
Que hei de, enfim, bradar