Levo em mim o que de mim sobrou
Resta em mim o que de mim prestou
Pesa em mim o que você deixou
Volto a mim como quem eu sou
Quando olho pra trás
E vejo vocês
Percebo que estou
Num colchão de retalhos
Minha primeira certeza
por Danilo Freitas Souza
Não é a dor que me disseca
Tampouco o ar que me renova
O que me muda ou me transforma
É a realidade da nova guia
Sou o mesmo de sempre, e não importa
Se há controvérsias do meu estilo
Sou um pouco aqui e um pouco ali
Eu me contorno a qualquer presença
Me faço igual ou diferente
Minha face é máscara de tanta gente
Mas mesmo assim não me comporto
Com o coração sou eu mesmo sempre
Para uns há luz, outros escuridão
Para poucos há raiva, outros paixão
Para muitos há névoa, outros viagens
Para todos há o mesmo, mesmo que pareça invenção
Não é a cor que me rotula
Tampouco a voz que me inova
O que me muda ou me transforma
São as amizades da minha vida
Não deixe de seguir seu caminho
Rasgar livros mal escritos
Impedir os gritos do vizinho
Livrar-se do mal sozinho
Não deixe de sentir frio
De sentir o calor do vazio
De esvaziar as águas do rio
De viver por um fio
Não deixe de pensar
De plantar, deixar crescer
Reproduzir e morrer
Não deixe de amar
Não deixe de resolver
Seus piores medos, problemas
Ou deixe para depois resolver
Mas não esqueça-os debaixo da cama
Não perca por esperar
Um novo caminho a trilhar
Não deixe de andar
Enquanto se deixa levar
Pelo ar.
Não sei ao certo
Se há realmente
Uma vida na gente
Capaz de preencher o deserto
Estendo o complexo
Da razão ao desconexo
Do vago ao repleto
De um deserto incompleto
Não entendo o consciente
Me confunde, brinca comigo
Me desentende, finge de amigo
E depois some completamente
Estendo a minha mão para o ar
Em busca de algo encontrar
De algo aparecer
À minha personalidade
Enfrento o coração, tento acelerar
O ritmo do batimento
Só para evitar
Que ele pare em algum momento
Tento conhecer a verdade
De como sopra o vento
Da minha vida
Tento resgatar a saudade
Da minha memória esquecida
Tento dar a face desentendida
Ao prazer
Tento argumentar com uma cor desconhecida
O quanto estou cego pra ver
Apago as chamas do comodismo
E reacendo a fogueira do risco
Pois este estou pronto para correr
Me surpreender
Comigo.