João Carão, em sua casa
Usava tudo do mais sujo
Seu bule mesmo era um nojo
Sua triste cozinha um entojo
João lavava só a alma
Deixava o resto aos mosquitos
Sua aparência, tão esquisita
Pedia arrego mesmo tão calma
João Carão limpava a si
Com fé e foco pros seus projetos
Que acumulava sobre dejetos
Em companhia dos bichos ali
João fazia tudo a rigor, mas
Deixava rastros por onde passava
Vivia sempre fazendo mais
Do que o rancor que ignorava
João Carão, vá se arrumar
Pediam todos a todo dia
Sem que ele ouvisse, pôs-se a cantar
Abafando o bafo com melodia
Mas quem sabia quem era João
Só conhecia a sua nojeira
Os seus projetos ficavam à beira
De somente sua suja prateleira
João tinha muito para contar
Muito para dizer
Pouco pra reclamar
De tudo, como foi ser
João Carão foi se banhar
Apenas no mar de suas ideias
Enquanto o corpo a defumar
Ia afastando suas plateias
Quem sabe um dia, talvez João
Faça de si mais higiênico
Faça sua casa um lar mais cênico
Supere a ordem da podridão
Com o organizar de um ser autêntico
E assim poder lavar suas mãos
De quem lhe julga patogênico.