sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Reflexão Instantânea

Eu sigo ouvindo vozes
Mas não sei de onde vêm
Eu caminho passos lentos
Para aguentar meu peso além

Esperei um minuto de minha vida
Atravessando a dor da lembrança
Parado ao vento, sem esperança
Parado no tempo, desde criança

Escrevi diversas palavras sem nexo
Desenhei na areia para sumirem
Recriei em terra o azul do mar anil

Depois escrevi na pedra para fincar
E ao reler me senti perplexo
Com tal maturidade infantil

Eu tive a certeza de um futuro
Como se conhecesse o tudo além do muro
Eu nunca me liguei de verdade ao agora

Eu criei uma destreza em sussurro
Como se assobiasse o tudo como um mudo
Eu nunca me peguei olhando as horas

Hoje me pego sensível ao redor do mundo
Mesmo no melhor dos sentimentos eu choro agudo

Eu choro agudo.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Culpa e Suicídio

Quando ele chegou no topo
Escreveu seu nome num casco
Salientando sua história de vida
E então desceu o penhasco

Desceu tão rápido e forte
Como se estivesse caindo
Desceu tão veloz o monte
Enquanto seu pensamento ia sumindo

Caiu numa estrada ao longe
Percebeu no braço um corte
Rasgou em si a própria memória
Tatuou no rasgo a imagem da sorte

Mesmo tendo esperanças
Ele parou ao meio da estrada
Pedindo morte

Vindo um caminhão, abriu os braços
Tal estrutura que não era seu porte
Levou um trombo e ficou em pedaços

Justamente por suas lembranças
Ele parou no meio da estrada
Pedindo que o nada
Venha lhe buscar

Foi-se mais um indivíduo ao além
O que aconteceu ninguém sabe
Mas foi numa noite calada
Que ele aprendeu a matar

Matou a si mesmo e virou assassino
Do próprio amar

Viveu a si mesmo e tornou-se egoísta
Com seu familiar

Ninguém merece, no suicídio, manter a culpa
De um outro alguém
A quem, com desdém
Jogou-se pro ar

domingo, 26 de outubro de 2008

Terráqueos

Há tipos de pessoas da qual, não se espante,
São quem a verdade constrói sob gélido frio
E não espera alimentar aquele, certeza,
Que está (pura avareza) tão distante
Do vazio

Estas pessoas procuram moeda no ar
Se enrijecem ao sentir na rua
Que passaram rente a uma criança nua
E esqueceram (?) de olhar

Tais pessoas preferem não argumentar
Com indivíduos baixa renda
Pois sentem a dor de uma encomenda
Sem correio a colocar

Mas nem por isso saem andando
Param à frente e olham por cima
Levantam o papo e erguem a crina
Para mostrar um ângulo diferente
De demente

São estas pessoas que preferem não dizer o nome
Fingem haver uma solidariedade interna
Mas então depois de visitarem a 'guerra'
Logo o prazer da humildade some

São donos de terra
Que amam o que come
São o lado contrário da serra
E o lado errado da fome

Violão (música)

A história do Universo está vazia
Em um desconexo
A alma jovem se complica
Nas noites de sexo

A lua morna
Se esquenta
E orienta
Quem namora

Tudo o que avançou
É magia
Da pureza
Da ciência

Tudo se transformou
Na folia
Da tristeza
E da clemência

A vida tão esperta
Tão nua e tão deserta
Cria sombras que calam o infinito
Do sol mais bonito

O desejo de quem apaga as velas de aniversário
É algo secreto
E o olho de quem vive mais um ano à frente
Se fecha e espera ser atendido

O beijo que eu roubei dela
Foi falsário e discreto
E o molho que dá sabor à minha mente
Seca a minha cabeça quente
No inferno

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Geração

Os minutos tão lentos passam
Como se o o tempo parasse
A velocidade se torna um disfarce
Dos segundos que se laçam

Nada é tão veloz quanto o pensamento
Nem tão lento

Os enamorados vivem como um só
Prendem-se um ao outro
Como se prende um nó
Mas nem sequer passa um mês
E esquecem de vez
O sentido do casamento

Os jovens alados vivem como
Se nunca fossem morrer
Fincam-se num conceito ilusionário
É como se esquecer de quem és
Olhando ao espelho o próprio disfarce
Sem um sentido passado que o realce

Os velhos casados vivem como
Se estivessem à espera da morte
Fingem esquecer da sorte e do prazer
De deliciar-se com mais um ano de velejo
Fingem não ter mais forças para sonhar
Mas se surpreendem com o último beijo

Ninguém se prepara para amar
Mas vivem a espera do desejo
De encontrar alguém para se prender

Ninguém sabe ao certo o que é estar
Ao lado e tão perto do seu bem querer
Mas tão longe e deserto do próprio conhecer

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Não Me Deixe Aqui (música)

Os meus sonhos desaparecem
Na ilusão do falso verdadeiro
Querendo encontrar um destino
Que me ame por inteiro

A minha alma envelhece
E meu coração continua quebrado
Teria eu mais outro possível amor
Que termine errado?

A lua se desfaz na escuridão
E eu a procuro numa imensidão
As sombras se tornam luzes
E a luz se esvai sob o chão

Me segure agora
Não me deixe cair
O vai e vém da nossa crise vai nos atingir

Não me importa a hora
Não me deixe sozinho aqui
Fique comigo até a lua sucumbir

O prazer se torna algo invisível
Como uma utopia da realidade
Eu ainda espero encontrar um você
Que entenda o meu bem-querer

Me segure agora
Não me deixe cair
O vai e vém da nossa crise vai nos atingir

Não me importa a hora
Não me deixe sozinho aqui
Fique comigo até a lua sucumbir

Eu ainda espero transformar a utopia
Numa verdade em que eu possa ver
Sem sofrer

sábado, 13 de setembro de 2008

O Nada Pra Fazer

Caminho e frio se cruzam
Num inverno tão quente
Uma estrada vazia
Dormente

Casebre e madeira são
a arte do marasmo
Um simples eixo
Desleixo

Família pobre e luz fraca
Num verão chuvoso
Leitão à faca
Saboroso

Poesia e tédio combinam
Mas não se completam
Os versos nem sequer rimam

Espontaneidade,
palavra difícil de falar,
É a desculpa de toda verdade
É a verdade que vem se desculpar.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Em Vão

As armadilhas do seu corpo
Prendem o meu coração
A luz que brilha dos seus olhos
São como estrelas na escuridão

A verdade é que sofro por não ter
O seu beijo, sua paixão
E tento não enlouquecer
Por saber que é em vão

Todo o meu amor por você
Não passa de uma ilusão
Um sonho surreal

Todo o arco-íris do querer
Não têm mais cor
Se tornou vagal

A nossa relação se desfaz
Como areia de praia
Toda a emoção jaz
Numa utopia de falha

Nunca alguém me olhou tão triste
Ao espelho
Não sabia eu que podia estar tão morto
Na vida
Sempre tive chances de consertar
Meu coração
Não sabia eu que toda tentativa
Era em vão

Não temia a dor da ilusão
Agora temo a saudade
E me afogo num mar de solidão

Não queria essa vida
Agora tenho de conviver
Com os retalhos de minha paixão

A cada momento desta agonia
Me perco ao solo sem um chão
Que sustente as falhas da utopia
E devolva a minha antiga emoção

Não me contento
Não me contento em continuar
Não me sustento
Nem mesmo tenho chances de voar
Não me aguento
Não aguento mais o meu chorar
As lágrimas que descem dos meus olhos
Pesam tanto quanto pesava o seu amar

Não há solução
Para a solidão
Não há e nem haverá
Uma paixão

Amar você foi como pescar
Num deserto
Foi um sonho acordado
Um apelo discreto sem voz
Foi um mal armado, errado e veloz
Um caos amado, lento e correto
Uma ilusão ao longe
E ao mesmo tempo
Tão perto

Minha alma finge ser completa
Mas está em plena destruição
A verdade cada vez mais aperta
Meu coração

Minha sina hoje é viver
Sem sonhos, sem calor
Pois o arco-íris do querer
Está incolor

Eu sobrevivi à mais cruel dor
Mas morri de solidão

Eu não perdi só a tua paixão
Perdi o teu amor.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sonho Final

O tempo morto chora em meus ombros

E eu continuo sério, como pedra

Frio

Mas não sinto frio


Todo o destino que lhe foi dito

Não se realizou

E seu sonho

Acabou


Todo o tempo se passou

E não há mais medo, nem raiva

Apenas a solidão


Tantas idéias, falsos sentimentos

Tanto branco, branco

Branco

Somente branco


Frio

Solidão


Sonho final

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Menino

Dorme filho à pedra fria
Tanto dorme que esquece de acordar
Vivia preso à maresia
E agora ao leito frio vem cochilar

O que será da armação desse menino
Se desde pequeno senta beira-mar
Canta o sono e vem sonhar
Pesca e dorme sem peixe catar

O que será da criação desse menino
Se nasceu sem voz nem zuvido
Nem o mais fino do zumbido
Há de ouvir ou de falar

O que será desse menino?
O que será?

Já muita gente veio a lhe visitar
Oferecendo erva-doce e vatapá
Queriam todos que o menino fosse
voltá'falar

Mas nem se zuvia um sequer zumbido
Por isso foi-se pouco querido
Ninguém lhe soube amar

Sem amor o menino chorou grunhindo
Mas nem mesmo lágrimas vinham a lhe molhar
Queria a Deus só um pedido:
Me dê voz e ouvido, quero poder falar

Por ironia do destino
Passou uma estrela negra no céu
E, atendendo ao seu pedido,
Deus lhe respondeu:

Levanta-te menino
Pois dormiste à vida inteira
E, deitado, não há como falar
Levanta-te e abrirei tua voz
Pois só há cordas vocais
Em quem acorda os pés

Anda, cria teu caminho
Faz teu próprio ninho


Então num brusco levantar
O menino pôs se a andar
E andou tanto,
que esqueceu de falar

Correu pelas corredeiras
Correu sob o mar
Cavalgou ao próprio quadril
E aprendeu a amar

A amar a si mesmo

Pois não basta ter voz para falar
Nem mesmo pernas para andar
Basta seguir o seu caminho
Sem medo de cair

Esta foi a história do menino
Que tinha medo de acordar
Mas por mudança do destino
Hoje tem medo de dormir

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sombras Das Estrelas

Eles se vestem de pessoas
Que não são
Eles se tornam outra gente
Por pressão
Da cultura pop que atinge
O coração

Eles se fincam no que brilha
Eles só brilham por reflexão
Porque fazem jus à uma imagem
Que não são

Eles são plásticos de imagem
São cópias da verdade falsa
São falsos verdadeiros
São os últimos dos primeiros

Eles se baseam no que predomina
Eles só predominam um baseado
Porque fazem jus ao seu amado
Ídolo

Eles adoram ler livros feitos
Mas não aprendem nada
Eles criam redações colegiais
Apenas por nota
Não fazem jus às suas palavras
Mudam a rota
Dos próprios conceitos
E continuam escondendo os defeitos

Eles se dizem originais
Poupados na marca do pós-conceito
Eles nem mesmo conhecem direito
O valor das ideologias reais

Eles sentem necessidade
Por viver à sombra da ilusão
Bloqueando qualquer passagem
Da verdade
Eles se baseiam na virtualidade
Eles só brilham por reflexão
Porque fazem jus à uma imagem
Que não são
Eles se vestem de pessoas normais
Se fingem de humanos
São apenas um ponto no mundo

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Te Conhecer Novamente

Quando eu penso em você
Me sinto livre, leve, feliz
Queria lhe ver só mais uma vez
Queria te conhecer de novo

Minha vida é mais aberta com teu sorriso
Estou feliz sempre contigo

O som da sua voz me avisa um amor
Queria lhe ver só mais uma vez
Queria te conhecer de novo, por favor

Minha vida é sempre uma alegria
Quando estou perto dos seus olhos

Sinto a doçura da calmaria
Quando lhe colo aos meus braços
Sinto a doçura da ventania
Quando lhe abraço
Queria viver novamente o seu espaço
Só mais uma vez
Queria te conhecer novamente
Queria me encantar pessoalmente
Com o teu sorriso em minha frente
Com o teu corpo liso e quente

Queria viver de novo
Só com a gente

Quando durmo, sonho diferente
Tenho medo dos pesadelos
Fico sempre mais contente
Ao alisar os seus cabelos

Quando acordo, me sinto ausente
Tenho medo do para sempre
Fico pensando na dura dor
De saber que já não me apaixono pelo seu amor

Queria tanto, mudar meu coração
Sentir de novo a sua paixão
Mas já não tenho aquele ardente desejo
Do seu beijo

Por isso queria te conhecer de novo
Como se nada tivesse acontecido
E viver simplesmente como um amigo

E viver somente como amigo
Pois estou sempre feliz contigo

terça-feira, 22 de abril de 2008

Temporal

Ninguém entende
O tempo muda a gente
O tempo não se prende
Ao pessoal
O tempo é originalmente
Imortal
Termina o temporal
Mas o tempo não tem fim

Ninguém independe
Do tempo
As horas passam e eu só lamento

As horas passam
Tão como o tempo

Ninguém se prende ao vento
O tempo leva as folhas
O tempo lava as ruas
Do presente

Ninguém entende
O tempo não é gente
Mas é consciente

Os olhos são as janelas
Da mente
O tempo não mente
O tempo passa
Todo mundo sente

O tempo se espalha nas noites nuas
Como vento
O tempo leva as folhas e lava as ruas
Do presente

O tempo não é gente
O tempo não é a gente
O tempo é agente
O tempo é consciente

domingo, 13 de abril de 2008

O que é Paixão

Paixão é o que te exclui
Do real
Paixão é o que seduz
Ao natural
Paixão é a pouca luz
Ideal
Paixão é quem faz jus
Ao temporal

Por isso eu prefiro a liberdade
De poder sentir
Quem eu quero, quando quero
Enfim, sorrir
Pra quem desejo, com meu beijo
Pois há em mim
A esperança da confiança
Em quem não segue o fim

Queria

Queria encontrar
A porta do saber
Queria esquecer
Que sou visto

Queria emendar
Todo o meu viver
Pra assim entender
O infinito

Queria me jogar
Ao colo do meu ser
Para me fazer crêr
Que existo

sábado, 5 de abril de 2008

Vai e Vem (música)

É de mania que eu mando meu verso
Eu me completo
Eu me disperso
Eu, mim, deserto

É de alegria que eu mando meu amor
Eu me estudo
Eu me escudo
Eu, mim, surdo

É de euforia que eu mando minha sorte
Eu me esqueço
Eu me desejo
Eu, mim, forte

É de folia que eu mando o meu peito
Eu me nego
Eu me apego
Eu, mim, Ego!

É em você que eu penso todo dia
E me descubro pensando em harmonia
Do nosso corpo
Da nossa alma
Tou absorto
Por tua calma
Me vejo morto
De paixão
No seu conforto
Nossa união

É com certeza que não há mais beleza tão bela
Quanto a sua natureza
É de verdade a minha saudade que hoje bate
Procurando a sua pureza

E é de mentira a minha solidão
Eu me atiro sob a felicidade
A minha vida é pura liberdade
E é por isso que eu canto esta canção

Vai amor, vem paixão, me trata com carinho
Eu sou o teu destino
A tua emoção

Vai amor, vem paixão, me pega com jeitinho
Me enche de palavras
Me manda um cartão

Vai amor, vem paixão, me deixa coladinho
Me leva ao seu ninho
Ao teu coração

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Verdade Ilusória

A reconstrução do corpo se torna difícil
Quando as cicatrizes abrem cada vez mais
A restauração da mente se torna impossível
Quando o inconsciente mistura guerra com paz

Ninguém aceita a verdade, jamais
Ninguém pede pra chorar mais

O ilusório se torna presente
Quando o sonho se instala na mente
O sóbrio não existe no dicionário da gente
O sóbrio não sente

Quando uma faca rasga a pele
A cicatriz não se dissolve ao tempo
Ela permanece e nunca sai
A dor passa mas a marca não se vai

Os olhos são as janelas da alma
O tempo é anestesia do consciente

Ninguém aceita a verdade, jamais
Ninguém pede pra chorar mais

O sonhos se abrem ao infinito
Ninguém escolhe um sonho bonito
Eles vêm como obrigação do destino
Tomam o corpo e a mente

Sonhos não mentem
Sonhos só são misturas do passado
Com as verdades do presente
E os desejos do futuro

Olhos não sentem
Apenas observam o teatro
Não sabem o que é frio, ou quente
Nem mesmo se é macio, ou duro

Olhos apenas observam o teatro
Mostram-nos a verdade concreta
A razão

Sonhos teimam em nos fundir ao irreal
Mostram a saudade incerta
Ilusão

Ninguém aceita a verdade, jamais
Ninguém pede pra chorar mais

Sonhos misturam Guerra com Paz.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Inverno (Tradução de Winter)

Inverno

Folhas que decaem sobre a cidade

Neves que gelam a divindade

Árvores secas sem vida

Ruas sombrias, frias, calamidade

Se o certo concluir o real

E tudo o que houver se formar

Ideal

Se o certo concluir o real

E tudo o que virar

Surreal

Mais formas de vida

Atuando e marchando para ilusão

Sem coração, nem paixão

Justas formas despercebidas

Mas por concessões se transformam

E as livres grades estão queimadas

Pelas faces do inverno fortificadas

Chorando lágrimas de pedra gélidas

Inverno

Folhas que decaem sobre a cidade

Neves que gelam a divindade

Árvores secas sem vida

Ruas sombrias, frias, calamidade

Eu vejo o dicionário da ilusão

Vejo palavras sistemáticas da divindade

Eu vejo o dicionário da realidade

Vejo palavras sistemáticas de difusão

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Decepção (2)

Vem, meu amor
Chora em meus braços
Chora o elo de seu amado perdido
Chore a dor dos prazeres escassos

Eu não lhe digo: Pare!
Pois por mais que eu fale,
Usas em mim a indiferença ardida

Ao meu ouvido: Chore!
Pois por mais que sare,
Não morrem aqui suas lembranças de vida

Agora largo meu ombro, Deixo-lhe ao chão
Rogo praga ao lembrar de tua ingratidão
Cuidei de ti, sofri, lhe ofereci paixão
Hoje não peça nem que aqueça o teu frio colchão

À tua morte, digo forte
Que por ti chorei em vão
Ninguém condena a própria sorte
Por medo de azaração
Mas a alma verdadeiramente forte
É aquela que cospe e não cai no chão
É aquela que usa o doce do mar
Para salgar a razão
É aquela que se faz de exata para amar
E se perde na mais vil ilusão
É aquela que se estreita no vasto deserto
E procura espaços num cerrado
O verdadeiro corpo não é o que se faz de esperto
É o que sabe a diferença do certo
E do errado.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Lágrimas de Granito

Queria, de fato
Comparecer à reunião
Das quatro estrelas
Do Apocalipse

Queria, de fato
Entender a razão
De nascimento e morte
Do crescimento à fonte

Queria, de fato
Conhecer os ideais
De quem sofreu por nada
E morreu na estrada
Do destino

Queria, de fato
Realçar meus desejos
De curiosidade
Saber a diferença de particular
E comunidade
De cidade... e distrito

Queria, de fato
Aprender a chorar
Para realçar minha lágrimas
De granito

Queria realçar minhas lágrimas de granito
Queria até demais
Queria abrir as portas do infinito

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Winter (Alemão)

Blätter der Rückgang auf der Stadt
Neves, den sie die Göttlichkeit lähmen,
Trockene Bäume ohne Leben
Straßen schattig, kalt, Unglück

Wenn das Recht das Real schließt,
Und alles, was es gibt, wenn es sich bildet,
Ideal
Wenn das Recht das Real schließt,
Und alles der sich zu drehen
Surreal
Mehr Leben bildet sich
Das Handeln und das Marschieren für Illusion
Herzlos, noch Leidenschaft
Schöne unbemerkte Formen

Aber für Zugeständnisse, die sie sich verändern,
Und das freie Knirschen wird verbrannt
Für die Gesichter des Winters befestigte
Das Bedauern von gefrorenen Steintränen

Winter
Blätter der Rückgang auf der Stadt
Neves, den sie die Göttlichkeit lähmen,
Trockene Bäume ohne Leben
Straßen schattig, kalt, Unglück

Ich sehe das Wörterbuch der Illusion
Ich sehe systematische Wörter der Göttlichkeit
Ich sehe das Wörterbuch der Wirklichkeit
Ich sehe systematische Wörter der Ausbreitung

Luxúria

Em minha pele arde o seu desejo
De sentir o inexplorável
Em meus olhos cega-me a vista
Do imaginário óbito muro
Teu cheiro estiga uma paixão quente
Em meus ouvidos: um sussuro
Meu tato se torna freqüente
Num crescente sonido fino
A sua voz tende a fraquejar
Tal como quando as badaladas do sino
Se tornam fortes e voltam a parar
Em um ritmo conjunto e único
Se liberta o segredo da maternidade
Que morre sem destino
Interrompidas pelo prazer da mocidade
Que vão secando... sumindo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Ir Mão

Me diga, irmão
O que te aflige afinal?
Me mostre a razão do seu mal
Me mostre sua história
O que destrói a sua glória?

Me diga, irmão
Quem sabe eu não aprove
As lágrimas que escorrem desde ti
Ao meu coração
Me diga, então

O que lhe dói também me destrói.
Sua pele te cobre apenas o superficial
Não te cobro nada, apenas me diga
O que te aflige, afinal?
Meu irmão.

Quando você se expressa, eu me estresso
Por saber que algo lhe incomoda
Posso sentir que estás triste
Me mostre a razão do seu mal. Te peço
Me mostre a destruição de sua glória
A causa da sua lamúria.
O porquê da tua fúria.

Quando você se perde, eu lhe encontro
Mesmo sem saber o caminho, mostro-lhe e sigo
O vazio para nós é muito melhor juntos
Eu me perco apaixonado por você, amigo.

Me perco quando te olho, e me sinto bem
Me perco quando te ouço, escuto a tua voz
Me perco pensando em um dia: só nós
Juntos na maresia, juntos nas folias
Juntos no infinito que passa veloz.

Eu te amo, irmão.
Pelas mãos e contramãos
Por estarmos sempre sãos
Por sabermos que, na amizade, há paixão
E, de verdade, eu sinto sofridão
Quando fica semanas, meses, fora.

Às vezes estás tão perto fisicamente
Mas tão longe psicologicamente
Às vezes quero te dizer pessoalmente
Só para estar contigo, novamente.

Você está na minha mente, irmão.
Sempre.
Portanto,
Me mostre a razão do seu mal
Me mostre sua história
O que destrói a sua glória?
O que te aflige afinal?

Conte comigo,
Me conte, amigo
Eu não sigo o caminho sozinho
Quando você se perde, eu me perco também.
Pois és as minhas pernas,
E eu não vou mais além do que a sua ida
Eu só estou bem se estás sem ferida
E posso curar sua vida
Apenas com o olhar da amizade
Portanto, me diga...
O que te aflige de verdade?

Não aguento a sua dor
Arde em mim o que lhe destrói
Posso curar o que te dói
Com Amor.

Me diga, irmão.
Nada será em vão.
Quero saber o que lhe faz mal

Me diga, então.
O que há em seu coração
O que te aflige, afinal?

Ventania

O vento se move, não por instinto próprio
Para cada ventania, há o balanceio de uma mão
Que da simples calmaria, se torna um furacão.

Não se iluda à melodia
Da mais triste e vil canção
Cante alto... E sorria
Por ter voz e coração.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Diga (música)

Diga
Se o céu não mudou
A minha vida
Hoje recomeçou

Desde o dia
Que você me encontrou
Ficou colorida
Minha solidão incolor

Diga
Qual é o sabor
De ser preferida
Do meu amor

Então diga
Seja o que for
Você é a mais linda
Que comigo ficou

Se o céu vai mudar no futuro
Eu não sei, já mudou
Porque tudo pra mim é mais novo
Já não sou mais quem sou

E minha fé de prever o universo
Já se transformou
A minha dor de sofrer o incerto
Agora passou

E a luz dos seus olhos brilha
Como luar
A sua voz tão canora e doce
Me faz voar

Mesmo se você ouvir frases tortas no fim
Não escute
Porque a verdade eu nunca menti
E se sim não me culpe

sábado, 19 de janeiro de 2008

A Saudade bateu no meu peito

Reuniu o desejo de te encontrar

Só mais uma vez

Para poder lhe ver

E te beijar, molhar os meus lábios

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Apocalipse da Fome

Não se cria passeatas
Para desigualdade
Só se cria movimentos
De legalização

Triste história
Pobre ilusão
Pois preferem fumar
Do que obter educação

Seria um caminho
Ou falta de carinho
Trocar nossas crianças do fome zero
Por um carrinho quilômetro zero!?

Então Pensem
Pensem nas mágoas sofridas
Dos desvios de comidas
Para o bolso dos barões

Então Lembrem
Lembrem das árduas guerras
Entre pedaços de terras
Por falsas plantações

Então Pensem
Nas mães ricas falidas
Porquê sequestraram seus filhos
E pediram milhões

Então Lembrem
Das mães pobres iludidas
Que sequestraram filhos
E ganharam milhões

Então Pensem
No assaltante de feijão
Que roubou da injustiça
E acabou na prisão

Então Lembrem
Do Deputado da Nação
Que roubou da justiça
E recebeu mais votação

Apenas Pensem
Mais sobre o que se passa
Para não fazerem parte da massa
Que apodrece à traça da soberania

Apenas Lembrem
De como se caça
A paz, sem utilizar caças
E salvarão vários Joãos e Marias

De bruxas dos doces
Dos gigantes de castelos
Que crescem no pé-de-feijão

Queria que a vida fosse
Uma fantasia
E que existisse elo entre raças
Paz e harmonia
Mas não me iludo ao imaginar
Que poderá algum dia
O Povo se beirar
À Rebeldia
Daí não haverá
PM nem PIT
Para Parar
O Apocalipse.

Nós (2)

Nós dois somos um destino
Criado sem começo
Nem fim

Nós dois somos o rascunho
De uma história
Sem fim

Nós dois somos o futuro
Da esperança
Que em mim

Não será lembrança
Pois eu me lembro
Quando te conheci

Naquele dia
Minha mágoa se transformou em alegria
Refloresci

Estarei contigo
Para sempre
Até dizer-me sim

Mesmo que o pra sempre não exista
Mesmo que seja inevitável o fim
Buscarei de diversas formas
Consagrar este começo
Para continuar sem normas
Pois à ti eu lhe forneço
O meu colo, o meu berço.
O meu solo, o meu beiço.

Nós

Não adianta olhar pra frente
Sem esbarrar com lembranças
E fortalecer a memória
Para enriquecer esperanças

De mudar seus conceitos
Adquirir glória nos defeitos
O destino é só desejo
Como um sonho de criança

Não há nó que não desate
Até ao cego é possível
E eu não nego, é incrível
Criar um novo laço

Não há coração que não infarte
Mesmo com ou sem dor
E eu não me apego a qualquer amor
Tenho meu espaço

Não há cachorro que não late
Mesmo mudo de seus direitos
E eu não nego os meus defeitos
Os transformo em qualidade

Não se descobre o escondido
Sem procurar e se perder
Não adianta entender
Sem perguntar ou debater

É preciso ser inocente
Mas nunca admitir a falsidade
Para poder seguir com a mente
Liberta de qualquer vil crueldade

Não se faz o que se deve
Porque ninguém deve a ninguém
O dever vai ainda além
Dos direitos que já não servem

Pague tudo e nada leve
Esse é o lema de alguém
Que cria em si a lamúria do egoísmo
Taxado na hipocrisia do narcisismo.

Não há "nós" que não desate
Mesmo que pareça invencível
O "para sempre" não existe
Só existe o concebível
Mas não se iluda à realidade
Pois ela mesma é ilusão
Conhecer a paixão (de verdade)
É impossível.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lua

A vida muda, porque ninguém é mudo o bastante para não ter voz.
A vida é muda, porque ninguém muda tão pouco nem tão veloz.
A vida só é justa quando percebemos que a injustiça é feita por nós.

Há pessoas na minha vida que nunca poderei esquecer
Nem se quisesse

Há pessoas com as quais queria sempre estar a conviver
Mesmo se não pudesse

Há pessoas como você
Vê se não me esquece...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Razões

Ninguém pede nascimento
Mas todos temem a morte
E a busca de conhecimento
Não é definida pela sorte

As antigas verdades
Hoje não passam de piadas
E o que agora são realidades
Amanhã serão fachadas

Todo mundo esquece
Daqueles famosos que conquistaram o mundo
Mas ninguém deixa de se lembrar
(Não dá pra esquecer) De quem conquistou nossos corações

A cabeça inteira apodrece
Quando perde-se a voz e fica mudo
Pois todos querem se expressar
E viver... sem mesmo conhecer as razões
Por trás de um sol

Há uma sombra negra

Como uma estrela

Que não brilha


sábado, 22 de dezembro de 2007

Simples Emoção

Se você procurar
Sabe onde estou
Estou do seu lado
Estou...

Se me encontrar
Sabe o que fazer
Estou do seu lado
Pode ver...

Se se apaixonar
Sabe quem amar
Estou do seu lado
Pode acreditar...

Se me abandonar
Sabe o resultado
Pode ter certeza
Ainda estarei do seu lado.


Porque só existe proeza
Em quem, de fato
Esquece o murmúrio da tristeza
Para viver o abstrato

A vulgar beleza
Se torna efêmera
Quando se conhece a verdadeira flor

É com leveza
Que se queima
O calor ardente do amor

Vozes

Elas sussuram aos meus ouvidos
E eu ouço
Escuto sonidos
Me faço de escondido
Me encontram em qualquer lugar

Vozes me indicam
Minha verdade, somente minha
Vozes me indicam
Meu caminho, somente Meu

São as vozes da saudade
O destino não aconteceu
São vozes da sanidade
De um caminho que se perdeu

Eu procuro um esconderijo
Mas as vozes me encontram
Eu tento me afundar em idéias
Mas as vozes me sussuram lamentos
Como um conjunto de sofrimento
Sofrimentos.

Eu procuro um campo rijo
E as vozes me encontram
Eu tento me esconder no lado mais escuro
Mas elas me jogam no muro
Sussuram
Sussuram...

E eu me mantenho ao escudo
Porque sou surdo
E não consigo chorar

Eu me mantenho de luto
Porque nesse mundo
Aprendi a matar

Eu me enterro na cova
Porque meu futuro
Merece apagar
Minhas memórias sofridas
Minhas idéias iludidas
Minha paz ardida
Minha vida

Meu ar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Escuro

Os sonhos
São como miragens
De saudades ou de futuros

Os sonhos
Nos dão asas
Nos fazem voar

Os sonhos
Nos dizem o que queremos ouvir
E o que queremos falar

Os sonhos
Nos dizem onde devemos seguir
E como devemos andar

Os sonhos
Não nos colocam para dormir
São nós que nos colocamos a sonhar

E sonhamos sempre uma irrealidade
Tão utópica quanto real
Tão mentira quanto verdade

Os sonhos nos fazem fugir
Do conhecimento
Nos levam aonde o vento
Poderá nos carregar
Os sonhos não podem mentir
Pois não há ressentimento
E nem uma verdade para mudar
É apenas a mistura dos acontecimentos
Da vida que devemos seguir
À vida que queremos levar
E é muito melhor se iludir
Com uma mentira pra sonhar
Do que esperar sempre o fim
Com medo da sorte que nunca virá

Bravo

Os minutos da verdade se apoiam ao desconhecido
Tantos milhares mortos, esquecidos
Os bravos nunca cortejaram a alma mais nobre
Caçoavam da sorte de uma vida efêmera
Diante da ilusão em que viviam, pensavam errado
Não sabiam da própria ingenuidade,
Caçoavam da liberdade
Não conheciam a tão distante realidade
Que se aproximava, passo a passo
Deixando marcas, que desapareciam sozinhas

Os bravos sempre nadavam no mar
Parados.
Os bravos só sabiam amar
Armados.
Os bravos diziam seus nomes
Vanglorizavam suas iras
Mas se perdiam na fome
De suas próprias mentiras

Os bravos não sabiam que o infinito
Está na ponta cega de uma arma
Os bravos pensavam que o sol iria se pôr normalmente
Depois de uma carnificina de sangue quente

Os bravos colocavam acima de seus peitos
A coragem
Os bravos riam irônicos de seus defeitos
À margem
Do preconceito
Sem o mínimo direito de jamais
Proclamar
Paz

domingo, 9 de dezembro de 2007

De Volta

Quem diria
Que as flores novamente desabrochariam
Ao meu leito

Quem diria
Que a vida novamente se fortaleceria
Em meu peito

Quem diria
Que o céu novamente se abriria
Tão perfeito

Quem diria
Que eu encontraria alguém como você
Com teu jeito

Dia pós dia
Percebo a alegria de viver feliz
Noite pós noite
Uma nova harmonia
Como sempre quis

Sigo agora a minha via
Crente de tudo que fiz
Risco com meu giz
O quadro negro de sua valia

Cego-me à ilusão de teu sonho
Mas não perco a visão
Surdo-me à ilusão de tua voz
Mas é forte minha audição
Calo-me no doce de teus lábios
E vivo novamente a sensação...
De um amor completo
Sem desconfiança
Com esperança que dê certo
Sem complicação
E o deserto se torne floresta
De fauna e flora
Vou viver minha vida agora
Não com o que me resta
Mas sim com quem realmente presta

Ainda vivo, sei andar
Ainda leve, sei pesar
Na sua consciência

Ainda me esquivo do teu olhar
Porquê tenho medo do apaixonar
Tanta inocência

Ainda há o que saber
Ainda há a quem gostar, realmente
Mas contigo quero viver
Contigo quero aprender, novamente
A amar.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Eu.

Eu sou aquele que você nunca entenderia
Nem de primeira, nem de segunda-feira
Eu sou aquele que ri de tudo, mas calado
Eu sou aquele que chora lágrimas secas

Eu sou tudo o que você não imaginaria
Eu não tenho rótulos nem pré-conceitos
Eu vivo mundos de poesias
Eu sou o mais errado dos direitos

Eu sou o inventor da profecia
Eu sou o criador de minhas crenças
Eu amo pessoas sem valia
Sou curador de falsas doenças

Eu crio ilusões inesquecíveis
Eu tenho comigo doces iras
Eu falo mentiras sob verdades
Eu crio verdadeiras mentiras

Eu pareço um monte de merda cagada
E pode ter certeza, sou isso sim
Mas se tu saber quem sou
Verás que és igual a mim

Rede Bobo

Áspera forma cortante de triste objeto
Que calcula imagens, caixa eletrônica
Define o real numa irrealidade irônica
Transformando crianças em subjetos

Corroe em nus programas faces de beleza
Determinadas unicamente pelo inventor
Não o que investasse o mundo nem o temor
Mas aquele que destrói a própria natureza

Olhos abertos, mentes fechadas
Cubículo de luz, gente manipulada
Sonhos perdidos em fés transformadas
Galegos mulatos conscientes então
Sempre unidos em sarcástica comunhão
Que triste objeto... é a televisão

Mas errado estás, quem pensa ao certo
Que tevê é concreto, intensa manipulação...
estois a dizer que és serene o deserto
Pois quem se deixa manipular é a população

Mesmo que mesmo.

Tudo está distinto
Num dia sou pó, no outro sou mar
Não sei onde ir, nem como andar
Mas sei quem seguir, e quem agradar
Pois tenho paixões a quem sempre amar
São amigos ilusões, são deuses do ar
São unidos, canções, que me fazem vibrar

Mesmo assim estou pó
Pois não tenho as bases
Meus problemas me fazem
Estar sempre tão só

Mas nem que a lua desabe
Na arcada da emoção
Posso estar frio, quem sabe...
Mesmo assim, estou são

Livre de mágoas
Livre da escuridão
Preso nas águas
Preso à paixão

Livre de tudo
Um mar solidão
Tão só quanto em luto
Tão sim quanto não

Rédeas

Rédeas sem mãos pra guiar
É um alazão sem poder andar
E corre solto pelo ar, pelo mar
Onde não há quem segurar

Rédeas de mãos humanas irão matar
Guiarão até a morte chegar
Guiarão bêbados contra o desejar
E desejarão a mais do que possa lhes dar

Rédeas de mãos ignorantes podem levar
Até o céu a voar, ou inferno a queimar
Farão das guias algo incalculável
Descerão do alazão para chorar
Lágrimas que ardem no chão
No chão do mar

Rédeas guiadas pelos conscientes
Matarão ainda mais gente
Cederão lugar para outras mentes
Aniquilarão o mundo inteligente
Transformarão num mundo diferente
Sem humanos pra guiar
Sem cavalos pra correr
Sem ignorantes a chorar
Sem vida pra viver

E mesmo se tal dia chegar
Não estarei aqui para ver
Pois já desci do alazão pra chorar
E percebi que não preciso dele pra correr
Usarei minhas pernas pra andar
E as rédeas serão você
Assim o céu não me comerá
Nem o inferno irá me arder
Meu próprio caminho irei guiar
E o infinito conhecer

Govreino

Figura explícita, alma implícita
Célebre cálice, divina côrte
Espadas longas, cavalos reais
Mortais cavaleiros, damas fatais

E o timbre da voz não cala o espanto
Corre-se o manto desse teatro fantasia
É de intensa harmonia a vil dor, o encanto
Que em desgraça se transforma em terrível agonia

Não se percebe as sombras do castelo glorioso
Que de estrutura pondera num sol tão formoso
E à noite se reserva para as artes do bondoso
Rei que clama a morte impiedosa de teu excluso

E não há justiça nem em pró do tribunal
Que tão se iguala aqui no século atual
Não há talvez primores em arte pela vida
Apenas a dor no peito, não de amor, de ferida

O sol escurece ainda mais cada dia
A alma endurece o coração da alegria
Os prantos emudecem o pano de sangria
A vida apodrece em intensa euforia

Já não há além do mais vida após morte
Resta-se agora enfrentar o castelo com espada
Enchendo-lhe de raiva e um orgulho em faixada
Pois agora a glória se resume na sorte

Não há mais castelos, nem cavalos reais
Apenas mistérios, desvios de capitais
São tantos valérios, senados federais
Que já não há mais a paz, apenas cartaz
Mostrando a face dos célebres reis
Tão vis falácias, ridículas leis
A fé se transformou em comércio legal
Esse é o castelo... do século atual

Possibilidade

Rezo-me ao mar onde prego-lhe canções
Vendo-lhe minha alma como vendo as emoções
Cedo-me à ti então arcado estas prisões
Onde corre-se em mim o doce mel de suas paixões

Mesmo em árdua dor contínua percorro são este caminho
Fosse leve o frio que me abate quando eu estou sozinho
Ao qual me gusto de sabor o calor quente de seu ninho
Seduzir-me-á tão macio delírio de teu corpo quanto o vinho

Queimo-me em brasas sob imagens raras de sua beleza
Não há, pois sei, na natureza, tão leve canora ilusão
A raça que me impôe um forte instinto tal como um cão

Me rege, domina, és tão fina e bela a sua pureza
Tal que me castiga o destino de não poder resistir
À tua flecha, certeza, de que o meu coração irá ferir

Será que estou podendo novamente sentir
O poder da paixão que luta presa a mim?
Ou será que preciso buscar outra má proeza
Que defina em mim a fragilidade da minha defesa?

Horas

Eu aprendi com o tempo
Que o vento leva tudo
Num dia podes falar
No outro estarás mudo

É o tempo que vai e não volta
Não dorme, não cheira, não sente
Quem sente o tempo presente
Perde o futuro, empobrece a mente

Tem horas que não paramos de pensar
Noutras, pensamos que paramos
O tempo não muda, nem mesmo onde estamos
Mas na vida não há como parar

Tem horas que damos de cara ao muro
Tem horas que esquecemos o futuro
Tem horas que o mundo fica absurdo
Tem horas que ficamos: cego, surdo e mudo
Tem horas que esquecemos do mundo

Tem horas que preferimos estar horas atrasado
Só para não ter
Que uma outra amar

Tem horas que esquecemos de olhar as horas
Só pra fazer
O tempo parar

Tem horas que decidimos trocar de relógio
Só pra poder
Algo mudar

Tem horas que o corpo adoece
Mas a mente continua a viver
É quando o tempo dá um tempo
Para lembrar de você
E o passado se torna vento
Que vai e volta sem querer
Vai chegando sem constrangimento
Para te fazer entender
Que o futuro é afirmamento
Do presente que estás a moer
Que o mal do sofrimento
É frágil: dá pra esquecer
Mas para isso, requer um tempo
Tão paciente quanto você
Se puder plantar conhecimento
Muita oportunidade: irá colher

Quanto menos quiser
Mais o tempo é lento
Quanto mais se quer
Bem veloz passa o vento

Ninguém sabe qual é
O segredo do tempo
Mas só basta ter fé
E fortalecimento
Para enfrentar o que der
Sem triste lamento

Pois à vida eu não me sento
Faço tudo o que puder
Os problemas enfrento
Sem medo do que vier

Não me deixo abater por tristes tormentos
Eu faço da vida
O que ela quiser

Não me deixo sofrer por vis pensamentos
Eu curo a ferida
E fico de pé.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Céu Azul

Marchando e proclamando
Palavras ditas ao ar
Sem pensar, sem pensar
Marchando e atirando
Sobre inocentes ao mar
Sem pensar, sem pensar

Todo o destino antes traçado fora rejeitado
E agora mais de mil homens serão dizimados
Por aquele que nunca amou, mas é amado
E o que sobrará serão apenas restos inflamados
Coopere, então, se não quiser ser aniquilado

Céu Azul
Transforme essa gente em mais que humanos
Transforme as mentes em simples pensamentos
Transforme o sangue frio em calda de chocolate
Transforme o mau em bondade

Céu Azul
Erga sua misteriosa mão e toque a cidade
Com o toque da imunidade, do amar
Destrua, em todas as pessoas, a insanidade
Reorganize as palavras ditas sem pensar

E assim seremos livres
E assim seremos unidos
E assim enriqueceremos
Todos os livros de receita não lidos

Por favor
Transforme o mar incolor
Numa vida sem dor

Céu Azul
Transforme essa gente em mais que humanos
Transforme as mentes em simples pensamentos
Transforme o sangue frio em calda de chocolate
Transforme o mau em bondade

Céu Azul
Erga sua misteriosa mão e toque a cidade
Com o toque da imunidade, do amar
Destrua, em todas as pessoas, a insanidade
Reorganize as palavras ditas sem pensar

Marchando e reclamando
Fazendo da vida, a morte
Sem pensar, só dizer
Marchando e morrendo
Só continuarão a viver
Aqueles que ainda têm sorte
Pois não precisa ser forte
Para fugir do sofrer
Basta conter-se com um corte
E sangrar até morrer

Apocalipse (ou Aquecimento Global)

Quando as estrelas caírem na Terra
Eu estarei em pé ouvindo seus sons
Olhando suas próprias luzes brilhantes
Sentindo seus calores intensos

Quando o mar invadir o continente
Eu nadarei sobre águas frias e duras
Explicarei a vida num só sonho
Formaria a minha própria correnteza

Quando o sol apagar no universo
Eu acenderei minha alma
Iluminarei meus pensamentos
Para que não viva sobre o escuro

Quando a música terminar
Eu criarei sempre mais uma
Pra apenas voltar a cantar
E não deixar que minha vida suma

Relatividade da Esperança

A dor é ocasional
O sofrimento é efêmero
Se desfaz com o tempo

Há atitude casual
Tingida de infinita
Se desfaz ao lamento

Cor é sina do real
Mas não precisa ser bonita
Para criar um sentimento

Vida é um abstrato mortal
Doença desde a nascênça
Sempre levada ao vento

Não há nada tão habitual
Quanto amar ao próximo
E rogar-lhe o mal, antes isento

O céu só muda de cor
Quando atinge um ramal
Onde não há mais dor
Nem sofrimento
O céu só muda de cor
Quando percebe que há mal
Pior que o amor
Em qualquer relacionamento

Mas o céu não muda sua cor
Ao notar que o amar ideal
É fazer jus à liberdade
Manter firme a saudade
E o afirmamento, de obter a Paz
e, Jamais
O raso entristecimento da verdade
Ou a verdadeira razão da tristeza
Porque quem sabe a proeza
De definir um futuro plausível
Terá a beleza de conhecer
Um momento inesquecível
E poder conviver, com aquilo que seja
Portanto não pare de olhar, Veja
O horizonte é pleno e está perto
A esperança é relativa, mas não há deserto
O caminho pode ser difícil, mas nunca incompleto
E com perseverança se descobre
Que não há amor mais certo
Daquele movido por sincero afeto

Onde matam lobos
Estão os cegos da saudade
Dizem saber o que querem
Mas como sempre ferem: a verdade

Decepção

Vem, meu amor
Chora em meus braços
Chora o elo de seu amado perdido
Chore a dor dos prazeres escassos

Eu não lhe digo: Pare!
Pois por mais que eu fale,
Usas em mim a indiferença ardida

Ao meu ouvido: Chore!
Pois por mais que sare,
Não morrem aqui suas lembranças de vida

Agora largo meu ombro, Deixo-lhe ao chão
Rogo praga ao lembrar de tua ingratidão
Cuidei de ti, sofri, lhe ofereci paixão
Hoje não peça nem que aqueça o teu frio colchão

À tua morte, digo forte
Que por ti chorei em vão
Ninguém condena a própria sorte
Por medo de azaração
Mas a alma verdadeiramente forte
É aquela que cospe e não cai no chão
É aquela que usa o doce do mar
Para salgar a razão
É aquela que se faz de exata para amar
E se perde na mais vil ilusão
É aquela que se estreita no vasto deserto
E procura espaços num cerrado
O verdadeiro corpo não é o que se faz de esperto
É o que sabe a diferença do errado
E do certo.

Castre-se!

Eu digo: "Castre o homem!"
"Não!" respondem, afasto de espanto
"Por quê?" me perguntam, para quê?

Aqui onde castram cães
Tudo é invertido, sem noção
Dar o que se tem é insano
Negar o que se deve é solução

"Não!" respondem, afasto de idéias
"Tens solução para a nagação da dívida do epírito?"
Que espírito?
E, que espírito.

Por anos cães sofrem
Pelas atitudes dos seres-homens
Dizem que agressividade se previne assim
Enfim,
Castrem os homens.

Dá e deixa o que é do cão
Pois teu rosnar é puro instinto
Quem mais precisa ser castrado, extinto
É o bixo homem, que já se perdeu
Por isso eu digo o que sinto
"Abaixe o cinto e corte o teu!"

(...)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A Estrela Menina

Minha estrela vazia
Dorme na escuridão
Já não mais brilha
Por falta de paixão

A estrela menina
Dorme sem muita fé
Espera encontrar
Algo que lhe faça amar

A estrela menina
Dorme como quiser
Pois só se pode deitar
Já não sabe se apaixonar

A estrela menina
Pensa que príncipes virão
Pensa que há fantasia
Neste mundo ilusão

Ela sempre sonhou com alegria
Nunca fez-se de satisfeita
Ela sempre dormia para sonhar
Nunca desfez a própria cama
E essa menina ganhou fama
Da sonhadora incompleta
Que sonha em um longo caminhar
Um caminho sem muita reta
Se desfaz às curvas dos problemas, das falsidades
E, logo, as mais belas cenas do sonho
Se tingem de realidade
E destroem o contexto da fantasia
A menina agora sabia
Conhecer a verdade
Neste mundo de harmonia
E desigualdade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Ninguém Pede Pra Nascer

Me disseram, eu já sabia
Que o amor é incerto
Não há valia
Para quem ama: o perto
É tão longe como a via
Que nos distancia
Que nos distancia...

Não há concreto
Nem abstrato
Amor deserto
Sem beijo e tato

Não há, espero
Um tudo ou nada
Há apenas o lero
Lábia jogada

Inda que minha poesia te faça crer
O quanto eu não amo você
Saiba que a hipocrisia vai envolver
Toda a minha valia do teu sofrer

E não ache que estou errado
Tenha certeza
Mas no bem bom do meu sorriso
Tá tudo beleza
Saber que nosso chão está tão liso
Quanto a minha clareza
E a minha consciência, antes pesada
Tá uma leveza

Quem seria tão genial
Para amar quem não se pode
Pois só quem se fode
É aquele que espera o mal

Quem seria tão imortal
De nunca morrer por um amor
Pois a ilusão é uma dor
E dói demais, namoral

Onde está o arco-íris colorido?
Perdeste a cor?
Talvez esteja escondido
Neste planeta incolor...

E quem consegue ver o sol,
Quem sabe ver o mar
Não pediu para nascer
Não pediu pra amar
Só pediu pra crescer
E poder ver um sol raiar

sábado, 10 de novembro de 2007

Buscar

Se as águas ardem como ácido
Pra quê plantar?
Se o sol queima como fogo
Pra quê expôr?
Se a vida anda como a morte
Pra quê amor?
Se o azar tem as mesmas chances da sorte?
Pra quê jogar?

O quanto vivemos em busca dos sonhos
É como se estivéssemos sempre à busca
Nunca paramos
Nem quando os conquistamos.
Nunca há satisfação por aquilo que nos torna felizes
É preciso sempre mais e mais
Cada vez muito mais
Até chegarmos em um nível de arrogância
Capaz de inferiorizar os que nos ajudam

Não é preciso ter tudo o que se quer
Basta gostar de tudo o que se tem
E o sonho estará diante do próprio nariz.

Não é preciso querer fazer tudo o que puder
Basta poder fazer tudo o que quer
O quadro negro é a vida, você será o giz.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Quem de mais

Quem de mais seria tão ingênuo?
Em não pereceber a verdade do real
Quem saberia o que é certo ou errado
Quem estou? Onde sou eu?

Quando relembro o passado, me pergunto
O que foi meu passado?
Quem estava comigo, junto?
Ninguém percebe o real sem pisar na terra.

Não voe demais, nem ateie guerra
Sem antes prender seu pé ao chão
Sabendo que nesse mundo não há coração
Há mentes, mentes, mentes, manipulação.

A inocência é a maior virtude do ser humano
E perde logo à infância, sem esperança de renascer
Quando o universo menos promete a ausência
Mais as pessoas começam a crescer

E crescem, lutam, rugem.
Mudam.
Nada.

Com a fé que se precisa, alcança o infinito
Mas é preciso saber o que é mais bonito:
Errar e ganhar? Ou Acertar e perder?
O que é bom para você?

Talvez nunca se desvende o segredo da vida
Aquele que nos faz feliz, uns poucos, uns mais
A tristeza é opção e nunca necessária, Jamais!
Quem busca alegria, mantém a paz.
Quem busca ousadia, provoca discórdia
O Ego de quem merece a morte
Se desfaz com sorte?
Onde iremos parar.

Sei que a verdade é um corte no imaginário
A verdade é um forte para quem sabe amar
E um fraco para otário que quer ganhar.

Quem nunca teve a chance de se arrepender
É porquê nunca teve uma vida para lutar
Não pode viver o incerto e a injustiça
Viveu com falsa unha postiça.
Falsa unha postiça.

Minhas saudades.
Por quanto tempo irei nadar
Sem saber para onde vou,
Sem saber onde irei parar.
Sem saber onde estou,
Sem nem poder falar...
Minhas verdades.

Ouvindo apenas falsas unhas postiças
Ouvindo apenas mentiras
Ouvindo apenas manipulação
Plantando felicidade e colhendo solidão.

Me diga, irmão
Onde encontro a porta da verdade?
Me faça essa caridade,
Me diga, irmão... se você é fruto da realidade.

As portas da emoção se fecham
Não abrem
As janelas do infinito se fecham
Ou abrem

Você é você?
Ou finge ser você?
Voce vive?
Ou finge viver?
Voce sabe o quanto
Me esforcei pra lhe ter?
Você sabe a verdade?
Ou ainda quer a conhecer?
Você morre de saudade?
Ou a saudade morre por você?

Quem é você?
Para onde vai?
Irá morrer?
Ou se desfará feito poeira no ar?
Morrerá afogado na beira do mar?

Meus olhos dizem coisas
Que não devo acreditar
A verdade é mentira
O amor não sabe amar.

domingo, 4 de novembro de 2007

O Sol

Áspero meio onde certo é inexistente
Falsas vidas em pró de si própria
Acabam por matar a si mesmas
Abrangendo à cópias da mídia
Falsas vidas que tristes inundam
O deserto mais quente da ilusão
Conformam-se em ver apenas a visão
De um simples objeto
Que em imagens se traz completo
Repleto de notícias, decerto sei
Que o certo ainda é inexistente
Portanto concreto não me conformo
De ver tanta pobre gente ao sofá
Assistindo uma janela de cortinas
Onde não podem ver o sol raiar
Apenas vêem lábios se entrelaçar
Sem mente consciente, nada puro
Apenas máquinas sob o muro
Que usam o cérebro para sentir
E não em pró do pensar
Usam o coração pra sorrir
Mas por dentro querem gritar
Usam as pálpebras pra dormir
Mas na verdade nunca querem acordar
E insistem em fugir da realidade que paira no ar

Sabendo apenas que o sol raia
Mas nunca viram um sol raiar

Passou.

Aquele mundo, só meu
Voou... Dos meus braços
Fugiu como arte perdida
Fugiu dos meus laços
Aquela minha vida encardida
Hoje morre ao que se perdeu
Mas não me preocupo com lembranças
Elas, sim, devem ser contidas
Nunca desejadas
Pois as lâminas das espadas
Cortam a rocha mais dura
E não dá pra sarar a morte
Não há cura.

Por mais que o vento bata
Estamos aí continuando o real
Aquilo que sonhamos, conquistamos
Aquilo que não sonhamos, queremos
E o que temos de pesadelo
Fica congelado ao gelo
Fica ardido na mente até o vento levar
A areia do mar
Tão seca como a terra
Tão leve como o ar

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Incertezas

Neste mundo morto
Vivo à cena da desilusão
Do incompreendido
Pessimismo à dor da emoção

Se me sinto forte, sou fraco
Se estou de sorte, vem o azar
E saber o preço da verdade (que não há)
É ler na areia e o vento levar

Tudo se torna efêmero
Quando se descobre o real atrás do muro
A vida é cega, o amor é surdo
O abstrato não é pago com dinheiro material

De que adianta; elevar a garganta
Para ensinar o óbvio
Nos ouvidos dos alienados?

De que adianta; saber a verdade
Para depois tranformá-la
Nos pronúncios da honestidade?

De nada adianta
Andar no deserto, sem água pra beber
Se podes caminhar no inferno
Queimar a própria alma
E a morte temer.

domingo, 21 de outubro de 2007

Terra do Sol

Desceu correndo! Foi-se arrastando os pés rachados à terra inclinada. Como corisco, corria. Ia descendo o barro de lama seca. Ia descendo a areia dura. Cada piso no chão: poeira. O Sol queimava-lhe as costas nuas − e raquíticas. Os olhos, olhos negros, esbugalhados da lua brilhavam ao solar, mas a poeira embaçava a visão. A cor da pele era cor do sertão. Correndo! Como corisco! Corria à pique de leopardo. Pisava, ao mesmo tempo, fraco para ser rápido e forte para ser firme (sem firmeza não há corrida).
Havia som? Era um rabisco sonoro. Som de poeira que se esvai ao vento e se desfaz com o calor do sol. Som de ar quente, tal qual queima os pulmões. Se houvesse trilha sonora (Ah! se houvesse!) estaria tocando uma batida tapada de cordas da viola. Tambores surdos sem ritmo, mas com batidas ocas: roucas. E cada vez mais, forte mais rápida seria a batida da viola. Corria! Corria!
Poeira de sertão não cheira a poeira: cheira a pó seco. Pó de vento. Pó de poeira. No máximo uma vaca morta carcomida cheirando a carne fresca, recém queimada pelo sol. Nariz, nessas terras, não serve pra cheirar. Serve para aspirar o ar − metade ar metade pó. Não existem impurezas na Terra do Sol. Apenas pó: mais puro impossível. A poeira fazia parte do corpo. Corre!
− A paz do sertão é guerra. Se estiver interligada a quem foge do sol. Porque o ser humano não sobrevive sem suas necessidades. Faz de tudo para regar a alma. Com que água se rega alma na Terra do Sol?
− É absolvido aquele que rouba para viver daquele que vive para roubar?
Ninguém dizia nada. Era o céu conversando. Sem espiritualidade. O céu limpo, sem nuvens. Elevava o tom ao nível de não ser ouvido. Ninguém ouve o céu. Ninguém imagina o céu falar. Ninguém não imagina muitas coisas.
E a verdade estava explícita. Corria, o corisco, por ter furtado. Furtou teu próprio pão. Pão feito de tuas mãos. Seu trabalho árduo na plantação de trigo. Para onde ia o trigo? Onde estava a indústria? Onde estava sendo feito o pão? Onde seria vendido? Bendito seja o pão do corisco, roubado, então, por ele mesmo. Sua própria alma não sustentava mais o peso da fome. Quem não come não pensa − quem come demais também não.
− Suas pernas sem energia agüentavam a corrida? Agüentariam?
Corria na seca. Cada metro era um pão no sangue. Suas energias não vinham mais do alimento. Vinham da alma. Quem tem alma usa-a até o fim. Já ofegante, de cabeça para cima, corria sem ter aonde ir. Corria para o final do infinito. Esperança ele tinha. Queria continuar vivendo, fugir da seca.
A alma se esvaía.
Perdia o poder do céu. Pedia o poder do céu. Nada recebia. Porque quem não ouve não fala. Pois não pode ouvir a própria fala. De que adianta nadar no mar, sem mar?
E corria.
Corria!
Corria.
Cada vez mais fraco, mais lento, mais pesado, mais leve.
Corria.
Andava.
Caminhava.
Caía.
Dormia.
Para nunca mais acordar: dormia − de olhos abertos. Olhos nervosos, olhos negros. Boca aberta, poucos dentes: dentes fracos. A poeira sob o corpo embaçava a visão do céu.
− Morreu.
− A alma se perdeu, mas com esperança. Morreu feliz por ter a procurado. Pois na Terra do Sol ninguém perde a esperança, nem mesmo a encontra. É como saber do pai vivo, mas nunca ter o visto na vida.
Quem procura acha. Mas muitos acham que procuram. Não sabem o que é procurar. Não sabem o que é viver de buscas. No sertão, quem chora tem suas lágrimas evaporadas pelo seu, mas não viram gás: viram poeira.
− Correu de quê?
− Correu da morte. Ou da vida.
Daí o céu se calou. E, à beira da morte, o corisco ouviu as últimas palavras.
− Vida.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Guerrilha

O meu destino não mais é um simples passado
O que eu continha de esperança agora está fechado
E todas as vezes em que sofri eu relembro calado
Metade do meu tempo estive realmente selado
Agora os desvios em que vivi são lembranças passadas
E a vida em que vivi corre em grandes estradas
Deixei para trás tudo o que havia garantido
Para viver sozinho e neste mundo perdido.

Eu andei em mil brasas e queimei minhas mágoas
Estive tanto tempo feliz mas agora eu sou nada
O que restam de mim são alegres lembranças passadas
Tudo foi em vão, a porta do meu destino está fechada
Onde foram parar os rios em que nadei são?
Onde foram parar os meus filhos em que lhes dei pão?
Onde foi parar a mulher que eu tinha no coração?
Foram todos destruídos pela guerra da nação.

Histórias inventadas
Subir ao palanque, dizer algo, e logo correm
Histórias inventadas
Subir no avião e viajar enquanto milhares morrem
Histórias inventadas
Subir na vida e fazer com que os outros desçam
Histórias inventadas
Subir na bolsa e fazer com que próprias riquezas cresçam
Tão tristes hitórias inventadas
Tão felizes vidas invejadas, e eu aqui numa vida indesejada

Pareceu tão rapido e tão distante
Antes era um nacionalista amante
E agora sou esquerdista praticante
E luto para que isto não avance

São milhares de pessoas como eu, sem nada
São milhares de gente como eu, na estrada
À espera de socorro e até agora, nada.


Hoje não posso voltar
Pena ter que ceder
Eu queria matar
Agora quero morrer

Alucinógenos

Minha alma apodrece
Minha cabeça explode
Meus olhos cegam
Minhas pernas sambam
Ouvidos distorcidos
Saliva quente
Cheiro de suor
Tudo sem cor

Drogas, mas mal que dor
Cores vivas, mundo sem cor
Sol quente, frio ardor
Arco-íris incolor

Sensação de alívio
Sensação de morte
Sensação, bem estar
Pura sorte
Grana a acabar
E enquanto minha cabeça virar
Roubar, matar, trucidar
Enlouquecer
Amar, sem amar
Matar, sem gritar
Roubar, sem matar
Cair, sem levantar
Morrer, sem se deitar

Negras nuvens de lua reluzente
Céu amarelo, quente muito quente
Suor que não sai do corpo, mas sente
Olhos sem equilíbrio, sem lente
E enquanto minha cabeça virar
Roubar, matar gente
Sem selar meu corpo sob a morte
Morrer aos poucos sem cair
E viver da sorte, sem mentir
A vida é um ar de surpresas, irei rir
Pra acabar com a dor de alívio
A dor de bem-estar
A dor de morrer sem estar morto
A dor de não sentir mais o corpo
A dor de não sentir dor
A dor de sentir muita mais dor
A dor de não ter amor
Nem precisar saber o sabor
De inúmeras alegrias da vida
Que hoje se transformam em feridas
Passado rosa, futuro incolor

Beira do Meio-Fio

Sentados à beira do meio-fio, reclamavam de suas malditas vidas.
− Desgraça. Tenho que trabalhar amanhã. Naquela merda de lanchonete.
− Vida fácil a sua. Não precisa carregar sacos cheios de cimento dum caminhão para outro. Minhas costas tão fudidas.
Ao mesmo tempo em que carros passavam em alta velocidade, os dois fumavam como chaminés. Conversavam uma mistura de palavras e tosses.
− Esse show foi de fuder. Tava querendo espancar uns otários lá. Aqueles que passaram pela nossa frente com duas putas gostosas.
− Tou ligado.
− Pior foi a terceira briga. Quando quebraram a garrafa na cabeça do gringo. Respingou cachaça em mim!
­− Tou ligado.
− Eu devia ter espancado esse também. Meu braço tá peguento feito a porra. Próxima vez vou meter o pau neles. Gasto uma grana do cacete pra comprar essa camisa gringa e aquele filho da puta me faz uma coisa dessas.
− A camisa é do Paraguai.
− Sim, meu irmão! Mas é importada, porra!
− Do Paraguai.
− Vai tomar no seu cú! Custou vinte conto essa desgraça. Tudo isso eu gasto num show desses e ainda sobra!
− Tou ligado.
Um carro a cento e quarenta quilômetros por hora passa pela rua. Tão rápido que esvoaça a fumaceira dos dois rapazes sentados.
Da porta sai outras pessoas. Bêbadas e drogadas − ou drogadas e bêbadas. Pisando falso e berrando risadas. O som do show fica alto durante um momento e depois volta a ser abafado pela porta que se fecha.
− Que é que tá rolando agora?
− Forró. Pé de serra universitário. O baixista eu conheço, porque tocava no palco principal da minha faculdade.
− Faculdade? Você fez faculdade? Há! Não me diga que pagou pra estudar!
− Que nada! Ganhei bolsas de estudo. Eu era um dos melhores estudantes no meu colégio público. Daí o diretor me fez essa proposta.
− Bela sorte a sua. Mesmo assim eu não faria. E como teria minha grana nisso? A faculdade bancaria meu almoço? Minha janta? Meus shows?
− Não, mas você poderia trabalhar à manhã e estudar na tarde.
− Eu trabalho o dia inteiro e ganho uma merda de salário. Imagina se fechasse meu turno apenas pala manhã? Nem vem.
Mais uma vez a porta se abre. Mais uma vez o som se esvai. Mais uma vez um carro passa. Como uma rotina urbana de madrugada.
Dessa vez o som não é abafado.
− Vai lá! Eu lhe espero aqui.
Uma jovem de corpo definido desce as escadas do casarão e atravessa a rua, passando pelos rapazes. Vai até uma farmácia. Demora um pouco e depois sai com um saco pequeno na mão. O que tinha dentro pareciam caixas.
− Pegou tudo? − o homem que segurava a porta perguntou.
− Peguei. Toma o troco.
− Fique com o troco! Só quero isto. − e pegou o saco da mão da garota. Entrou com ela e fechou a porta. Daí então o som foi abafado novamente.
− Que coisa era aquela?
− Não sei, cara. Acho que eram alucinógenos medicinais ou alguma merda qualquer. Hoje em dia tão se drogando até com calmante.
− Tou falando da mulher, porra.
Nesse momento surge um carro conversível cheio de mulheres. Pára perto da farmácia. Sai dois gringos do automóvel e voltam da farmácia com sacos cheios de preservativos e viagra. Entram rindo e sorrindo. Depois somem em alta velocidade.
− Não sei o que essas putas vêem nesses otários. Só porque têm um carro de cem mil, dinheiro até pra enfiar no cú e uma oportunidade pra morar fora do país.
− É isso que elas vêem neles.
− Um dia eu vou trabalhar como empresário, ganhar uma grana da porra e comprar o carro do ano! Aí vai vir um monte de gostosa pra cima de mim!
− E, provavelmente, eu, sentado num meio-fio como este, lhe chamaria de otário.
− Calma, velho! Você ia estar comigo também. No carro!
− Legal. Seríamos dois otários.
− Meu irmão, tu é chato pra cacete viu! E me passa a outra carteira que a nossa acabou.
− Tenho não. A última foi esta. Você fumou duas lá no show!
− Que cú! Minha boca vai ficar seca agora!
− Bota palha nela que tranqüiliza.
− Onde tu tá vendo palha aqui, desgraça?
− Do seu lado tem um vaso de samambaia. Pega umas folhas.
O rapaz olha pro lado, faz uma cara feia.
− Eu? Botar essas folhas na boca? Tenho cara de retardado, é? Além do mais devem estar todas mijadas.
− Você fuma maconha e reclama de colocar folha na boca.
− Maconha é maconha. Folha é folha, porra!
− Não. Maconha é folha. Mas folha pode não ser de maconha.
− Essa aqui é uma samambaia!
Pausa. Os dois se olham. Testas franzidas.
− Você é um cabeça de jegue mesmo.
− E você é um sunga branca.
A porta se abre. Aparecem outros dois rapazes. Um loiro, alto, pele avermelhada. Outro moreno, baixo, corpo forte e inchado.
− Qual foi, trutas? Tão fazendo o quê aí fora? − pergunta o loiro.
− Bicho. Tamos fudidos aqui. Na quinta briga deram a porra dum chute na minha canela.
− Nessa hora eu me saí! − diz o moreno forte, sentando junto ao meio-fio também.
− Porque? Você é uma bicha mesmo!
− Eu não. Tava sem saco pra ficar levando chute na canela, sabe...
Os quatro, sentados na beira do meio-fio, conversaram durante um longo tempo. Falavam de sexo, drogas e pagode. Contavam sobre várias brigas, vários shows, várias dopadas. A porta do casarão se abria, às vezes, denunciando alguém saindo, nunca entrando. Carros em alta velocidade não paravam de passar, mas o recorde mesmo foi daquele que passou a cento e quarenta de quilometragem. A fumaceira do grupo acabou, porque a carteira acabou. De vez em quando uns jovens entravam na farmácia, compravam algo e saíam. Essa rotina durou um bom tempo, até o rapaz loiro se despedir.
− Pois é. Tou me indo agora. Pegar no batente amanhã às seis.
− Eu também, às oito. − responde o moreno.
− Vão passar pela avenida? Uma carona sairia bem agora.
− Pra mim também, se forem passar pelo campo da cidade.
− Vamos passar só pelo campo. A avenida fica do outro lado. − responde o loiro.
− Então beleza. Quer que a gente inteire seu táxi, sunga branca?
­− Que nada, cabeça de jegue. Eu vou andando mesmo. Uma paletada, mas é melhor. Assim eu aproveito pra comprar meu café da manhã lá no mercado.
Os três se levantaram acenando pro rapaz.
− Falou, então. − diz o moreno.
− Vê se da próxima vez não cata a garota daquele gangster! O cara te ameaçou de morte, velho!
− Mas ele tava bêbado. E, além disso, aquele ali não mata ninguém. É só do tráfico, tá ligado?
− Tou ligado.
E saíram. Três pra um lado. Um pro outro. Uma carteira de cigarros, latas de cerveja, garrafa de vodka, baseado de maconha, tudo no chão. A madrugada estava fria. Poucos carros passavam dessa vez. A brisa noturna derrubou uma das latinhas. Ela foi rolando, caiu do meio-fio, rolou de novo, chegou num bueiro e sumiu.
Sumiu.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Jantar

Noite. Sentaram todos à terra molhada pós-chuva: Homens fortes, fracos, jovens, velhos, muito jovens, muito velhos; Mulheres fortes, fracas, jovens [...].
O Ancião Pajé iniciava o assunto. Primeiramente falava da fé em Tupã, como a lua em que os raios incidem uma iluminação ciano-escuro sob a Taba. Em segundo, falava sobre as árvores que doavam frutos em troca de carinho, cuidados, amor. Por terceiro, dizia dos animais - desde os menores inocentes aos maiores ferozes -, o quanto eram preciosos para a sobrevivência humana.
Então iniciava o assunto: Memórias. O índio ao lado falava de teu passado íntimo ou público, como quisesse. Ia de pessoa em pessoa. Ninguém ousava não falar, nem mesmo queriam. Pois a arte da comunicação e memorização de fatos era presente na vida indígena como o lazer mais benéfico e satisfatório a todos.
Enquanto isso. A anta jazia morta e queimada, despedaçada entre todos. Refeição que promove a resistência e saúde do povo. Água em potes de argila eram engolidas sem pausa, com as duas mãos. Satisfeitos tanto coporalmente quanto mentalmente, iam às suas ocas, cada família, desfrutarem-se de um longo sono nas esteiras de palha. O sol parecia só acordar quando todos acordavam, e não o contrário. Enquanto a lua protegia a alma de todos que dormiam vulneráveis. Era Tupã, contente de ser amada e venerada por seus filhos.
Concedeu uma chuva leve. Para conforta-los e irrigar suas vidas.

Madeira Doce

Veio como quem andava à suspeita de algo. Era preciso no caminhar. Levemente agachado ou levemente levantado, afastava as latifolhas da floresta em busca da sua caça. Olhos rápidos, grandes, negros demonstravam a árdua sagacidade misturada à bravura do Tupi. Seminu, fixou seus olhos na anta. Sentou sobre os próprios calcanhares levantando seu arco de madeira doce. Puxou o cipó forte com sua flecha armada. Fisgou. Mais almoço e jantar na taba durante dois dias. Resultado da experiência de caça do nobre Índio Brasileiro.