terça-feira, 30 de abril de 2024

Penúltimo Ato

Ao cair por um tropeço
À depressão dei endereço
Desabei-me sob um hospício
Fiz do fim um grande apreço
Dispensei um recomeço
Só dei valor ao que tem preço

Que mereço, eu confesso
Essa dança reconheço
Não descanso, nem almoço
Tão somente me desfaço
Traço em mim um passo em falso
Ao escasso me ofereço

Mas se passa em sua cabeça
O que penso e o que passo?
É só isso que lhe peço
Antes de maçar o meu maço

Ao avanço me disperso
Já cansei-lhes meu disfarce
Minha face sempre sonsa
Tão sem graça já não desce

Mas se a mim cê reparasse
Num olhar me adentrasse
E a minha dor então sofresse
Meu agir reconhecesse
Na origem da ofensa
No assédio insistente
No meu câncer padecido
Na distância fluminense
No meu coração partido

Aí, sim, então somente

Cê veria meu sangue quente
Tão espesso e aderente
De emoções tão permanentes
Porém memórias displicentes 
Que, por escória, só as más
Eu me lembro infelizmente

Mas, como disse, tropecei
E se cê visse a enorme pedra
Entenderia essa minha queda
Um tombo em combo que te quebra

Pisei falso pois havia...

...Bom. Xô ver.
Por onde eu começo?

Uma dor que me seguia
Um amor que não me ouvia
Um dó que me impedia
Um nó que amarraria

Só isso que lhes peço

E esse nó, xô lhe contar porquanto

Agarrara, coçara, tensão que me cegava
Agarrava, coçava e você não observava
Agarrou, coçou, um nó que me enfrentava

Entretanto
Agarrei, cocei, estarei sempre lutando
Agarraras, coçaras. E você, me observando?
Agora agarrará, coçará, sem mercês me ajudando

O tal nó vai me enfrentar com vocês sequer estando
Logo rogo toda praga a esse amor
Esse dó e a minha dor
Entre tantos
Outros

Afinal será um assombro
Das noias que aqui vejo
Quando volto por ensejo
Permanência do meu tombo
Ou minha ânsia, meu desejo
Dos viés a que me cobro
Dos papéis a que pelejo
Desequilíbrio do meu ombro
Quem mexeu neste meu queijo?

Agora sem quem aponte o dedo
Mora em mim um grande medo
Ora, eu vim um tanto cedo
Embora andei com esse segredo
Há muito tempo em meu enredo

Quem irá me visitar?
Sou muito de conjecturar
À expectativa de quem dá
Ou de quem vem pra retirar

Sofrerei com sá distância?
Sem todas suas tolerâncias
Sem todas suas paciências
Sem todas suas consciências

De toda essa minha desgraça
De tudo que eu faço graça
Do mudo que eu sou em casa
Do surdo que me faz bocejo
Do surto em mim de um assobio

Quem lembrar vem dar-me um beijo
Ou um abraço ou o queijo
Também isso eu ensejo
Pois desde cedo que eu velejo
Nessas águas tão longínquas
Em que crio tantas ínguas
À distância do que almejo

Meu longevo ato final
Será sem um sequer lampejo
Ou nenhum saco de sal
Que até hoje eu fraquejo

Farão, sem ignorância, linha extensa?
Explorarão a minha infância?
Numas sãs ações sensatas consciências
Dumas áreas pátrias páreas em parar minha frequência?

Parei nos vários bares solitários e aleatórios do Rio
Que fui à toa e soei pária nest’outro império em que suamos
Pois vim de apenas outr’afluência bem acima do que somos

Serásse esse sanatório
Sarará o meu suplício?
Parará o que tem sido?
Curará esse meu vício?
Nadará em meu dilúvio?
Que não é nem tão difícil?
Talvez porque falar é fácil
Sem viver o meu Vesúvio
Enquanto cais dum precipício?

Será que esse ambulatório
Deixar-me-á sem o que faço?
Saberá o quanto eu calço?
Mudará a minha sina?
Refará meu triste laço?
Para eu poder parar e parar
Nas garras da minha menina?
A quem tanto me ensina
A conviver sem precisar
Desrespeitar o nosso espaço
Com ela sempre quero estar
Minha linda filha que, por acaso
Tanto odeia o meu abraço 

De qualquer maneira
Sei que estou à beira
Deste presídio

Pois essa pedra traiçoeira
Fez-me jus ao suicídio

Fugi da ribanceira
Que me foi tanto alívio
Só que segui indo à feira
Por pedir seu benefício
Num momento não propício
Fiz de mim um desperdício
Sem que a mim próprio eu queira

Vem desde adolescência
Meu sangue tão espesso
Por isso teço verso intenso
Pra fazer ordem e progresso
Ao inverso do que penso
Do que peco eu compenso
Por estar já muito imerso

Vou girando o terço tenso
O tornando uma espada
Como num conto de fada
Caço esse mostro imenso
Pra libertar a princesa amada
Festejar com minha família
Dar o monstro como presa
Para as garras da minha filha
E brindar com meus amigos
Que me ajudam com proeza
A me afastar desses perigos

Porém, a vocês eu lanço:
Não me esforço ou não alcanço?
Fosse a fossa um falso poço
Mesmo a força mais intensa
De um coço tão colosso
Não sairia nem com coça
Você mesmo sempre diz
Que não há ninguém que possa
Sair de toda essa joça
Sem fadar à diretriz
De amizades como a nossa

Mas saiba:
O que me deixou infeliz
Foi todo o mal
Que no bem se contradiz:
Se torcem, dão remorso
Põem berço, me contorço
Sem intenção, me lançam ao fosso
Por pouco, deixam-me a um triz
Antes fosse assim tão fácil
Na coerência e fala mansa
Com bom senso e paciência
Resolver a minha lambança
Minha bagunça na despensa

Não lhe peço condolência
Nem presença com veemência
Se em sua crença permanece
O nonsense da minha ausência
Em sua vil desconfiança

Pois nem tudo é o que parece
Mas fizeram da minha tosse
Um sinal de estar em posse
Sem sequer se ter prudência

Pra ter pulso e constância
Tal Virgulino no Cangaço
Na desgraça em iminência
Nessa ardência de percalços
Na vigência do que passo
Dos meus laços, me despeço
O que sou será lembrança

Camus fez estardalhaço
Em paz, jaz e já descansa
Sá versão que em mim morreu
Sobrou quem sou de preferência
Pro último ato ter relevância

Para que toda essa sofrência
Seja só passado meu

Que o futuro prometeu
Pra limar minha arrogância
Retirar minha inconstância
Restaurar-me cada membro

Vou reaver minha elegância
Fragrância que, nascida em julho
Com orgulho ainda lembro
Por guardar cada embrulho
Dos presentes que nos demos
Tão presentes quanto somos

Pois presentemente eu posso
Considerar-me um sujeito de sorte
Neste Norte em que deleito
Sem que em leito deite à morte

Sigo vivo e imperfeito
Num drama bem do gostinho que eu ajeito.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Bárbaros em Guerra

Neste clichê tão óbvio

Faço questão de expressar

Que me atiro pro seu mar

Seu olhar me deixa imóvel

Seu sorriso tão amável

Faz meu corpo fraquejar


A relação que me impõe

Pude enfim compreender

Só de ti recebo um tanto

Mesmo que eu deixe em poucos

Pois os outros são os outros

Depois de você


Nunca esqueça da certeza

Que à sua nobre realeza

Serei sempre um cavaleiro

Mato e morro em nossa Guerra

Pois você, ó minha alteza

Conquistou-me por inteiro


Libertou-me desta cela

Desde lá em fevereiro

Ao notar com mais clareza

Sua interna e externa

Maravilha de beleza

Que me deixa tão cabreiro