sexta-feira, 28 de junho de 2024

Buraco Negro

Sumo tanto e assumo
Quase que dissolvo
Faço que não solvo
Caço e'inda salvo

Laço, como, assusto
Luto, mas não, salto
Tanto, mas tão alto
Pago mesmo, o custo

Gasto, pois desgasto
Sei que estou farto
Base que desgosto
Gosto quando parto

Mês que me arrumo
Desde que desabo
Fez em mim, um amarro
No mesmo cabo, em que fumo

Louça a que eu lavo
Beijo, a paz de quem me doo
Mago sei que não, galgo
Ouça o que vejo, e trago

Antes de falar, quem sou
Desses versos acabo
Dos outros, deixo guardado
Mas lembrem sempre, um fato
Onde houver rio, e mato

Nunca serei escaldado.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Não Me Leve Ao Mal

Há quem lidere e subestime
O poder que é tão sublime
De saber a hora certa
A frase correta
De se comunicar

Há quem diga que o ciúme
Se valida com quem sente
Sem saber que anteriormente
Dá-se luz ao que se teme
Faz-se jus ao que se entende
Pra depois estar presente
E poder se dialogar

Há quem diga que se sabe
Como se relacionar
Há quem faça até poema
E chegue até a publicar
Fingindo tanto quanto todos
Depois de ter tanto problema
Do aprendizado, crio um lema:

Não me arrependo de amar.

Ser Ou Não Sei

Dentre o quórum já citado, faço em coro a minha astúcia 
Firo a pira da pelúcia conhecida da infância 
Medicada dedilhada, por tão valha dor sedada 
Calha malha cá sarada, cura em si lá transformada

Vem demais tão transparente, torta sã capaz dormente 
Lista a luz de um quadro ausente
Soma em paz, devassa sente, gera em transe fácil lente

Sem girado o galho ofício, deixa à palha agulha em frente
À procura não descrente, mente e falha o artifício

Faz da usura a própria mente, goza impura a tal serpente 
Corta e fura como sempre, vaidade outrora a nós sofrida
Jaz à altura desmedida tão apropriadamente

Calor de agora a sós amiga, joia rara a quem penhora 
Nobre mágoa a lama afora, noz amarga apodrecida
Voz calada ensurdecida, busca a morte aonde mora
A nós deságua e sobra em vida

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Adormerecida

Odisseia dos errantes de uma velha maestria
Desce e falha a euforia sobre corte tão infante
Neste instante já distante dei por mim que o atingia
Nem por isso lhe cabia ser assim repugnante

Impiedosa letargia diadema a que pena
Tão danosa alergia coloria mais um tema
Saborosa cantoria incendeia-me em chama
A quem chamo de orgia sem agir na minha cama

Sabe lá se sua via havia via a que vivia
E se via adormecida suicida que vicia
Vivencia cá vazia sua cia aqui sozinha

Intrigante insuportável coro triste ensurdecido
Ouço e grito a mim mesmo pois pareço entorpecido
Calo a mente condizente com o viés do merecido

Seu estúpido insolente, dê juízo ao teu crivo.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Então Que Seja

Sobre a cor que nos estampa

Tampouco o ar que me renova
O que me muda ou me transforma
É a realidade da nova guia
Sou o mesmo de sempre, e não importa
Se há controvérsias do meu estilo
Sou um pouco aqui e um pouco ali
Eu me contorno a qualquer presença
Me faço igual ou diferente
Minha face é máscara de tanta gente
Mas mesmo assim não me comporto
Com o coração sou eu mesmo sempre
Para uns há luz, outros escuridão
Para poucos há raiva, outros paixão
Para muitos há névoa, outros viagens
Para todos há o mesmo, mesmo que pareça invenção
Não é a cor que me rotula
Tampouco a voz que me inova
O que me muda ou me transforma
São as amizades da minha vida

Senti o ar descer comigo
Salgara o fel do livre arbítrio
Quiçá o sol fosse infinito

terça-feira, 18 de junho de 2024

Sem Prendimentos

Se aqui estou acordado sem que doa o meu refúgio
Do prazer de um sono amado ante o gozo duma ideia
Significa que sou grato ao destino concedido
Pela arte tão presente a correr em nossa veia

Já não fujo àquele medo de sofrer pelo ocorrido
Ao sentir-me abatido por perder um tanto cedo
Um futuro planejado neste ensejo tão sofrido

Nem mesmo choro sem sentido o fracasso surpreendido
Por estar um tanto longe de um destino não esculpido
Previamente imaginado porém num alívio admitido
Sobre o que fora acordado e hoje vejo quão fui salvo

Larguei mão do brio nocivo se o processo eu mesmo faço
Dou cara a tapa a cada etapa com cara limpa sem desculpa
Muito agradeço ter logo errado pra cedo ver o revés da luta
Pois aqui pago a minha multa ao receber régua e compasso

Se acordo há um instante de um sonho consciente
Abro os olhos com vontade ao me ver tão transparente
Cada dia mais distante meu sintoma faz presente
Condenado a compreender, relutei em relevar
Porque a vida é sofrer: pra nascer tem que chorar.

sábado, 15 de junho de 2024

Para Nós

Num calabouço intangível
Jaz aflita em condição
Minha memória sem censura

Pois só ouve quem sussurra
Sem dar voz ao concebível
Deixa em mim o inexplicável

Faz meu mundo maleável
E eu que já de tão sensível
Deito fácil ao imaginável

Perco torto a minha noção
Vivo ausente à sensação
De conforto e confiança

Todo apego à coincidência
A ignorância ela semeia
Por cada análoga ideia
A que me ilude uma plateia 

Neste escárnio alegórico
Fardo fato que estou farto
Já cansei de, tão eufórico
Até quase ter um infarto

Nesta busca inalcançável
De uma paz tão razoável
Vivo como um invisível
Só minha falha é notável

Mas um dia há de vir
Curar-me do que for possível
E a minha voz será a única
Que irei ouvir de mim

terça-feira, 11 de junho de 2024

Tianmelus

Derradeira morte em vão

Que despeço-me então

Faço vil a sua ausência

Pela sua luminescência


Cai a noite e sigo em frente

Deixo este caminho e volto

Mas tampouco estou envolto

Já que sou tão diferente


Outra aurora diz-me outrora

Que afora foi-se embora

Deixou-me à hora tão confusa

Na raiz de outra vara


Mas, que pena, joguei fora

Quando vi tão firme tora

Tal como disse-me Cazuza

O tempo não para