domingo, 15 de setembro de 2024

Esquizoide

Esquizoide dor aguda
Faz de mim sua Pompeia
Deixa história ou destrói-a
Me avassala ou põe-se muda
Tal vassala a fazer sala
Na senzala a que encarcera

A mim salva ou põe ressalva
Salvaguarda mal pusera
Cria a tiara da Malévola

Ao meu controle tira ou gera Vem a mim como já vinhas
Me ferindo sobre pérgola

Há de vinho quem me dera Faz-me presa ou põe-me fera
Torça ou fira, aquém me importa

Feroz bata-me à urtiga
Na horta cure-me em arruda Qual da tua foz se define em luta

Mal tão algoz ou sublime culpa?
Atropela a minha voz ou a atrela à garupa?
Paranoia a entortar esta minha fé absoluta

Vê se me esquece, para eu poder prosseguir em paz
Já que jamais conseguirei zerar o findo da minha conduta
Ao menos forneça-me a verdade sem que me importune
Pois absorto jaz eu morto à dor aguda que me pune.

Nova Era

 
Calmo vos declamo:
Ao ir me deixo nu um tanto
Pois há, meu eixo, de vir, no entanto
Virá a seguir daqui, portanto
Dado por ti o brio encanto
Tão cego via-me ali
Mal pude discernir
Sentir seu eu a me ouvir
Pra lhe despir hoje enfim
Ver-me ao menos bem maior
Contanto que com tanto amor
Sem julgar culpa a rigor
Nem feri-la por rancor
Desde o sol raiando cedo
Notei logo meu placebo
De todo modo, sou eu mesmo
Quem vos fala já sem medo

Laço Apertado

 
A gente até parece um só
Descalço em areia quente
Caço sombra em meio ao sol
Sua beleza à minha frente
Nosso amor como miragem
Viu uma ilha onde era atol
Na surpresa da paisagem
Tanto cerco em tal viagem
Que me perco do farol
Nos amarramos um ao outro
A sós ficamos tão melhor
O que há de nós ainda é pouco
Sem sua voz me sinto louco
E o coração bate mais forte
Ao deixar-me muito rouco
Nosso amor, eu acredito
Vai deixar nós tão mais fortes

Há Desdéns Plutão

 
No estourar de um martelo
Justo ele, tão singelo
Errara a cara do cavalo

Ao azar deste modelo
Entre galo e vassalo
Da justiça facciosa

Cordialmente sectária
Nua e crua, mas secreta
Faz o feio virar belo

Não repara quem fez zelo
Negligente como gelo
Ela bate o seu martelo
Tão injusto, mas singelo

Perdoai-vos

 
Ao giz algoz, ferir-me quis
Alto em nós há já um triz
Do mal tal diz secar raiz
Dar fim só ao que já fiz
Maus seriam pois aí erram
Por lá trazerem a foz sem fim
Simples seria sua fé em mim
Mostrar-lhe o galho não condiz
Livrar do atalho a que conduz
Fazer do erro a sua luz
No tronco seco a dor feroz
Em duplo sopro faz de nós
Agulha prega do problema
Fechadura torta gira
Esse prego num dilema

Queimosia

 
Dá-se a toda teimosia
Um fio de perseverança
Linha tênue entre agulha
Que labuta num pavio
Clareando sua andança

Brincadeira de criança
Que lá surta se não viu
Ser favorito na infância
Você teima porque queima
Como agulha no palheiro
Desfazendo-se em cheiro
Incendiando a fazenda?
Ou cê teima porque queima
O algoz do travesseiro
Dando giro num isqueiro
Com o gás dessa oferenda?
O que lhe queima lhe explode?
Ou lhe implode e faz seguir?

Em Gratidão

 
Liberto-me em ser
Ao abrir-me pra Você
Quando laço Sua paixão
Pudera eu viver
À eterna gratidão
Do Seu meu bem querer
Mas sofro por ceder
Descalço do meu chão
Me apego ao prazer
Da forte obsessão
Que livrai-me do querer
Ser-Lhe filho e escrivão
Ver meu inferno de ilusão
Faz-me só retroceder
O cuidado à construção
Ah, se fosse muito fácil
O poder de me manter
Sempre a salvo, com noção
Do difícil que é poder
Ter a chave da prisão
Ter Você no coração
Ter-Lhe sem ingratidão

À Rua Minto

  À rua não me esmoreço
Faço firme quem não sou
Mas que sim me reconheço
Noutra face que me dou
Me arranha a insegurança
Me detém a tanta dúvida
Me atenho na criança
Só brincando em sua dádiva
Nua completa me ofereço
Pois minha pele já restou
Sem a roupa que deixou
O meu corpo pelo avesso
Ninguém sabe onde estou
Porém todos dão apreço
Que talvez eu não mereço
Pois à rua a que me vou
Faz de mim um endereço
Deste meu tal recomeço
A que tanto me esforço

Por ser grato a teu feitiço

Que me põe logo a serviço
Pois foi isso que salvou
De viver naquele poço
E me deu este avanço
Na minha vida que mudou
O caminho que caminho
É só meu e vou sozinho
Porque meu ser acordou
Desse berço onde ninho

Mar Asmo

 
Que o marasmo me aponte
Esta ponte da minha via
Justo eu sem dor amarga
Fui querer a enseada

Do seu mar que jaz defronte
Da minha nobre empreitada

Tira a mim da sua frente
Ou terei que dar a largada
Da minha luta já tão quente
Que desfaz a sua alçada

Por Ti Oro

Pomodoro tão quebrado
Fez de mim um iludido
Contornou-se o que de fato
Resta em tempo ser saudável
Comodoro eu me faço
Dou a luz ao impossível
Que se perde em meu traço
Ao ceder pro inconcebível
Como adoro ter um tato
De julgar-me falecido
Ao querer ferir-me um cato
Sem sequer ter merecido
Corroboro o que entrelaço
Aos nós firmes do meu braço
Quando já eu me desgraço
Quando o fim for concebido
Credo, dai-me um abraço
Ilumina meu sensível
Coração a que infarto
Tão quebrado e sofrido
Por ardor a que me dão
Tão megero invisível

Esfinge

Esfinge do dilema
Aqui faço-lhe poema
A que estou por ter pecado
Ao fracasso da resposta

Finge ti que a mim tenha
Salva-me de ser abestado
Recupera o meu estado
Que em guerra se empenha

Meio humana e meio leoa
Sua forma já me doa
No prazer de ser chamado
Por aqui ter caminhado

Queime a mim de suas graças
Às desgraças em minhas costas
Pela dúvida ter errado
Na minha estúpida resposta

"Ele sempre, sempre corre,
Mas nunca sai do seu lugar"
Ela "o vento" espera
E eu, poxa, quem me dera
Não dizer à essa fera
Que o certo é o "pensar"